A Igreja-instituição como “casta meretriz”

          Quem acompanhou o noticiário dos últimos dias acerca dos escândalos dentro do Vaticano, trazidos ao conhecimento pelos jornais italianos “La Repubblica” e o “La Stampa”, referindo um relatório com trezentas páginas, elaborado por três Cardeais provectos sobre o estado da cúria vaticana deve, naturalmente, ter ficado estarrecido. Posso imaginar nossos irmãos e irmãs piedosos que, fruto de um tipo de catequese exaltatória do Papa como “o doce Cristo na Terra” devam estar sofrendo muito, pois amam o justo, o verdadeiro e o transparente e jamais quereriam ligar sua figura a notórios malfeitos de seus assistentes e cooperadores.
         O conteúdo gravíssimo destes relatórios reforçaram, no meu entender, a vontade do Papa de renunciar. Ai se comprovava uma atmosfera de promiscuidade, de luta de poder entre “monsignori”, de uma rede de homossexualismo gay dentro do Vaticano e desvio de dinheiro do Banco do Vaticano. Como se não bastassem os crimes de pedofilia em tantas dioceses que desmoralizaram profundamente a instituição-Igreja.
         Quem conhece um pouco a história da Igreja – e nós profissionais da área temos  que estuda-la detalhadamente- não se escandaliza. Houve épocas de verdadeiro descalabro do Pontificado com Papas adúlteros, assassinos e vendilhões. A partir do Papa Formoso (891-896) até o Papa Silvestre (999-1003) se instaurou segundo o grande historiador Card. Barônio a “era pornocrática” da alta hierarquia da Igreja. Poucos Papas escapavam de serem depostos ou assassinados. Sergio III (904-911) assassinou seus dois predecessores, o Papa Cristóvão e Leão V.
         A grande reviravolta na Igreja como um todo, aconteceu, com consequências para toda a história ulterior, com o Papa Gregório VII em 1077. Para defender seus direitos e a liberdade da instituição-Igreja contra reis e príncipes que a manipulavam, publicou um documento que leva este significativo título “Dictatus Papae” que literalmente traduzido significa “a Ditadura do Papa”. Por este documento, ele assumia todos os poderes, podendo julgar a todos sem ser julgado por ninguém. O grande historiador das idéias eclesiológicas Jean-Yves Congar, dominicano, considera a maior revolução acontecida na Igreja. De uma Igreja-comunidade passou a ser uma instituição-sociedade monárquica e absolutista, organizada de forma piramidal e que vem até os dias atuais
         Efetivamente, o cânon 331 do atual Direito Canônico se liga a esta compreensão, atribuindo ao Papa poderes que, na verdade, não caberiam a nenhum mortal, senão somente a Deus: ”Em virtude de seu ofício, o Papa tem o poder ordinário, supremo, pleno, imediato, universal” e em alguns casos precisos, “infalível”.
         Esse eminente teólogo, tomando a minha defesa face ao processo doutrinário movido pelo Card. Joseph Ratzinger em razão do livro “Igreja:carisma e poder” escreveu um artigo no “La Croix”(8/9/1984) sobre o “O carisma do poder central”. Ai escreve:”O carisma do poder central é não ter nenhuma dúvida. Ora, não ter nenhuma dúvida sobre si mesmo é, a um tempo, magnífico e terrível. É magnífico porque o carisma do centro consiste precisamente em permanecer firme quando tudo ao redor vacila. E é terrível porque em Roma estão homens que tem limites, limites em sua inteligência, limites em seu vocabulário, limites em suas referencias, limites no seu ângulo de visão”. E eu acrescentaria ainda limites em sua ética e moral.
         Sempre se diz que a Igreja é “santa e pecadora” e deve ser “sempre reformada”. Mas não é o que ocorreu durante séculos nem após o explícito desejo do Concílio Vaticano II e do atual Papa Bento XVI. A instituição mais velha do Ocidente incorporou privilégios, hábitos, costumes políticos palacianos e principescos, de resistência e de oposição que praticamente impediu ou distorceu todas as tentativas de reforma.
         Só que desta vez se chegou a um ponto de altíssima desmoralização, com práticas até criminosa que não podem mais ser negadas e que demandam mudanças fundamentais no aparelho de governo da Igreja. Caso contrário, este tipo de institucionalidade tristemente envelhecida e crepuscular definhará até entrar em ocaso. Os atuais escândalos sempre houveram na cúria vaticana apenas que não havia um providencial Vatileaks para  trazê-los a público e indignar o Papa e a maioria dos cristãos.
         Meu sentimento do mundo me diz que  estas perversidades no espaço do sagrado e no centro de referencia para toda a cristandade – o Papado – (onde deveria primar a virtude e até a santidade) são consequência desta centralização absolutista do poder papal.  Ele faz de todos vassalos, submissos  e ávidos por estarem fisicamente perto do portador do supremo poder, o Papa. Um poder absoluto, por sua natureza, limita e até nega a liberdade dos outros, favorece a criação de grupos de anti-poder, capelinhas de burocratas do sagrado contra outras, pratica  largamente a simonía que é compra e venda de vantagens, promove  adulações e destrói os mecanismos da transparência. No fundo, todos desconfiam de todos. E cada qual procura a satisfação pessoal da forma que melhor pode. Por isso, sempre foi problemática a observância do celibato dentro da cúria vaticana, como se está revelando agora com a existência de uma verdadeira rede de prostituição gay.
         Enquanto esse poder não se descentralizar e  não outorgar mais participação de todos os estratos do povo de Deus, homens e mulheres, na condução dos caminhos da Igreja o tumor causador desta enfermidade perdurará. Diz-se que Bento XVI passará a todos os Cardeais o referido relatório para cada um saber que problemas irá enfrentar caso seja eleito Papa. E a urgência que terá de introduzir radicais transformações. Desde o tempo da Reforma que se ouve o grito: ”reforma na Cabeça e nos membros”. Porque nunca aconteceu, surgiu  a Reforma como gesto desesperado dos reformadores de fazerem por própria conta tal empreendimento.
         Para ilustração dos cristãos e dos interessados em assuntos eclesiásticos, voltemos à questão dos escândalos. A intenção é desdramatizá-los, permitir que se tenha uma noção menos idealista e, por vezes, idolátrica da hierarquia e da figura do Papa e libertar a liberdade para a qual Cristo nos chamou (Galatas 5,1). Nisso não vai nenhum gosto pelo Negativo nem vontade de acrescentar desmoralização sobre desmoralização. O cristão tem que ser adulto, não pode se deixar infantilizar nem permitir que lhe neguem conhecimentos em teologia e em história para dar-se conta de quão humana e demasiadamente humana pode ser a instituição que nos vem dos Apóstolos.
         Há uma longa tradição teológica que se refere à Igreja como casta meretriz,  tema abordado detalhadamente por um grande teólogo, amigo do atual Papa, Hans Urs von Balthasar (ver em Sponsa Verbi,  Einsiedeln 1971, 203-305). Em várias ocasiões o teólogo J. Ratzinger se reportou a esta denominação.
A Igreja é uma meretriz que toda noite se entrega à prostituição; é casta  porque Cristo, cada manhã se compadece dela, a lava e a ama.
          O  habitus meretrius da instituição, o vício do meretrício, foi duramente criticado pelos Santos Padres da Igreja como Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e outros. São Pedro Damião chega a chamar o referido Gregório VII de “Santo Satanás” (D. Romag, Compêndio da história da Igreja, vol 2, Petrópolis 1950,p.112). Essa denominação dura nos remete àquela de Cristo dirigida a Pedro. Por causa de sua profissão de fé o chama “de pedra”mas por causa de sua pouca fé e de não entender os desígnios de Deus o qualificou de “Satanás”(Evangelho de Mateus 16,23). São Paulo parece um moderno falando quando diz a seus opositores com fúria: ”oxalá sejam castrados todos os que vos perturbam”(Gálatas 5.12).
         Há portanto, lugar para a profecia na Igreja e para a denúncias dos malfeitos que podem ocorrer no meio eclesiástico e também no meio dos fiéis.
         Vou referir outro exemplo tirado de um santo querido da maioria dos católicos brasileiros, por sua candura e bondade: Santo Antônio de Pádua. Em seus sermões, famosos na época, não se mostra  nada doce e gentil. Fez vigorosa crítica aos prelados devassos de seu tempo. Diz ele: “os bispos são cachorros sem nenhuma vergonha, porque sua frente tem cara de meretriz e por isso mesmo não querem criar vergonha”(uso a edição crítica em latim publicada em Lisboa em 2 vol em 1895). Isto foi proferido no sermão do quarto domingo depois de Pentecostes ( p. 278). De outra vez,  chama os prelados de “macacos no telhado, presidindo dai o povo de Deus”(op cit  p. 348).  E continua:” o bispo da Igreja é um escravo que pretende reinar, príncipe iniquo, leão que ruge, urso faminto de rapina que espolia o povo pobre”(p.348). Por fim na festa de São Pedro ergue a voz e denuncia:”Veja que Cristo disse três vezes: apascenta e nenhuma vez tosquia e ordenha… Ai daquele que não apascenta nenhuma vez e tosquia e ordena três ou mais vezes…ele é um dragão ao lado da arca do Senhor que não possui mais que aparência e não a verdade”(vol. 2, 918).
         O teólogo Joseph Ratzinger explica o sentido deste tipo de denúncias proféticas:” O sentido da profecia reside, na verdade, menos em algumas predições do que no protesto profético: protesto contra a auto-satisfação das instituições, auto-satisfação que substitui a moral pelo rito e a conversão pelas cerimônias” (Das neue Volk Gottes,  Düsseldorf 1969, p. 250, existe tradução português).
         Ratzinger critica com ênfase a separação que fizemos com referencia à figura de Pedro: antes da Páscoa, o traidor; depois de Pentecostes, o fiel. “Pedro continua vivendo esta tensão do antes e do depois; ele continua sendo as duas coisas: a pedra e o escândalo… Não aconteceu, ao largo de toda a história da Igreja, que o Papa, simultaneamente, foi o sucessor de Pedro, a “pedra” e o “escândalo”(p. 259)?
         Aonde queremos chegar com tudo isso? Queremos chegar ao reconhecimento de que a igreja- instituição de papas, bispos e padres, é feita de homens que podem trair, negar e fazer do poder religioso negócio e instrumento de autosatisfação. Tal reconhecimento é terapêutico, pois nos cura de toda uma ideologia idolátrica ao redor da figura do Papa, tido como praticamente infalível. Isso é visível em setores conservadores e fundamentalista de movimentos católicos leigos e também de grupos  de padres. Em alguns vigora uma verdadeira papolatria que Bento XVI procurou sempre evitar.
         A crise atual da Igreja  provocou a renúncia de um Papa que se deu conta de que não tinha mais o vigor necessário para sanar escândalos de tal gravidade. “Jogou a toalha” com humildade. Que outro mais jovem venha a assuma a tarefa árdua e dura de limpar a corrupção da cúria romana e do universo dos pedófilos, eventualmente puna, deponha e envie alguns mais renitentes para algum convento para fazer penitência e se emendar de vida.
         Só quem ama a Igreja pode fazer-lhe as críticas que lhe fizemos, citando textos de autoridade clássicas do passado. Quem deixou de amar a pessoa um dia amada, se torna indiferente à sua vida e destino. Nós nos interessamos à semelhança do amigo e  de irmão de tribulação Hans Küng, (foi condenado pela ex-Inquisição) talvez um dos teólogos  que mais ama a Igreja e por isso a critica.
         Não queremos que cristãos cultivem este sentimento de  de descaso e de indiferença. Por piores que tenham sido seus erros e equívocos históricos, a instituição-Igreja guarda a memória sagrada de Jesus e a gramática dos evangelhos. Ela prega libertação, sabendo que geralmente são outros que libertam e não ela.
          Mesmo assim vale estar dentro dela, como estavam São Francisco, Dom Helder Câmara, João XXIII e os notáveis teólogos que ajudaram a fazer o Concílio Vaticano II e que antes haviam sido todos condenados pela ex-Inquisição, como De Lubac, Chenu, Congar,  Rahner e outros. Cumpre  ajuda-la a sair deste embaraço, alimentando-nos mais do sonho de Jesus de um Reino de justiça, de paz e de reconciliação com Deu e do seguimento de sua causa e destino do que de simples e justificada indignação que pode cair facilmente no farisaísmo e no moralismo.
Leonardo Boff

