COP30: Adaptação ou Prevenção?

Michael Löwy

Michael Löwy, diretor de pesquisa em sociologia no Centre Nationale de la Recherche Scientifique (CNRS). Brasileiro de origem francesa e morando em Paris, é um grande amigo do Brasil participando ativamente de nossa realidade político-social.Sendo de origem hebraica é um sério estudioso da sociologia da religião, do melhor de Marx e de Max Weber dedicando parte da obra ao estudo da teologia da libertação. Com ele mantenho frutífero diálogo, quase semanal. Mandou-me o artigo em francês e agora vem publicado em A Terra é Redonda, 26-10-2025.Esse artigo é esclarecedor e ao mesmo tempo um  alerta sobre eventuais ameaças sobre o futuro da humanidade: LBoff

O futuro não será conquistado pela resignação em se adaptar ao colapso, mas pela coragem de prevenir suas causas.

1.

Como sabemos, a COP30, a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, será realizada este ano, em novembro, em Belém do Pará.

Ela desperta esperança, já que será realizada em um país governado pela esquerda, sob a égide do presidente Lula. Mas é preciso constatar que o maior poluidor do planeta, os Estados Unidos, estará ausente, já que Donald Trump – negacionista fanático das mudanças climáticas – retirou seu país dessa instância internacional.

Infelizmente, uma decisão recente das autoridades brasileiras lança uma sombra sobre esta reunião: a autorização para explorar o petróleo localizado no fundo do mar, perto da foz do Amazonas. Os ecologistas brasileiros denunciam essa decisão, que representa um risco enorme — em caso de acidente com as perfurações marítimas — de uma “onda negra” destruir os frágeis ecossistemas da floresta amazônica.

Além disso, se as enormes quantidades de petróleo depositadas no fundo do mar nessa região forem extraídas, comercializadas e queimadas, isso será uma contribuição decisiva para a mudança climática.

Nessas condições, o que se pode esperar dessa COP30? É preciso dizer que o balanço das 29 anteriores não é glorioso: é verdade que algumas resoluções foram tomadas, mas… nunca foram postas em prática. As emissões nunca pararam de crescer, o acúmulo de gases de efeito estufa atingiu proporções sem precedentes e o limite perigoso de 1,5°C (acima da era pré-industrial) já foi atingido.

Quais são as ambições dos organizadores da nova COP? Podemos ter uma ideia ao ler uma entrevista recente com André Correa do Lago, nomeado por Lula para presidir a COP30. Diplomata com longa experiência em desenvolvimento sustentável, ele é atualmente Secretário de Clima, Energia e Desenvolvimento do Ministério das Relações Exteriores do Brasil. Nessa entrevista, Corrêa do Lago declara: “Gostaria muito que as pessoas se lembrassem da COP30 como uma COP da adaptação”.

2.

O que isso significa? Certamente, a adaptação às consequências das mudanças climáticas – incêndios florestais, tornados, inundações catastróficas, temperaturas insuportáveis, secas, desertificação, falta de água doce, aumento do nível do mar, etc. (a lista é imensa) – é necessária, especialmente nos países do Sul, primeiras vítimas desses danos.

Mas dar prioridade à “adaptação” em vez da “prevenção” é uma forma indireta de se resignar à inevitabilidade das mudanças climáticas. É um discurso que se ouve cada vez mais entre os governantes de diferentes países do mundo.

A lógica desse argumento é simples: como é impossível prescindir dos combustíveis fósseis, do transporte globalizado de mercadorias, da agricultura industrial e de outras múltiplas atividades econômicas responsáveis pelas mudanças climáticas, mas necessárias para o bom funcionamento da economia capitalista, só nos resta a possibilidade de nos adaptarmos.

Se, num primeiro momento, a adaptação ainda é possível, a partir de um certo aumento da temperatura – dois graus? três graus? ninguém pode dizer – ela se tornará impossível. Como se adaptar, se a temperatura ultrapassar os 50 graus? Se a água potável se tornar um bem escasso? Podemos multiplicar os exemplos.

Não nos resta muito tempo para impedir uma catástrofe que colocaria em risco a sobrevivência humana neste planeta. E, ao contrário do que pensam habitantes de Marte como Elon Musk, não existe um planeta B. Se a COP30 privilegiar a adaptação em detrimento da prevenção, ficará na memória das pessoas como a COP da capitulação.