Mais reflexões desta ordem se encontram no meu Igreja: carisma e poder  (Record 2005) especialmente no Apêndice com todas a atas do processo havido no interior da ex-Inquisição em 1984.

63 comentários sobre “A Igreja-instituição como “casta meretriz”

  1. Ele respondeu:
    Vozes d’África, de Castro Alves

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    Castro Alves foi um jovem entusiasmado pelas grandes causas da liberdade e da justiça. A campanha contra a escravatura lhe inspirou Vozes d’África (1868) e O Navio Negreiro (1869).

    Ele, como ninguém, impingiu os acentos da poesia ao exprimir a dor de todo um continente em Vozes d’África, poema de estilo épico, que pertence ao livro Escravos. O autor, divergindo do indianismo, passou à História como o poeta dos escravos, ao criar poemas abolicionistas como este.

    Vozes d’África, o último dos mais importantes poemas que o poeta escreveu em São Paulo, para os escravos, é uma alegoria do pungente destino da raça africana, vista não já através de um navio negreiro, mas em seu próprio e vastíssimo habitat. É uma doce prosopopéia em que a África narra suas desgraças e impetra a misericórdia divina, portanto, o eu-lírico, neste poema, é a África, que se queixa a Deus pela desventura de ver seus filhos arrebatados do solo pátrio para serem escravizados, e lançados ao desamparo. É soberba apóstrofe do continente escravizado, a implorar justiça de Deus. O que indignava o poeta era ver que o Novo Mundo, “talhado para as grandezas, pra crescer, criar, subir”, a América, que conquistara a liberdade com formidável heroísmo, se manchava no mesmo crime da Europa.

    VOZES D’ÁFRICA

    Deus! ó Deus! onde estás que não respondes?
    Em que mundo, em qu’estrela tu t’escondes
    Embuçado nos céus?
    Há dois mil anos te mandei meu grito,
    Que embalde desde então corre o infinito…
    Onde estás, Senhor Deus?…

    Qual Prometeu tu me amarraste um dia
    Do deserto na rubra penedia
    — Infinito: galé!…
    Por abutre — me deste o sol candente,
    E a terra de Suez — foi a corrente
    Que me ligaste ao pé…

    O cavalo estafado do Beduíno
    Sob a vergasta tomba ressupino
    E morre no areal.
    Minha garupa sangra, a dor poreja,
    Quando o chicote do simoun dardeja
    O teu braço eternal.

    Minhas irmãs são belas, são ditosas…
    Dorme a Ásia nas sombras voluptuosas
    Dos haréns do Sultão.
    Ou no dorso dos brancos elefantes
    Embala-se coberta de brilhantes
    Nas plagas do Hindustão.

    Por tenda tem os cimos do Himalaia…
    Ganges amoroso beija a praia
    Coberta de corais …
    A brisa de Misora o céu inflama;
    E ela dorme nos templos do Deus Brama,
    — Pagodes colossais…

    A Europa é sempre Europa, a gloriosa!…
    A mulher deslumbrante e caprichosa,
    Rainha e cortesã.
    Artista — corta o mármor de Carrara;
    Poetisa — tange os hinos de Ferrara,
    No glorioso afã!…

    Sempre a láurea lhe cabe no litígio…
    Ora uma c’roa, ora o barrete frígio
    Enflora-lhe a cerviz.
    Universo após ela — doudo amante
    Segue cativo o passo delirante
    Da grande meretriz.
    ………………………………

    Mas eu, Senhor!… Eu triste abandonada
    Em meio das areias esgarrada,
    Perdida marcho em vão!
    Se choro… bebe o pranto a areia ardente;
    talvez… p’ra que meu pranto, ó Deus clemente!
    Não descubras no chão…

    E nem tenho uma sombra de floresta…
    Para cobrir-me nem um templo resta
    No solo abrasador…
    Quando subo às Pirâmides do Egito
    Embalde aos quatro céus chorando grito:
    “Abriga-me, Senhor!…”

    Como o profeta em cinza a fronte envolve,
    Velo a cabeça no areal que volve
    O siroco feroz…
    Quando eu passo no Saara amortalhada…
    Ai! dizem: “Lá vai África embuçada
    No seu branco albornoz… ”

    Nem vêem que o deserto é meu sudário,
    Que o silêncio campeia solitário
    Por sobre o peito meu.
    Lá no solo onde o cardo apenas medra
    Boceja a Esfinge colossal de pedra
    Fitando o morno céu.

    De Tebas nas colunas derrocadas
    As cegonhas espiam debruçadas
    O horizonte sem fim …
    Onde branqueia a caravana errante,
    E o camelo monótono, arquejante
    Que desce de Efraim
    …………………………………

    Não basta inda de dor, ó Deus terrível?!
    É, pois, teu peito eterno, inexaurível
    De vingança e rancor?…
    E que é que fiz, Senhor? que torvo crime
    Eu cometi jamais que assim me oprime
    Teu gládio vingador?!
    ………………………………….

    Foi depois do dilúvio… um viadante,
    Negro, sombrio, pálido, arquejante,
    Descia do Arará…
    E eu disse ao peregrino fulminado:
    “Cam! … serás meu esposo bem-amado…
    — Serei tua Eloá. . . ”

    Desde este dia o vento da desgraça
    Por meus cabelos ululando passa
    O anátema cruel.
    As tribos erram do areal nas vagas,
    E o nômade faminto corta as plagas
    No rápido corcel.

    Vi a ciência desertar do Egito…
    Vi meu povo seguir — Judeu maldito —
    Trilho de perdição.
    Depois vi minha prole desgraçada
    Pelas garras d’Europa — arrebatada —
    Amestrado falcão! …

    Cristo! embalde morreste sobre um monte
    Teu sangue não lavou de minha fronte
    A mancha original.
    Ainda hoje são, por fado adverso,
    Meus filhos — alimária do universo,
    Eu — pasto universal…

    Hoje em meu sangue a América se nutre
    Condor que transformara-se em abutre,
    Ave da escravidão,
    Ela juntou-se às mais… irmã traidora
    Qual de José os vis irmãos outrora
    Venderam seu irmão.

    Basta, Senhor! De teu potente braço
    Role através dos astros e do espaço
    Perdão p’ra os crimes meus!
    Há dois mil anos eu soluço um grito…
    escuta o brado meu lá no infinito,
    Meu Deus! Senhor, meu Deus!!…

    São Paulo, 11 de junho de 1868

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  2. Caramba! No outro post respondi uma crítica de um comentarista de nome José e não imaginava que aquilo que eu disse a ele fosse de alguma forma apresentado neste texto. Minha resposta ao Sr. José contém muito do que aqui está escrito, e olha que não tinha a menor ideia do conteúdo deste. Coincidência ou sincronicidade? Não sei! Acredito que seja apenas um insight de um cristão convicto que, não obstante, compreender a igreja como imperfeita, sofre com os vícios e contradições que vem ofuscando sua parte santa.
    L. Boff: mais um texto primoroso. Show!

    Em tempo: O tal do José ao ler este texto vai cortar os pulsos…

    Abraços Gilson A. Barbosa

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  3. Amei! Às vezes, eu penso que vou longe nos meus posicionamentos.Mas percebo,
    que, quando leio alguém como o senhor, que tem conhecimento de causa, vejo que
    as minhas leituras e observações e estudos são reais. P
    preciso reler Igreja:carisma e poder.
    Se o Vaticano falasse…Como conseguem dormir em paz?

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  4. Quando o papa se auto – intitula infalível, colocar humanidade que há no ser humano por terra, isto porque, só podemos ver como infalível o senhor de nossas vidas, ou seja, só ao Senhor Jesus Cristo, cabe esse titulo.

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    • A infalibilidade papal não tem a ver com o lado humano do Papa, por si só. Ela existe tão somente na situação de o Papa proclamar um dogma solenemente. Apenas aí se insere a infalibilidade.

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  5. Até onde vai o homossexualismo. Observa-se a perspicácia que essa praga procura por funções de vanguarda de público como fator de pescaria e aproximação de pessoas, tais como professores, padres, e qualquer outra função que trate com gente. Não estão nem aí para a moral religiosa, a não ser dar expansão a seus sentimentos carnais, custe o que custar. E uma praga do inferno.

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  6. Leonardo, revejo-me no teu texto e neste amor pela Igreja que se quer mais apostólica, o cristão deve ser mais ativo nesta denuncia do pecado nos irmãos que gerem a vida prática da instituição. Eu próprio quando me envolvi com mais responsabilidade na minha paróquia exigi para mim essa correção fraterna no meu pecado e a denuncia por faltar à caridade e à imagem de Cristo. Tal transparência e os sinais de irmandade com os mais fracos que exigia a mim próprio cedo incomodaram os que viam a Igreja como pirâmide e lugar de promoção pessoal. Este é um problema em quase todas as paróquias mas me entristece ver que os padres e hierarquia pactuam com esta visão elitista e menosprezam quem pensa por si em oração com Deus e ao mesmo tempo opta pela pobreza.

    Leonardo, deixo-lhe algumas perguntas. Acha que o Papa Bento foi mais, ou foi menos conservador que João Paulo II? Qual dos dois contribui mais para terminar com a visão feudalista que infelizmente ainda reina na Igreja e lutou contra os cancros interiores da cúria?

    Que cardeal terá esta força para melhorar a imagem da Igreja e fazer esta revolução fraterna? Pode apontar alguns nomes?

    Obrigado e abraço em Cristo!

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  7. Vê-lo cada vez mais fiel as suas convicções é animador. Como essa hipocrisia, o jogo do esconde-esconde,do
    poder exacerbado da Igreja irrita e enoja. Os Borgias deixaram muitos seguidores, não? Abraços de uma admiradora.

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  8. Interessante! As palavras de Leonardo Boff no texto acima chegam num momento em que todos estão perplexos diante da atitude inusitada que o papa adotou. E tais palavras parece-me que confirmam o que alguns já supunham, enquanto outros, insistem em se fazer de sonsos não querendo saber do óbvio. Ao menos para mim é claro que a renúncia de Bento XVI tem nada a ver com idade: afinal ele já sabia que estava em idade avançada quando se candidatou ao cargo. O que bem provavelmente não sabia é que as coisas estavam do jeito que estão, e, justamente por isto, acredito que “se tocou” e “caiu fora”, talvez até numa atitude pensada de protesto. Resta ver se o próximo papa vai dar continuidade ao que está, ainda que “veladamente”, instituído, ou, se promoverá as reformas necessárias, inclusive reconhecendo o valor da Teologia da Libertação…

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  9. Crítica muito lúcida, Prof. Leonardo, apenas gostaria de externar meu ponto de vista em relação a um dos primeiros parágrafos de seu texto, pedindo desculpas se o mal intepreto.

    Creio que a presença de sacerdotes homossexuais no seio da Igreja não configura qulquer crime hediondo, como, repito, a meu ver fica sugerido em elencar uma “rede de homossexualismo gay” junto a tantos outros deslises da Santa Sé.

    O sacerdócio romano é composto por um recorte da família humana e, naturalmente, irá possuir em seu meio homens diversos, inclusive em matéria de sexualidade. O terrível não é haver sacerdotes gays, dada ser esta uma expressão de sexualidade humana. O hediondo é tornar um espaço de conversão ao Sagrado em recinto de prostituição, quer seja homossexual ou heterossexual, como muito amiúde ocorre, igualmente.

    Peço escusas novamente se exponho interpretação equivocada do referido parágrafo, mas achei por bem trazer esta problematização, sem qualquer anseio de polemização.

    Na fé,

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  10. Todo dia se limpa uma casa, e todo dia a sujeira volta, isso não quer dizer que temos que arrancar o chão, mas continuar a varrer. Que DEUS dê sabedoria.

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  11. Por que não ir na origem da pedofilia, que é exatamente o celibato tão preconizado dos padres? Por que será que tem tanta pedofilia justamente entre os padres católicos?
    É porque o celibato é exatamente algo anti natural, medieval, absurdo, mas que foi sempre defendido como exemplo de pureza e dedicação ao sacerdócio. Está mais do que na hora da Igreja encarar o celibato de frente. Nem Jesus foi provavelmente um celibatário, pois não teria sido seguido nem respeitado pelos antigos judeus; os judeus bem sabem disso…

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    • Alexandre, se a pedofilia está ligada ao celibato, como o senhor explica os casos de pedofilia envolvendo homens casados (veja os noticiários na mídia que inclusive) ?????? Por acaso acredita que o próprio Jesus Cristo nos deixou um modo de vida tão perverso e que São Paulo ainda apoiaria algo capaz de perverter o ser humano numa besta fera?
      A sim, já estás até a duvidar da própria palavra de Deus, bem vês onde vai chegar!!!!!

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  12. Prezado teólogo Leonardo Boff, paz! Gostaria de entender, como Pedro é a “pedra” que foi fundada a Igreja. Todo o AT mostra que a pedra não se referia a homens, sim a Deus (Isaías 28.16; Sl 118.22) O próprio Pedro, disse que Jesus é a pedra, não ele (Atos 4.1, 12); Paulo corroborou (1 Co 3.11). Pedro, não aceitou a veneração de homens (Atos 10.26)

    Outro detalhe; A palavra ROMA, aparece 9 x na Bíblia e em nenhuma delas faz menção à Pedro. Não há nenhuma menção na Bíblia do bispado de Pedro em Roma. Se Pedro fosse Papa da igreja de Roma por que Paulo diz que não costumava edificar sobre o fundamento de outrem: “esforçando-me deste modo por pregar o evangelho, não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio” (Rm 15:20)? Por fim, se Pedro foi bispo de Roma, por quê não visitou Paulo, quando este esteve preso em Roma (61- 63 d.C)?