Felizmente, reunir-se-á em Belém do Pará, ao mesmo tempo que a COP, uma Cúpula dos Povos, na qual participarão movimentos ecologistas, camponeses, indígenas, feministas, ecossocialistas e outros, que discutirão as verdadeiras soluções para a crise ecológica e tomarão as ruas de Belém do Pará para protestar contra a inércia dos governos e afirmar a necessidade de romper com o sistema. São semeadores de futuro, que se recusam à resignação e ao conformismo.

Mojar las raíces en nuestra propia fuente

Leonardo Boff

No hay como negar que estamos en el centro de una formidable crisis planetaria. Nadie sabe hacia dónde vamos. Es aconsejable visitar a historiadores que normalmente tienen una visión holística y una sutil percepción de las principales tendencias de la historia. Cito uno que considero de los más inspiradores, Eric Hobsbawn, en su conocido libro-síntesis La Era de los Extremos (1994). Concluye sus reflexiones con esta consideración:

«El futuro no puede ser la continuación del pasado… Nuestro mundo corre el riesgo de explosión e implosión… No sabemos hacia dónde estamos yendo. Sin embargo una cosa está clara. Si la humanidad quiere tener un futuro que valga la pena, no puede ser mediante la prolongación del pasado o del presente. Si tratamos de construir el tercer milenio sobre esta base, vamos a fracasar. Y  el precio del fracaso, o sea la alternativa al cambio de la sociedad, es la  oscuridad» (p.562).

         La oscuridad puede representar el fin de especie homo. Algo parecido dijo Max Weber en su última conferencia pública en la cual (por fin!) se refiere al capitalismo, encerrado en una ”jaula de hierro” (Stahlhartes Gehäuse) que él mismo no consigue romper. Por eso nos puede llevar a una gran catástrofe: «Lo que nos aguarda no es el florecimiento del otoño, nos aguarda una noche polar, gélida, sombría y árdua» (Cf. M.Löwy, La jaula de hierro: Max Weber y el marxismo weberiano, México 2017). Finalmente el propio Papa Francisco en la encíclica Fratelli tutti (2020), advierte: «Estamos en el mismo barco o nos salvamos todos o no se salva nadie» (n.32).

         Hay una convicción bastante generalizada en el campo ecológico y en notables analistas de la geopolítica mundial: dentro del sistema capitalista, que destaca por la búsqueda ilimitada (sin la justa medida) de ingresos financieros, y crea dos injusticias, una social (creando inconmensurable pobreza) y otra ecológica (devastando  ecosistemas), no hay solución para la crisis actual. Se atribuye a Einstein la frase: «el pensamiento que creó la crisis no puede ser el mismo que nos saque de ella; tenemos que cambiar».

         Como las prometedoras narrativas del pasado sobre el futuro de la humanidad se han frustrado, no pueden ofrecernos rumbos nuevos, excepto tal vez el ecosocialismo planetario que no tiene nada que ver con el socialismo un día existente y fallido. O volver al modo de vida de los pueblos originarios, cuyo saber ancestral o el bien vivir y convivir de los andinos todavía podrían garantizarnos un futuro en este planeta. Pero me parece que estamos tan enredados dentro de nuestra burbuja sistémica que esta propuesta, por sugestiva que sea, se hace globalmente impracticable.

         Cuando llegamos al fin de los caminos viables y solo tenemos  el horizonte a la vista, me parece que no nos queda más que optar por nosotros mismos y desentrañar virtualidades no ensayadas todavía. Somos por naturaleza un proyecto infinito y un nudo de relaciones en todas las direcciones. Debemos sumergirnos dentro de nosotros mismos y mojar nuestras raíces en la fuente originante que brota siempre en nosotros en forma de inquebrantable esperanza, de grandes sueños, de mitos viables y de proyectos innovadores de otro rumbo por delante.