    Ficarei muito agradecido, se explicasse estes questionamentos.

    Nele que É, Marcelo

    P.s>> Em tempo: Deixo uma frase de Lord Acton: “O poder tende a corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente”.

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  13. Caro Leonardo Boff, seu texto é esclarecedor e ao mesmo tempo elegante no final.Admiro sua dedicação á verdade que Jesus Cristo nos revelou e apesar do ABSURDO em que vivemos dentro e fora da Igreja, como instituição vamos encontrar a Comum União de todos os viventes, motivados pela ternura, solidariedade e respeito recíproco.Muito obrigada por suas palavras . Ainda sou cristã , católica e com a graça de Deus pretendo caminhar na fé, na Esperança e naturalmente fazendo meu MELHOR esforço para a caridade.um abraço mineiro. Ana maria de Carvalho

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  14. Caro Leonardo Boff, seus textos são tão profundos e verdadeiros e mexem profundamente com meus sentimentos.
    Tudo que escreve apenas confirma a fragilidade do caráter humano.
    Observando fatos em nossas paróquias, nós os fiéis, temos motivos de sobra para desacreditar da igreja.
    Meu primeiro emprego, foi numa paróquia, e sinceramente, naquela época aos 14 anos,percebi que Deus não estava lá…pois os homens que deveriam representá-lo tinham esquecido seu papel nesta história…estavam loucos por dinheiro…
    Por um bom tempo me afastei, pois a hiprocrisia era um insulto forte demais para se tolerar.
    Daí, ainda bem jovem, entendi, que não há ninguém santo, isto é uma bobagem que inventaram para castrar o ser humano e até de impedi-lo de aproximar-se de Deus.
    A igreja é prepotente, castradora, não me acrescentou nada, me fez questionar que tanta coisa inútil não poderia ser, do Ser causador de todas as coisas…
    Como o Deus apresentado pela igreja era pequeno e cruel, fui buscá-lo em minhas longas conversas e viagens espirituais e minha Fé se consolidou!
    Quem media este entendimento é a Fé!
    Fé é experiência pessoal.
    Percebo que muitos…muitos padres não alcançaram ainda este prazer em Cristo!
    Creio que Deus é amor absoluto por sobre os homens e que não precisa de nenhuma instituição que o represente…mas a humanidade precisa de uma bússola…uma bússola …não algo que a desoriente ainda mais, que promova a descrença…

    Busquei Jesus na Fé!
    Aproximei-me mais e mais da essência de Deus através de Jesus, Ele ouviu minhas inquietações e me amou como um Pai ama um filho, eu sinto isto de todo meu coração de todo o meu ser.
    Posso sentir o gozo espiritual de um Deus de amor, que cura nossas chagas, e estou ligada a Ele sem nenhuma interseção humana…eu e meu Pai!
    E quando lhe falo isto, Caro Boff, neste exato momento, meu coração queima de contentamento!
    Frequento a missa aos domingos, e me entrego na hora suprema da consagração, sou encantada com este ritual que relembra o amor supremo de Jesus…
    E já me repreederam:
    – Você não está autorizada a tomar a comunhão, pois é divorciada, foi o que me disseram, acredita?
    Me faz muito bem ouvir a palavra dos celebrantes, que em muito supera a palavra do padre…ficava intrigada, mas venhamos:
    Penso que os sentimentos de ganância e poder, cega os homens que compõe a igreja, por isto são tão rasos e limitados.
    Tenho profunda piedade, pois um dia deverão estar diante de Deus e lhe entregar o fruto deste trabalho: pedofilia, promiscuidade, ostentação, ganância…colocarão isto no altar do Senhor?
    Se agem desta forma, com certeza nunca, nunca tiveram um momento de prazer espiritual na presença do Espirito Santo, ou não brincariam …
    Não quero questionar muito mais, preciso agradecer ao meu Pai, o que fez por mim.
    Pedi a Deus que me cegasse a estas chagas vergonhosas que escorrem pus, nesta instituição que deveria ser sagrada, e coloquei-me a serviço da igreja.
    Amanhã começo uma etapa nova em minha vida, depois de 30 anos dedicada a educação, estou indo para a igreja.
    Serei catequista, e pretendo falar aos jovens, sobre a importância da nossa conduta de vida para nos aproximarmos de Deus.
    Só quero que muitos e muitos jovens possam entrar em contato com o Pai que conheço e que me resgatou das armadilhas humanas e me concedeu a dignidade e autonomia que que gozo hoje.
    Caro Boff, torça por mim, apesar da igreja, estou saindo a serviço de Deus!

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  15. Realmente a admiração que tenho por ti, não me deixa cair no obscurantismo do ateísmo, pois você apascenta o meu espirito e quase responde as minhas dúvidas do real sentido da igreja. O meu ideal de Igreja está bem próximo do seu, mas minha fé no ser humano é pouca.
    Pra mim a Igreja é um Estado com uma monarquia absolutista, onde só se diferencia deste porque o poder não é hereditário.

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  16. […]   de Diógenes Afonso     Quem acompanhou o noticiário dos últimos dias acerca dos escândalos dentro do Vaticano, trazidos ao conhecimento pelos jornais italianos “La Repubblica” e o “La Stampa”, referindo um relatório com trezentas páginas, elaborado por três Cardeais provectos sobre o estado da cúria vaticana deve, naturalmente, ter ficado estarrecido. Posso imaginar nossos irmãos e irmãs piedosos que, fruto de um tipo de catequese exaltatória do Papa como “o doce Cristo na Terra” devam estar sofrendo muito, pois amam o justo, o verdadeiro e o transparente e jamais quereriam ligar sua figura a notórios malfeitos de seus assistentes e cooperadores.   O conteúdo gravíssimo destes relatórios reforçaram, no meu entender, a vontade do Papa de renunciar. Ai se comprovava uma atmosfera de promiscuidade, de luta de poder entre “monsignori”, de uma rede de homossexualismo gay dentro do Vaticano e desvio de dinheiro do Banco do Vaticano. Como se não bastassem os crimes de pedofilia em tantas dioceses que desmoralizaram profundamente a instituição-Igreja.   Quem conhece um pouco a história da Igreja – e nós profissionais da área temos  que estuda-la detalhadamente- não se escandaliza. Houve épocas de verdadeiro descalabro do Pontificado com Papas adúlteros, assassinos e vendilhões. A partir do Papa Formoso (891-896) até o Papa Silvestre (999-1003) se instaurou segundo o grande historiador Card. Barônio a “era pornocrática” da alta hierarquia da Igreja. Poucos Papas escapavam de serem depostos ou assassinados. Sergio III (904-911) assassinou seus dois predecessores, o Papa Cristóvão e Leão V.   A grande reviravolta na Igreja como um todo, aconteceu, com consequências para toda a história ulterior, com o Papa Gregório VII em 1077. Para defender seus direitos e a liberdade da instituição-Igreja contra reis e príncipes que a manipulavam, publicou um documento que leva este significativo título “Dictatus Papae” que literalmente traduzido significa “a Ditadura do Papa”. Por este documento, ele assumia todos os poderes, podendo julgar a todos sem ser julgado por ninguém. O grande historiador das idéias eclesiológicas Jean-Yves Congar, dominicano, considera a maior revolução acontecida na Igreja. De uma Igreja-comunidade passou a ser uma instituição-sociedade monárquica e absolutista, organizada de forma piramidal e que vem até os dias atuais.   Efetivamente, o cânon 331 do atual Direito Canônico se liga a esta compreensão, atribuindo ao Papa poderes que, na verdade, não caberiam a nenhum mortal, senão somente a Deus: ”Em virtude de seu ofício, o Papa tem o poder ordinário, supremo, pleno, imediato, universal” e em alguns casos precisos, “infalível”.   Esse eminente teólogo, tomando a minha defesa face ao processo doutrinário movido pelo Card. Joseph Ratzinger em razão do livro “Igreja:carisma e poder” escreveu um artigo no “La Croix”(8/9/1984) sobre o “O carisma do poder central”. Ai escreve:”O carisma do poder central é não ter nenhuma dúvida. Ora, não ter nenhuma dúvida sobre si mesmo é, a um tempo, magnífico e terrível. É magnífico porque o carisma do centro consiste precisamente em permanecer firme quando tudo ao redor vacila. E é terrível porque em Roma estão homens que tem limites, limites em sua inteligência, limites em seu vocabulário, limites em suas referencias, limites no seu ângulo de visão”. E eu acrescentaria ainda limites em sua ética e moral.   Sempre se diz que a Igreja é “santa e pecadora” e deve ser “sempre reformada”. Mas não é o que ocorreu durante séculos nem após o explícito desejo do Concílio Vaticano II e do atual Papa Bento XVI. A instituição mais velha do Ocidente incorporou privilégios, hábitos, costumes políticos palacianos e principescos, de resistência e de oposição que praticamente impediu ou distorceu todas as tentativas de reforma.   Só que desta vez se chegou a um ponto de altíssima desmoralização, com práticas até criminosa que não podem mais ser negadas e que demandam mudanças fundamentais no aparelho de governo da Igreja. Caso contrário, este tipo de institucionalidade tristemente envelhecida e crepuscular definhará até entrar em ocaso. Os atuais escândalos sempre houveram na cúria vaticana apenas que não havia um providencial Vatileaks para  trazê-los a público e indignar o Papa e a maioria dos cristãos.   Meu sentimento do mundo me diz que  estas perversidades no espaço do sagrado e no centro de referencia para toda a cristandade – o Papado – (onde deveria primar a virtude e até a santidade) são consequência desta centralização absolutista do poder papal.  Ele faz de todos vassalos, submissos  e ávidos por estarem fisicamente perto do portador do supremo poder, o Papa. Um poder absoluto, por sua natureza, limita e até nega a liberdade dos outros, favorece a criação de grupos de anti-poder, capelinhas de burocratas do sagrado contra outras, pratica  largamente a simonía que é compra e venda de vantagens, promove  adulações e destrói os mecanismos da transparência. No fundo, todos desconfiam de todos. E cada qual procura a satisfação pessoal da forma que melhor pode. Por isso, sempre foi problemática a observância do celibato dentro da cúria vaticana, como se está revelando agora com a existência de uma verdadeira rede de prostituição gay.   Enquanto esse poder não se descentralizar e  não outorgar mais participação de todos os estratos do povo de Deus, homens e mulheres, na condução dos caminhos da Igreja o tumor causador desta enfermidade perdurará. Diz-se que Bento XVI passará a todos os Cardeais o referido relatório para cada um saber que problemas irá enfrentar caso seja eleito Papa. E a urgência que terá de introduzir radicais transformações. Desde o tempo da Reforma que se ouve o grito: ”reforma na Cabeça e nos membros”. Porque nunca aconteceu, surgiu  a Reforma como gesto desesperado dos reformadores de fazerem por própria conta tal empreendimento.   Para ilustração dos cristãos e dos interessados em assuntos eclesiásticos, voltemos à questão dos escândalos. A intenção é desdramatizá-los, permitir que se tenha uma noção menos idealista e, por vezes, idolátrica da hierarquia e da figura do Papa e libertar a liberdade para a qual Cristo nos chamou (Galatas 5,1). Nisso não vai nenhum gosto pelo Negativo nem vontade de acrescentar desmoralização sobre desmoralização. O cristão tem que ser adulto, não pode se deixar infantilizar nem permitir que lhe neguem conhecimentos em teologia e em história para dar-se conta de quão humana e demasiadamente humana pode ser a instituição que nos vem dos Apóstolos.   Há uma longa tradição teológica que se refere à Igreja como casta meretriz,  tema abordado detalhadamente por um grande teólogo, amigo do atual Papa, Hans Urs von Balthasar (ver em Sponsa Verbi,  Einsiedeln 1971, 203-305). Em várias ocasiões o teólogo J. Ratzinger se reportou a esta denominação. A Igreja é uma meretriz que toda noite se entrega à prostituição; é casta  porque Cristo, cada manhã se compadece dela, a lava e a ama.   O  habitus meretrius da instituição, o vício do meretrício, foi duramente criticado pelos Santos Padres da Igreja como Santo Ambrósio, Santo Agostinho, São Jerônimo e outros. São Pedro Damião chega a chamar o referido Gregório VII de “Santo Satanás” (D. Romag, Compêndio da história da Igreja, vol 2, Petrópolis 1950,p.112). Essa denominação dura nos remete àquela de Cristo dirigida a Pedro. Por causa de sua profissão de fé o chama “de pedra”mas por causa de sua pouca fé e de não entender os desígnios de Deus o qualificou de “Satanás”(Evangelho de Mateus 16,23). São Paulo parece um moderno falando quando diz a seus opositores com fúria: ”oxalá sejam castrados todos os que vos perturbam”(Gálatas 5.12).   Há portanto, lugar para a profecia na Igreja e para a denúncias dos malfeitos que podem ocorrer no meio eclesiástico e também no meio dos fiéis.   Vou referir outro exemplo tirado de um santo querido da maioria dos católicos brasileiros, por sua candura e bondade: Santo Antônio de Pádua. Em seus sermões, famosos na época, não se mostra  nada doce e gentil. Fez vigorosa crítica aos prelados devassos de seu tempo. Diz ele: “os bispos são cachorros sem nenhuma vergonha, porque sua frente tem cara de meretriz e por isso mesmo não querem criar vergonha”(uso a edição crítica em latim publicada em Lisboa em 2 vol em 1895). Isto foi proferido no sermão do quarto domingo depois de Pentecostes ( p. 278). De outra vez,  chama os prelados de “macacos no telhado, presidindo dai o povo de Deus”(op cit  p. 348).  E continua:” o bispo da Igreja é um escravo que pretende reinar, príncipe iniquo, leão que ruge, urso faminto de rapina que espolia o povo pobre”(p.348). Por fim na festa de São Pedro ergue a voz e denuncia:”Veja que Cristo disse três vezes: apascenta e nenhuma vez tosquia e ordenha… Ai daquele que não apascenta nenhuma vez e tosquia e ordena três ou mais vezes…ele é um dragão ao lado da arca do Senhor que não possui mais que aparência e não a verdade”(vol. 2, 918).   O teólogo Joseph Ratzinger explica o sentido deste tipo de denúncias proféticas:” O sentido da profecia reside, na verdade, menos em algumas predições do que no protesto profético: protesto contra a auto-satisfação das instituições, auto-satisfação que substitui a moral pelo rito e a conversão pelas cerimônias” (Das neue Volk Gottes,  Düsseldorf 1969, p. 250, existe tradução português).   Ratzinger critica com ênfase a separação que fizemos com referencia à figura de Pedro: antes da Páscoa, o traidor; depois de Pentecostes, o fiel. “Pedro continua vivendo esta tensão do antes e do depois; ele continua sendo as duas coisas: a pedra e o escândalo… Não aconteceu, ao largo de toda a história da Igreja, que o Papa, simultaneamente, foi o sucessor de Pedro, a “pedra” e o “escândalo”(p. 259)?   Aonde queremos chegar com tudo isso? Queremos chegar ao reconhecimento de que a igreja- instituição de papas, bispos e padres, é feita de homens que podem trair, negar e fazer do poder religioso negócio e instrumento de autosatisfação. Tal reconhecimento é terapêutico, pois nos cura de toda uma ideologia idolátrica ao redor da figura do Papa, tido como praticamente infalível. Isso é visível em setores conservadores e fundamentalista de movimentos católicos leigos e também de grupos  de padres. Em alguns vigora uma verdadeira papolatria que Bento XVI procurou sempre evitar.   A crise atual da Igreja  provocou a renúncia de um Papa que se deu conta de que não tinha mais o vigor necessário para sanar escândalos de tal gravidade. “Jogou a toalha” com humildade. Que outro mais jovem venha a assuma a tarefa árdua e dura de limpar a corrupção da cúria romana e do universo dos pedófilos, eventualmente puna, deponha e envie alguns mais renitentes para algum convento para fazer penitência e se emendar de vida.   Só quem ama a Igreja pode fazer-lhe as críticas que lhe fizemos, citando textos de autoridade clássicas do passado. Quem deixou de amar a pessoa um dia amada, se torna indiferente à sua vida e destino. Nós nos interessamos à semelhança do amigo e  de irmão de tribulação Hans Küng, (foi condenado pela ex-Inquisição) talvez um dos teólogos  que mais ama a Igreja e por isso a critica.             Não queremos que cristãos cultivem este sentimento de  de descaso e de indiferença. Por piores que tenham sido seus erros e equívocos históricos, a instituição-Igreja guarda a memória sagrada de Jesus e a gramática dos evangelhos. Ela prega libertação, sabendo que geralmente são outros que libertam e não ela.   Mesmo assim vale estar dentro dela, como estavam São Francisco, Dom Helder Câmara, João XXIII e os notáveis teólogos que ajudaram a fazer o Concílio Vaticano II e que antes haviam sido todos condenados pela ex-Inquisição, como De Lubac, Chenu, Congar,  Rahner e outros. Cumpre  ajuda-la a sair deste embaraço, alimentando-nos mais do sonho de Jesus de um Reino de justiça, de paz e de reconciliação com Deu e do seguimento de sua causa e destino do que de simples e justificada indignação que pode cair facilmente no farisaísmo e no moralismo.    Por Leonardo Boff     Mais reflexões desta ordem se encontram no meu Igreja: carisma e poder  (Record 2005) especialmente no Apêndice com todas a atas do processo havido no interior da ex-Inquisição em 1984.   Leonardo Boff.com […]

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  17. Cada um faz a sua missão do seu jeito. Nem Jesus tem agradado a todos. Busco viver na autenticidade e viver minha fé recebida com humildade dos meus pais. Não pretendo ser Papa e nem desvalorizar os humanos que exercem sua missao com fragilidade. Pois, tenho bastante fragilidades. Quando descobrimos algo novo da igreja, precisamos ser humildes sem jogar fora a historia contruida com o suor de muitas pessoas. É tem de refletir e ter amor pela Igreja.