         Al tomar al ser humano como referencia estructuradora no pienso en la antropología de los antropólogos y antropólogas o en otras ramas del saber sobre lo humano, siempre enriquecedoras. Pienso en el ser humano en su radicalidad insondable que ronda la zona del misterio, que cuanto más nos acercamos de él más distante y profundo se presenta. Y sigue siendo misterio en cada conocimiento. Fue la percepción que san Agustín hizo de sí mismo: factus sum mysterium mihi: “me he vuelto un misterio para mí mismo”. Ese misterio es expresión de un misterio mayor que es el propio universo todavía en génesis y expansión. Por tanto, el ser humano-misterio nunca está desconectado de ese proceso del cual forma parte, lo que supera una visión meramente individualista del ser humano. Es importante no olvidar nunca que es un ser de relaciones ilimitadas, hasta con el Infinito. Enumeremos algunos datos que pertenecen  a nuestra esencia, a partir de los cuales se nos concede elaborar nuevas visiones de futuro.

         Ante todo es importante entender al ser humano como Tierra que en un momento de su complejidad comenzó a sentir, a pensar, a amar, cuidar y venerar. Y he aquí que irrumpe en el proceso cosmogénico el ser humano, hombre y mujer. No sin razón es llamado homo o Adam, ambos significando “hecho de tierra, o tierra fértil y arable”.

         En el ser humano es central el amor cuya base biológica mostraron F.Maturana y J.Watson. Dice Watson en su famoso ADN:el secreto de la vida (2005): «el amor nos hace tener cuidado del otro; él hizo posible nuestra supervivencia y éxito en este planeta; ese impulso, creo, salvaguardará nuestro futuro; estoy seguro de que el amor está inscrito en nuestro ADN» (p.414). No habrá ninguna transformación o revolución humana que no vengan imbuidas de amor.

         Junto con el amor surge el cuidado, entendido –de larga tradición– como esencia del ser humano. Como no tiene ningún órgano especializado, es el cuidado de sí mismo, de los otros y de la naturaleza lo que nos asegurará la vida.

         Fue la solidaridad/cooperación de comer juntos, la que en otro tiempo nos permitió dar el salto de la animalidad a la humanidad. Lo que fue verdadero ayer sigue siendo verdadero y esencial hoy, aunque carente. Como ser de relación, la solidaridad y la cooperación están en la base de cualquier convivencia.

         Junto a la inteligencia del cerebro neocortical, hay la emoción del cerebro límbico, surgido hace millones, sede del amor, de la empatía, de la compasión, de la ética y de todo el mundo de las excelencias. Somos seres de sentimientos. Sin un lazo afectivo entre nosotros los humanos y con la naturaleza, todo se degrada y desvanece.

         En nuestro interior prevalece la espiritualidad natural,expresión usada por la new science que goza del mismo reconocimiento que la inteligencia y la emoción. Es anterior a cualquier religión, pues es la fuente de la cual todas beben, cada cual a su manera. La espiritualidad es parte de nuestra esencia y se expresa por el amor incondicional, por la solidaridad, por la transparencia y por todo lo que nos hace más humanos, más relacionales y abiertos.

         La espiritualidad nos permite captar que por debajo de todos los seres hay una Energía poderosa y amorosa que los cosmólogos llaman Abismo generador y sustentador de todo lo que existe. El ser humano puede abrirse a esa Energía de Fondo, puede entrar en comunión con ella y tener una experiencia de encantamiento y veneración ante la grandeur del universo y de quien lo creó.

         Tales valores, siendo realistas, vienen acompañados de sus contrarios –somos sapiens y demens– que no pueden ser reprimidos sino mantenidos en sus límites. Mojando nuestras raíces en esa fuente originante positiva podemos definir otro futuro en el cual el amor, la solidaridad y el bien vivir serán sus fundamentos.

Molhar as raízes em nossa própria fonte

         Leonardo Boff

         Não há como  negar que estamos o centro de uma formidável crise planetária. Ninguém sabe para onde vamos.É aconselhável visitar historiadores que normalmente possuem uma visão holística e uma sutil percepção das principais tendências da história. Cito um que considero dos mais inspiradores, Eric Hobsbawn, em seu conhecido livro-síntese “Era dos Extremos”(1994). Concluindo suas reflexões pondera:

“O futuro não pode ser a continuação do passado…Nosso mundo corre o risco de explosão e implosão…Não sabemos para onde estamos indo. Contudo uma coisa é clara. Se a humanidade quer ter um futuro que vale a pena, não pode ser pelo prolongamento do passado ou do presente. Se tentarmos construir o terceiro milênio sobre esta base, vamos fracassar. E  preço do fracasso ou seja, a alternativa para a mudança da sociedade é a escuridão”(p.562). A escuridão pode representar o fim da espécie homo. Algo parecido disse Max Weber em sua última conferência pública na qual (en fin!)se refere ao capitalismo, encerrado numa”jaula de ferro”(Stahlhartes Gehäuse) que ele mesmo não consegue romper, Por isso, nos pode levar a uma grande catástrofe: “O que nos aguarda não é o florescimento do outono, nos aguarda uma noite polar, gélida, sombria e árdua”(Cf. M.Löwy, La jaula de hierro: Max Weber y el marxismo weberiano, México 2017). Por fim o próprio Papa Francisco na encíclica Fratelli tutti (2020), adverte:“Estamos no mesmo barco ou nos salvamos todos ou ninguém se salva”(n.32).

         Há uma convicção mais ou menos generalizada no campo ecológico e em notáveis analistas da geopolítica mundial: dentro do sistema capitalista que prima pela busca ilimitada (sem a justa medida) de renda financeira,criando duas injustiças, uma social (criação de incomensurável pobreza) e outra ecológica (devastação de ecossistemas) não há solução para a crise atual. Atribuiu-se a Einstein a frase:”o pensamento que criou a crise não pode ser o mesmo que nos vai tirar dela; temos que mudar”.

         Como as promissoras narrativas do passado sobre o futuro da humanidade se frustraram, não podem elas oferecer-nos rumos novos, exceto talvez, o ecosocialismo planetário que nada tem a ver com o socialismo um dia existente e fracassado.Ou voltar ao modo de vida dos povos originários, cujo saber  ancestral ou o  bien vivir y convivir dos andinos  nos garantiriam ainda um futuro neste planeta. Mas parece-me que nos enredamos tanto dentro de nossa bolha sistêmica que esta proposta, por sugestiva que seja,  se torna globalmente impraticável.

         Quando chegamos ao fim dos caminhos viáveis e só temos o horizonte à vista, a mim parece, que só nos resta optar por nós mesmos e desentranhar virtualidades ainda não ensaiadas. Somos por natureza um projeto infinito e um nó  de relações em todas as direções. Devemos mergulhar dentro de nós mesmos e molhar nossas  raízes na fonte originante que sempre jorra em nós na forma de inarredável de esperança, de grandes sonhos,de  mitos viáveis e de projetos inovadores de outro rumo à frente.

         Ao tomar o ser humano como referência estruturadora   não penso numa antropologia dos antropólogos e antropólogas ou nos ramos de saberes sobre o humano,  sempre enriquecedores. Penso no ser humano em sua radicalidade insondável que ronda a zona do mistério que quanto mais nos acercamos dele mais distante e profundo se apresenta. E continua mistério em cada  conhecimento. Foi a percepção que Santo Agostinho fez de si mesmo: factum sum mysterium mihi: “fiz-me um mistério para mim mesmo”.Esse mistério é expressão de um mistério maior que é o próprio universo ainda em gênese e expansão. Portanto, o ser humano-mistério nunca está desconectado desse processo do qual faz parte, o que supera uma visão meramente individualista do ser humano. Importa nunca esquecer que é um ser de relações ilimitadas, até com o Infinito. Elenquemos alguns dados que pertencem à nossa essência, a partir dos quais se nos concede elaborar novas visões de futuro.

         Antes de mais nada importa entender o ser humano como Terra que num momento de sua complexidade começou a sentir,pensar,amar,cuidar e venerar.Eis que irrompe no processo cosmogênico o ser humano, homem e mulher. Não é sem razão que é chamado de homo ou Adam, ambos significando “feito de terra, ou sendo terra fértil e arável.

         Central no ser humano é o amor que F. Maturana e J.Whatson mostraram sua base biológica. Diz Whatson em seu famoso DNA:o segredo da vida humana (2005:”o amor nos faz ter cuidado do outro;foi ele que permitiu nossa sobrevivência e êxito neste planeta;esse impulso, creio, salvaguardará nosso futuro; estou seguro de que o amor está inscrito em nosso DNA”(p.414). Não haverá nenhuma transformação ou revolução humana que não venham imbuídas de amor.

         Junto com o amor emerge o cuidado entendido de longa tradição, como essência do ser humano.Como ele não possui nenhum órgão especializado é o cuidado de si mesmo,dos outros e da  natureza que nos assegurará a vida.