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  18. Caro Leonardo, neste momento onde a minha aflição ia do sagrado a ciência da ciência ao quotidiano de minha militância, ou missão dos diversos conflitos vividos em comunidade no dia a dia, isto vem como um refrigério, pois é no próprio cristo que devemos fundamentar a nossa fé para fazer o seu caminhar, é este esvaziamento de todas as coisas que nos mutilaram até hoje e deste novo renascer em cristo que precisamos está saciados, mesmo sabendo e compreendendo toda a história vivida por nossos irmãos vulneráveis a todas aquelas questões citada a cima dos poderes humanos, que nos remete ao egoísmo e da não vivencia em cristo.Isto me fortalece naquilo que o espírito Santo está me convidado a fazer, mergulhar em águas mais profundas, sem temor apenas alimentada pela fé, em nosso mestre criador da nossa igreja povo, com todo poder vindo do universo, onisciente e onipotente em sabedoria divina.
    Obrigada Sr. Leonardo, vamos continuar nosso diálogo, para fazer o trabalho esperado por nosso mestre maior, aquele que nasceu em uma manjedoura, porque não havia lugar nas estalagens,imagine hoje,neste novo mundo.

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  19. Prezado L Boff, também continuo amando a Igreja pelo que ela representa nos ensinamentos evangélicos, mas torço pra algum pensador teólogo daí de cima pra que tome a liderança pra emancipar a Igreja Latino America de Roma, ou ao menos os católicos que desejam uma Igreja transparente, democrática e libertadora. Eu estou nessa!

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  20. … meu caro ex-futuro colega Leonardo boff, o meu curso de teologia foi recheado de depoimentos desse gênero e tínhamos como líder um dom de Deus, helder câmara… de fato, a câmara da resistência… ele dispensava o Dom + e outros rótulos e, por isso mesmo, era a nossa referência maior.Anos, após, eu também já liberto das garras hierárquicas, casado e muito feliz com a minha família, (para desgosto de alguns menos esclarecidos), diante dos insultos… eu me referia a Leonardo Boff, assim como outras referências de autenticidade. Ao lado disso, quando persistiam nas provocações eu declinava feito… fero fers tuli latum ferre ou qui quae quod (que nada têm a ver com tendenciosas traduções pela sonoridade das palavras)… superado o momento de gelo, jamais deixei de reportar as mazelas daqueles que se portavam como santos, a quem Cristo se referia como sepulcros caiados… tenho essa convicção de que não pode haver ANÚNCIO SEM DENÚNCIA, COMO NÃO SE PODE CONSTRUIR SOBRE RUÍNAS OU LIXO…e com isso,.para perplexidade de muitos, no outro dia lá estava eu na fila da comunhão…. erguendo a cabeça, contra os olhares maldosos dos “santos de pau oco”, nesse episódio, contrabandistas da hierárquica meretriz comadresca e inquisidora da facção inocentemente perversa ou perversamente inocente… Deus seja louvado… com isso tudo, fico a pensar que a instituição da igreja sacramento de Cristo é realmente verdadeira posto que ainda não conseguiram acabar com ela, apesar de todas as hierárquicas hipocrisias…internas… de interesses pessoais e de grupos mesquinhos do alto escalão, traindo o evangelho de Jesus Cristo. Um grande abraço desse seu irmão de ideal que sempre lê seus testemunhos formidáveis!

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  21. Quando a verdade se cala e o poder ascende de forma ditatorial e imprescíndivel não há como ter ordem e afeto aos congregados, embora muito tem se que aprender para conquistar. Esperança é a palavra e seus relatos Leonardo só nos trazem informações para que o discernimento e o julgamento seja o mais verídico possível.

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  22. Parabéns pelo seu texto!. Há um sonho de um dia a Igreja voltar a investir nas CEBs e punir aqueles que escandalizam a Instituição, será preciso separar o joio do trigo, pois na Igreja ainda tem pessoas sérias. Parabenizo o do Papa pela atitude de renunciar e não levar para o seu túmulo tanta podridão.

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  23. Caro Leonardo. Só você para ajudar a dar forma à turbulência dos nossos pensamentos e emoções em horas como essas, ajudando a resgatar razões para o nosso amor a Jesus e a essa velha Prostituta a quem tanto amamos. Receba meu abraço e a gratidão de nosso pessoal de Juiz de Fora.

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  24. Estimado Leonardo, gracias por publicar estas cosas, que sin dudas son relamente esclarecedoras. De esta manera uno termina amando mas a la Iglesia de Jesus, construyendo el Sueño del Carpintero, Desde Rivera – Uruguay, un fuerte abrazo

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  25. Amado Leonardo

    Novamente, diante de tantas perguntas que meu coração me faz e faz à Igreja e a todos dentro dela, vem você para me fazer querer saber mais ainda. Enquanto isso, me pego normalmente perguntando o quê tantos perguntaram no decorrer do processo histórico desta ” casta meretriz” . Mas, Leonardo, se eu que sou uma leiga e pouco estudiosa da Palavra, sem formação específica; que me cuido tanto, tanto, tanto para não pecar ( e não consigo), como pode que homens e mulheres, letrados no assunto, e tendo ficado durante tantos anos pesquisando sobre como se manterem fiéis a Deus e à Igreja, podem pecar assim deliberadamente????
    Meu querido, diante de tudo isso vejo, que o quê mais me assombra diante de tais fatos, (que você faz acrescentar com dados históricos,) é o fato de que já não sabemos mais sobre o pecado. Pecado que vejo não apenas como o infringir de leis humanas, mas, como o absoluto descaso às Leis de Deus, especialmente, por pessoas que deveriam ser nossos melhores exemplos.
    Afinal, Leonardo, por que não são exemplares também as atitudes dos dirigentes da Igreja, em relação aos que, responsáveis por lutar contra a destruição da Igreja, fazem parte do grupo de destruição???

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  26. Catolicismo é uma meretriz por ter jogado a Bíblia no lixo. Mas Cristo não a lava, muito menos ama: Mt 7.22,23
    É incrível como esta visão míope e antibíblica permanece em vigor. “Igreja” não sinonimiza com Catolicismo Romano.
    Papado não é o centro da cristandade. Ele é o centro do Catolicismo Romano, e sobe direto do inferno!
    Catolicismo Romano é a maior desgraça da cristandade. E ela permanece em vigor, por que a verdadeira Igreja de Cristo é omissa e covarde!

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  27. Sabemos muito pouco ou quase nada sobre a igreja católica e sua história, pois a nós interessa a fé em Cristo e seus ensinamentos ou seja a FÉ. Mas a fé não deve ser cega. Fé cega é como faca amolada. É um perigo.
    A contribuição que Leonardo Boff tem dado para a Igreja Católica, seus seguidores e qualquer outra pessoa tem sido magnífica.
    Este artigo é fantástico quando é citado que, em outras palavras, QUEM AMA CUIDA.
    Realmente quem ama cuida das pessoas, das instituições e deste mundo que tem necessitado tanto de verdades e muito amor.

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  28. Nunca as palavras de sabedoria : ” Deus escreve direito por linhas tortas” foram tão apropriadas. Afinal é de um Papa que parecia tão austero e tão conservador que vem este exemplo de humildade. Estamos sempre a aprender que os desígnios são mesmo insondáveis e acima de tudo carregados de Amor por esta humanidade que tantas vezes o esquece.
    Grande lição de vida!

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  29. Caro Leonardo Boff, obrigado pelo seu texto,É um texto que me tocou muito e me fez repensar.Já vinha tendo essa visão a muito tempo.Participo da igreja e muitas coisa me deixa triste, tenho que fechar os olhos e abrir meu coraçao para continuar frequentando o templo de oração.Na minha paróquia eles deixam bem claro “Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus profetas” (Salmo 105:15).Dando a entender que não podemos reclamar de nada que se refere aos seguidores da igreja porque eles são intocaveis.
    ” Oque importa é oque eles passam para nós sobre a palavra de Deus e não os erros que eles cometem.” Esta na hora de pararmos para refletir se Deus esta feliz de compactuarmos com tudo isso e pedir a ele o discernimento para enterder tudo o que ele quer nos mostrar..Até parece que Brasilia mudou -se para o Vaticano.Mas estarei forte,caminhando na minha fé.
    Ivanete

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  30. Caro Leonardo! Lhe enviamos saudade e admiração, da convivência que tivemos em 2012. Nossa fé em Deus é imensa, e deve suportar as fragilidades dos homens. A igreja deve ser plural, diversa e por isso, bela. Tomara que o papado consiga se encontrar e voltar a ser pescador de homens. Grande abraço de nossa família.