         Foi a solidariedade/cooperação do comer juntos,que outrora nos permitiu dar o salto da animalidade para a humanidade. O que foi verdadeiro ontem continua verdadeiro e essencial hoje,embora carente. Como ser de relação é a solidariedade e a cooperação que estão na base de qualquer convivência.

         Junto à inteligência do cérebro neo-cortical, há emoção do cérebro límbico,surgido há milhões de anos, sede do amor, da empatia,da compaixão, da ética e de todo o mundo das excelências. Somos seres de sentimentos.Sem um laço afetivo entre nós humanos e para com a natureza tudo se degrada e desfalece.

         Em nosso profundo vige a espiritualidade natural que possui o mesmo reconhecimento que a inteligência e a emoção. Ela é anterior a qualquer religião, pois é a fonte da qual todas bebem,cada qual a sua maneira.A espiritualidade é da nossa essência e se expressa pelo amor incondicional, pela solidariedade,pela transparência e tudo o que nos faz mas humanos,mais relacionais e abertos.

         A espiritualidade nos permite captar que por debaixo de todos os seres vigora uma Energia poderosa e amorosa que os cosmólogos chamam de Abismo gerador e sustentador de tudo o que existe. O ser humano pode abrir-se essa Energia de Fundo, pode entrar em comunhão com ela e ter uma experiência de encantamento e veneração face à grandeur do universo e de quem o criou. Tais valores,realisticamente, vem acompanhados por seus contrários -somos sapiens e demens – que não podem ser recalcados mas mantidos nos seus limites. Molhando nossas raízes nessa fonte originante podemos definir outro futuro no qual o amor, a solidariedade  e o bien vivir serão seus fundamentos.

Warum sind wir dort angekommen, wo wir jetzt sind?

Leonardo Boff

         Zivilisationskrisen gab es schon immer in der Geschichte. Man muss nur Arnold Toynbees 12-bändiges Werk „A Study of History” lesen, in dem er detailliert beschreibt, wie Zivilisationen entstehen, in eine Krise geraten und untergehen. Er unterscheidet zwei grundlegende Kategorien: Herausforderung (challenge) und Antwort (response). Wenn die Herausforderung gering ist, reagiert die Zivilisation darauf und wächst. Wenn die Herausforderung größer ist als ihre Reaktionsfähigkeit, gerät die Zivilisation in eine Krise und verschwindet schließlich. Dies ist eine vereinfachte Darstellung eines komplexen und äußerst gelehrten Werks. Seine größte Einschränkung besteht vielleicht darin, dass es den Klassenkampf nicht berücksichtigt, der, ob wir es wollen oder nicht, in komplexen Gesellschaften immer stattfindet. Bis vor kurzem waren Krisen immer regional begrenzt und betrafen nicht den gesamten Planeten.

Die Einzigartigkeit der Krise unserer Zeit liegt darin, dass sie planetarisch ist und alle Zivilisationen betrifft. Es fehlen uns geeignete Kategorien, die uns eine umfassende Antwort bieten könnten: Wie sind wir zu dieser globalen Krise gekommen, die den Anfang unserer eigenen Zerstörung mit sich bringt, nicht des Planeten als Ganzes, sondern des Lebens in all seinen Formen? Es ist nicht unmöglich und für manche sogar wahrscheinlich, dass unsere Spezies verschwinden könnte, da sie alle Mittel dazu geschaffen hat. Das Ende der Welt wäre nicht das Werk Gottes, sondern das Werk des Menschen selbst. Und es gibt genug Verrückte unter den decisionmakers (Entscheidungsträgern), die Leben gefährden und möglicherweise einen Krieg zwischen den Großmächten mit „gesicherter gegenseitiger Zerstörung” ausrufen könnten. Und mit ihm würde die Menschheit, die mit dem Tod spielt, untergehen, mit der Ausnahme von vielleicht einigen der hundert indigenen Stämme im Amazonasgebiet, die nie Kontakt zu unserer Zivilisation hatten.

Die radikale Frage, die uns herausfordert, lautet: Warum ist weltweit eine schreckliche Welle des Hasses, der Wut und der Gewalt ausgebrochen, die, wenn sie sich fortsetzt, den gesamten Planeten endgültig in Flammen aufgehen lassen könnte? Aus verschiedenen Blickwinkeln werden viele Gründe dafür angeführt. Ich für meinen Teil würde als Hypothese sagen, dass, abgesehen von strukturellen Ursachen, die in der Moderne vorhanden sind und von mir bereits analysiert wurden, eine solche lebensfeindliche Atmosphäre und das Zusammenleben zwischen Menschen aus einer tiefen Enttäuschung resultiert, die zu einer nicht minder tiefen Depression geführt hat.

Die Enttäuschung würde im Scheitern aller Versprechen liegen, die die großen Erzählungen  der Menschheit in den letzten Jahrhunderten gegeben haben. Die Aufklärung versprach der gesamten Menschheit Zugang zu Wissen. Der Kapitalismus entwarf das Ideal, dass alle reich werden sollten. Der Sozialismus versprach, alle Ungleichheiten und das Klassensystem zu beseitigen. Der moderne Industrialismus in seinen verschiedenen Formen, sogar mit Automatisierung und allgemeiner KI, versprach die vollständige Befreiung des Menschen von der Last der Arbeit und den uneingeschränkten Zugang zu allem Wissen, das die Menschheit angesammelt hat, sowie eine uneingeschränkte und freie Kommunikation aller mit allen.

Diese Versprechen wurden nicht erfüllt. Die vorherrschende Logik war die Macht einiger weniger Gieriger, die alle Fortschritte an ihren privaten, wettbewerbsorientierten und unsozialen Anhäufungsinteressen ausrichteten. Statt einer wünschenswerteren und menschenfreundlicheren Welt herrschte eine grausame und gefühllose Welt gegenüber anderen Menschen und ein Raubtier der Natur. Die weit verbreitete Enttäuschung führte zu einer großen kollektiven Depression. Wer ist schon zufrieden mit der Welt, die wir geschaffen haben, und ignoriert dabei die wenigen, die alles kontrollieren und beherrschen (und die ebenfalls von Angst heimgesucht werden)? Die vorherrschende Wahrnehmung ist, dass es so nicht weitergehen kann, da dies uns alle in ein gemeinsames Grab führen könnte.

In kritischen Situationen dieser Intensität treten typischerweise zwei Verhaltensweisen auf: Die einen flüchten sich in eine idealisierte Vergangenheit, in der Ordnung, Disziplin, Religion und strenge Moral die Krise lösen würden. Andere flüchten sich in die Zukunft mit heilsbringenden Utopien oder so radikalen Veränderungen, dass sie eine viel bessere, lebenswertere und naturgerechtere Welt schaffen würden. Beides erscheinen mir als Utopien ohne historische Tragfähigkeit, da sie sich der Herausforderung in ihrer existenziellen Schwere nicht stellen und auch nicht nach tragfähigen Alternativen suchen. Diese Haltung führt letztlich zu tieferer Enttäuschung und Depression.

Gibt es einen Ausweg aus dieser misslichen Lage? Oder sind wir an der Reihe, unseren Evolutionszyklus zu beenden und zu verschwinden? Es ist klar, dass alle Lebewesen nach Millionen von Jahren auf diesem Planeten ihren Höhepunkt erreicht haben und dann plötzlich verschwunden sind. Könnte uns dasselbe Schicksal widerfahren? Ich lasse die Frage offen, denn es erscheint weder unwahrscheinlich noch unmöglich, da wir uns bereits die Mittel zur Selbstzerstörung gegeben haben.

Mein Weltbild sagt mir: Wenn Utopien, selbst kleinste Verbesserungen des herrschenden Systems, verblassen, können wir uns nur auf uns selbst konzentrieren. Wir sind eine unerschöpfliche Quelle an Möglichkeiten und verfügen über eine grenzenlose Fähigkeit zu Beziehungen und Kreativität. Trotz unserer Widersprüche, unserer Licht- und Schattenwelt, unserer Weisheit und unseres Wahnsinns können wir unsere positive Einstellung so weit nutzen, dass wir eine neue Richtung und neue Hoffnung definieren können. Es liegt an uns, diese Alternative, die wir hier nicht im Detail beschreiben können, genauer zu untersuchen, aber wir werden darauf zurückkommen.

Die zukünftige Erde wird kein irdisches Paradies sein, sondern eine wiederbelebte Erde, das Land der Guten Hoffnung, wie manche es bereits genannt haben.

Leonardo Boff,Autor von:  Habitar a Terra. Vozes 2025.

Artikel übersetzt von Bettina Gold-Hartnack