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  31. Parabéns, mais uma vez, por mais um excelente artigo. Postei, em meu blog, essa semana que passou, artigo em que falo exatamente o que sempre pensei – e comprovei – de religião como INSTITUIÇÃO e, em minha opinião está acontecendo com a Católica o que sempre “profetizei” – IMPLOSÃO!
    Não há como se esperar nada de NOVO, em terreno “estéril”.
    Preciso dizer que não professo nenhuma religião instituída, assim como não tenho partido político; duas “amarras” para o animal humano que não usa de seu mental para ultrapassar dogmas nem obter Pensamento e Visão, holísticos.

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  32. Pd. Leonardo Boof, sempre é muito bom ser reconhecido. Eu humildimente lhe envio um grande abraço, pela fala amorosa que sempre caracterisou seu discurso. Sei que isso lhe é insignificante, mas merecidamente lhe incluo na fala de Cristo. “Amei uns aos outros como queres que te ame.” Amar nesse exato momento da história da igreja, com sua exclusão dela como lhe foi feita, e responder com uma fala nesse grau de comprometimento amoroso realmente tem uma dignidade inesplicavel e exemplar.

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    • Sonia,
      Suas palavras me confortam e servem tambem de resposta a muitos que pensam que guardei magoa e raiva por aquilo que ocorreu entre o então Card.J.Ratzinger e comigo.Na verdade até esqueci a ponto de nos artigos nem me lembrar destas coias. Acima destas questões está a Igreja perene que produziu e produz tantos santos e santas, gente do povo, como minha mãe analfabeta, que criticava tambem o aparato dos Papas mas amava a Igreja como comunidade de fiés.
      Com carinho
      lboff

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  33. amo minha igreja, e fiquei profundamente triste com todo estes encandalos, sofro porque me foi ensinado o respeito e a devoção pelo sagrado. Leonardo Boff me devolve um pouco deste respeito com a sabedoria de suas palavras neste texto tão rico. Só quem ama a igreja pode lhe fazer críticas , quem deixou de amar a pessoa amada se torna indiferente à sua vida e destino(diz ele). Continuo amando esta Igreja que guarda a memória Sagrada de Jesus e a gramática dos Evangelhos. Apesar de todos os erros , ainda assim vale a pena estar dentro dela, como estavam São Francisco, Dom Helder Camâra ,João XXIII, minha mãe, meu pai, meus amigos queridos, e tantos outros tão preciosos

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  34. Leonardo Boff, li todo seu artigo,, que na verdade, eu não tinha conhecimento, de tudo que vinha ocorrendo em nossa Igreja Católica. Mas é passado e tudo ficará bem. Mais importante no momento acho que é intensificar nossas orações, e crer no poder do PAI ETERNO e de JESUS nosso mestre. Vale ressaltar, que o erro é próprio dos humanos, com o tempo muita coisa pode melhorar, mas temos que continuar no amor pela nossa Igreja, praticando o bem e propagando o evangelho de NOSSO SENHOR JESUS CRISTO, afim de termos nossos jovens e crianças, amando e servindo a DEUS como bons cristãos, fazendo a paz reinar sobre tudo, porque DEUS está com todos nós, e nunca nos abandona.

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  35. Caro irmão Leonardo Boff, seu texto demonstra mais uma vez a nobreza do seu caráter forjado no elevado espírito do verdadeiro e primitivo cristianismo. Eu diria que vc é um desses baluartes da fé cristã, hoje ainda tão severamente vergastada pelos ásperos ventos dos vícios do mundo. Vc deveria, a meu ver estar lá, entre os cardeais, discutindo e orientando os caminhos da Igreja nesses conturbados tempos em que vivemos. Louvo a sua humildade e reconheço sua enorme sabedoria. A igreja nasceu na terra e está sujeita à condução dos homens, por isso não é – talvez nunca seja, uma obra acabada, perfeita. Tinha nesse ponto toda razão o velho bispo Strossmayer quando se rebelou contra a imposição do dogma da infalibilidade papal.
    Mas, o importante mesmo é que a mensagem do sol que declinava na tarde cinzenta do Calvário, naquela longínqua sexta-feira, imensamente triste, de Jerusalém, conservou-se, a duras penas, pelos séculos do porvir: “Os Céus e a Terra passarão. Mas a minha palavra não passará jamais!” – Assim disse o Filho de Deus. A Igreja precisa, sim, de urgentes e sérias reformas. Mas precisa também de homens melhores e mais compenetrados da grande responsabilidade que pesa sobre os seus ombros. Ou será preciso que o Cristo venha outra vez sacrificar-se na Terra, sob o domínio da mediocridade humana, para que uns poucos, lúcidos, o façam de novo e para sempre vencedor? “Eu venci o mundo!” disse o Cristo jovem, há dois mil e tantos anos. Mas o homem, quando vencerá a si mesmo?

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  36. Salve, Boff.

    Admiro muito seu trabalho. Gostaria de enviar-lhe alguns de meus poemas para que o sr. me desse um parecer.

    Me passe um contato seu, endereço postal ou e-mail.

    Fraternalmente,
    José Chadan

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  37. Leonardo,

    Espero que as milenárias palavras do Bhagavad Gita transcritas abaixo possam ser de ajuda neste momento de dor e perplexidade. Não sou cristão, muito menos católico, mas estou certo de que quem custodia a pureza de uma só religião é, sem sabê-lo, o melhor sacerdote de todas as outras religiões, mesmo daquelas cuja existência ignora. Talvez o Espírito constitua o único templo do qual o temente a Deus necessita. Um antigo ditado sufi diz: Se procuras a Deus é melhor fazê-lo fora dos templos porque Deus prefere os espaços abertos. As religiões podem morrer, assim como os templos podem cair em ruínas, sem que o Espírito necessário a todas elas sofra minimamente.

    CAPITÚLO 1 – O DILEMA DE ARJUNA

    “Vista a guerra aproximando-se do início, Arjuna pegou o seu arco dizendo as seguintes palavras a Krishna (seu divino auriga): Ó Senhor, por favor pare a quadriga (no alto) entre os dois exércitos para que eu observe os que estão de pé, ansiosos pela batalha, de quem devo ocupar-me neste ato de guerra. (1.20-22)

    Arjuna então viu seus tios, avós, professores, tios paternos, irmãos, filhos, netos, e também seus camaradas em meio ao exército (inimigo). (1.26)

    Após ter visto seus sogros, companheiros, e todos os seus parentes situados nas coortes dos dois exércitos, Arjuna provou grande compaixão e pesar: Ó Krishna, vendo meus parentes, decididos a lutar, meus membros tremem, minha boca começa a secar. Meu corpo estremece e meus cabelos se arrepiam. (1.27-29)

    Eles estão cegos pela ambição, não vêem a maldade na destruição da família. Não vêem pecado em serem traidores dos seus irmãos! Por que nós, que claramente vemos o mal na destruição da família, não deveríamos pensar em afastar de nós este pecado, Ó Krishna? (1.38-39)

    A eterna tradição familiar e o código da conduta moral são destruídos com o desmantelamento da autoridade moral. E a imoralidade prevalece devido a destruição das tradições familiares. (1.40)

    Quando a imoralidade prevalece, Ó Krishna, as pessoas tornam-se corruptas. E quando as pessoas se tornam corruptas nasce a progênie não desejada. (1.41)

    Arjuna disse mais: Mas como poderei golpear meu avô, meu guru, e todos os outros parentes – que são merecedores de meu respeito – com minhas flechas na batalha, Ó Krishna? (2.04)

    O Senhor Krishna disse então: Como pode a tristeza chegar até você numa tal conjuntura? Isto não é adequado para uma pessoa de mente nobre e de ação, mas uma grande desgraça que fará nada para conduzir ninguém aos céus, Ó Arjuna! (2.02)

    Não se torne um covarde, Ó Arjuna, porque isto não é adequado para você. Livre-se desta fraqueza trivial. Levante-se para a batalha, Ó Arjuna. (2.03)

    O Espírito, pelo qual o universo todo está impregnado, é indestrutível. Ninguém pode destruir o Espírito Imperecível. (2.17)

    O corpo físico do que é eterno, Imutável e Incompreensível Espírito, esse é Mortal. O Espírito (Atman) ao invés é imortal. Portanto, enquanto Guerreiro, você deve lutar, Ó Arjuna! (2.18)”.

    — x —

    Um abraço,

    Alberto

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  38. Caro Sr. Boff,
    Queria poder dizer do fundo do coração que estou feliz em ver um homem como o Papa BentoXVI ter de qualquer sorte o fim que merecia, o “ostracismo”. Mas em minhas reflexões vejo um homem que tanto quis o poder e ao conseguí-lo sucumbiu pois, as suas forças não eram tão grandes assim, mas na verdade o que diminuiu no no coração do Papa a meu ver foi a “Fé” nos homens que compôem a nossa igreja e que seja por este motivo que ele resolveu sair, a participar de toda essa balbúrdia. Fico triste, e me vem a mente um ditado antigo que diz “Quando há guerra, todos nós perdemos”. Sei de seu coração e do amor que resplandece quando fala do Deus vivo e que no fundo, o Sr. também é um homem que lamenta, o mal que seu abateu sobre todos nós.

    Um forte, abraço e que Deus nos abençõe.

    Marcelo Dantas

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  39. Um modelo de governo dito e predito nas páginas apocalípticas do livro do Apocalipse. Estamos 2000 anos após o advento messiânico Salvador ainda debatendo absurdos como o da infalibilidade papal. A igreja institucionalizada segue ladeira abaixo onde seu futuro aponta para uma negociação de valores Bíblicos inegociáveis… A igreja institucional falhou como propagadora da fé salvadora em Cristo no equivoco de tentar salvar a si mesma esquecendo-se de que nem todos os seu santos reunidos poderão salva-lá da vergonha ilustrada registrada em sua auto-biografia,
    A igreja só possui uma única saída: retornar as Escrituras, afastar-se dos anátemas apontados por Deus, mergulhando em uma fé cristocêntrica, permitindo que o Espirito Santo a convença de que somente o CAMINHO, a VERDADE e a VIDA podem sendo três e ao mesmo tempo um, os ingredientes certos para temperar o mundo, pois do contrario, para nada mais presta.
    Oremos…

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  40. Caro, disse Cristo que o homem tem de renascer em espírito. Enxergar o que deve ser necessário fazer para da profissão cristã, exercer a função de servir de exemplo para o outro se tornar melhor do que a si. Assim, apassentar pelo ensinamento de bem querer fazer a tudo o que tiver a frente, sem a influencia do ambiente, mas te-lo como o meio de agir com discernimento e portanto, superar as adversidades por maiores ou poderosas que sejam. Elas são um fim a ser atingido. VSª Eminencia o Papa foi humilde, por pouco. fortaleceu o escandaloso. Contudo, preparou quem virá.

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  41. Concordo com todas as suas palavras.
    São coisas que não me deixam escandalizado, mas triste por ver que estas constatações que já desconfiava a algum tempo, se confirmou de certa forma.. E vem perpetuando ao longo dos anos.. É algo lamentável, a nossa amada Igreja Católica vem de muitos anos carecendo de uma reforma eficaz, necessitamos limpa-la dos diversos hereges travestidos de cardeais, bispos, padres e leigos por assim dizer…
    Vejo muita hipocrisia e contradição dentro da Instituição Igreja.. Necessitamos urgentemente de uma Igreja de Comunidades. Sair da zona de conforto e ir ao encontro dos “crucificados dos dias de hoje” de verdade e não apenas em belas palavras, teorias…
    Vejo que é uma pena Bento XVI ter renunciado, mas notei que com esta atitude humilde dele, só comprovou oque já vinha pensando a muito…
    Força e Fé Leonardo Boff!
    Abraço

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  42. Leonardo Boff

    Achei bastante profunda sua reflexão sobre a Igreja – casta e meretriz. É uma verdadeira e bela declaração de amor de um filho generoso que nunca a renegou.
    Hoje é o dia em que Bento XVI renuncia oficialmente ao papado. Numa tentativa de reflexão ou prece, partilho minhas esperanças. Creio ser um pouquinho do que já vi e vivi na Igreja , do muito que pude refletir e apreender de pessoas sensíveis e lúcidas como você. Um grande abraço e que Deus abençoe e guie a todos nós. Inês Ferreira.

    Mística e Esperança
    (Ao futuro da Igreja)

    Esperar o futuro
    Compreender o presente,
    Ser presente para o mistério da vida.
    Alentar anseios,
    Inspirar solidariedade,
    Profetizar incisiva e corajosamente,
    Fomentar desejos de Justiça e Paz.
    Não calar,
    Não infringir o direito dos fiéis,
    Não desmerecer a maturidade de seus membros e filhos,
    Contemplar a complexidade do Ser Humano.
    Encorajar, terna e profundamente, a cidadania,
    Acreditar no possível e, se possível, no impossível.
    Resgatar a cidadania dos pobres,
    Eliminar a voracidade pelo poder,
    Elaborar um novo olhar…
    Evocar a felicidade,
    Perpassar a dor,
    Não tergiversar,
    Honrar a herança deixada por Jesus,
    Abraçar o Mistério…
    Orar atenta e fervorosamente,
    Comungar sentimentos,
    Entregar-se ao incontido sopro do Espírito…
    Consumar a Eternidade neste tempo
    Que clama por um outro Tempo:
    Transfigurar.

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  43. Texto escrito com muito amor, como já foi dito por vários neste espaço.

    Sou cristão, mas não católico.
    Apesar disso, realmente acho que seria uma pena ver esta instuição, que já sobreviveu a tantas mudanças na história, acabar pelo imobilismo.

    Apesar de suas falhas, já que é composta por homens, ela abrigou santos como Agostinho, Francisco de Assis, Clara, Madre Teresa e tantos outros.

    Que a Cúria seja guiada pelo Espírito, para eleger um novo Pontíficie com coragem para promover as mudanças necessárias.

    Abraços fraternos.

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  44. O relato de abuso sexual,pedofilia e homossexualismo, há muitos anos, tem maculado a imagem da nossa Igreja Católica. Fato pouco comum entre outras crenças como judaísmo e luterana, por exemplo. Nesses credos sabemos inexistir a obrigação do celibato pelos pastores. Não seria este o diferencial?
    A imprensa de hoje noticia que pelo menos sete ou oito cardeais que participarão do conclave não se enquadram nos critérios de tolerância zero com abusos ou episódios obscuros.(AGI)

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  45. …..Um Reino foi instituido por um Profeta maior, Jesus, justo e verdadeiro, Homem de Bem, sem preconceitos . Ensinou a oração do “Pai Nosso que estais no Céu “, ensinou o Homem a ter fé e acreditar em si e em Deus, Santificado seja o seu nome Pai….

    —— O que os Homens de Fé fizeram com seu Reino Mestre ?

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  46. Newton Paulo Beyer 6,03.013 O que ocorre na cúpula do Vaticano não é nada de novo, aconteceu também no passado e provocou a Reforma do século XVI, com Martinho Lutero, dai o Protestantismo com as Igrejas Evangélicas. Certamente haverá nova reforma dentro da Igreja Católica Romana. O povo está sedento pelo puro evangelho de Jesus Cristo e toda a simplicidade cristã. É o que prega L.Boff.

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  47. Leonardo. Desde os tempos de estudante de teologia, nos anos 76-80, admirava a leitura de seus livros. Depois de ordenado continuei a ler suas obras que muito contribuíram para a minha atividade pastoral em favor dos mais pobres. Numa caminhada dos colonos sem terra, estive junto quando você ajudou a carregar a cruz da BR 116 até a Catedral de Novo Hamburgo, RS, nos anos 80. Por isso, de longa data o admiro. E sou grato por ter me inspirado a ser padre que não se contenta em apenas fazer o mínimo necessário… Deus o abençoe por todo bem que já fez. Um abraço, Pe.Paulo Wendling

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  48. A pesquisa mais recente e mais completa a respeito de pedofilia nas instituições, revelou que é na Santa Igreja que o percentual de pedofilia é menor, comparada com outras instituições, seja religiosa ou civil. Celibato não tem nada a ver com pedofilia. O amigo ai de cima deveria usar melhor o google e fazer pesquisas antes de opinar. Opinião sem propriedade é preconceito,

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  49. Analisando minha fé, creio em Cristo porque implicitamente creio naquilo que a Igreja ensina. O cristo chega a mim via Igreja. E em bem alto afirmo: creio porque existe a igreja do jeito que Ela é. Uma comunidade Hierárquica, fundada nos Apóstolos, assistida infalivelmente pelos Espirito Santo, tendo o Sato Padre o Papa como sinal de unidade , poder e referência da verdade. Uma Igreja concebida de outra forma tanto faz crer como não, seria uma atitude subjetiva e não objetiva. Boff e a bablilônia protestante são a mesma coisa, uma verdadeira bagunça.

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