Un’escalation della guerra Russia-Ucraina potrebbe mettere in pericolo la vita sulla Terra

               Leonardo Boff

Sempre più spesso si sente parlare di un’escalation della guerra tra Russia e Ucraina, provocata dallo stesso Putin che alla fine ha ammesso, l’eventuale uso di armi nucleari tattiche. Non distruggono molto, ma la radioattività emessa potrebbe rendere la regione inabitabile per molti anni. La ragione fondamentale è che la Russia non può perdere la guerra.

Questa situazione è peggiorata quando la NATO, sotto la pressione degli Stati Uniti, ha esteso la sua azione offensiva dall’Atlantico al Pacifico con l’adesione del Giappone, della Corea del Sud, dell’Australia e della Nuova Zelanda.

La NATO si è vergognosamente sottomessa alla volontà imperiale degli USA. Sembra che non abbia imparato nulla dalle due guerre del XX secolo in Europa che hanno fatto 100 milioni di vittime.

Si sa oggi che dietro la guerra che si sta svolgendo in Ucraina, c’è uno scontro tra USA e Russia/Cina al fine di chi detiene il dominio geopolitico del mondo. Finora ha prevalso un mondo unipolare con il predominio completo degli USA.

Il nostro maestro in geopolitica Luiz Alberto Moniz Bandeira (1935-2017) nel suo minuzioso libro ‘A desordem mundial:o espectro da total dominação (Civilização Brasileira, RJ 2016) ha evidenziato, chiaramente, i tre mantra fondamentali del Pentagono e della politica estera nord-americana:

  • one World-one Empire (USA);
  • full spectrum dominance: dominare l’intero spettro della realtà, sulla terra, nel mare e nell’aria con circa 800 basi militari distribuite in tutto il mondo;
  • destabilizzare tutti i governi dei paesi che resistono o si oppongono a questa strategia imperialista come è avvenuto in Honduras, in Bolivia e nel Brasile con il golpe contro Dilma Rousseff nel 2016 e poi con l’ingiusta detenzione di Lula.

Gli USA non rinunciano al loro proposito di essere l’unica potenza mondiale. Si dà il caso che l’impero nord-americano sia alla deriva, per quanto faccia ancora appello al suo eccezionalismo e al “destino manifesto”, secondo il quale gli USA sarebbero il nuovo popolo di Dio che porterà alle nazioni democrazia, libertà e diritti (sempre inteso all’interno del codice capitalista).

Nel frattempo, la Russia si è armata con potenti armi nucleari, con missili inattaccabili e sta disputando per essere parte della leadership nel processo di globalizzazione. Ha fatto irruzione la Cina con nuovi progetti come la ‘via della seta’ e come potenza economica che ha già superato quella nord-americana. In parallelo a ciò è emerso nel Sud Globale, un gruppo di paesi il cui acronimo è BRICS di cui il Brasile partecipa. In altre parole, non esiste più un mondo unipolare, ma multipolare.

Questo fatto esaspera l’arroganza dei suprematisti neocon che affermano che è necessario continuare la guerra in Ucraina per dissanguare ed eventualmente devastare la Russia e neutralizzare la Cina per affrontarla in una fase successiva. In questo modo torneremmo al mondo unipolare.

Ecco qui gli elementi che possono generare una terza guerra mondiale che sarà terminale. Papa Francesco, nella sua chiara intuizione, ha più volte detto che siamo già nella “terza guerra mondiale a pezzi”. Per questo afferma con tono quasi disperato (ma sempre personalmente speranzoso) che “siamo tutti sulla stessa barca; o ci salviamo tutti o non si salva nessuno” (Fratelli tutti n.32). È la ragione diventata irrazionale e impazzita. Il segretario generale delle Nazioni Unite, António Guterres, ha spesso ripetuto: “l’unica alternativa è la cooperazione di tutti o il suicidio collettivo”.

Perché l’occidente europeo ha optato per la volontà di potenza e non per la volontà di vivere di pacifisti come Albert Schweitzer, Leon Tolstoy, Mahatma Gandhi, Luther King Jr e Dom Helder Câmara? Perché l’Europa, che ha prodotto una grande cultura e tanti geni, santi e sante, ha scelto questa strada che potrebbe devastare l’intero pianeta fino a renderlo inabitabile? Ha lasciato irrompere, senza controllo, il più pericoloso degli archetipi – secondo C.G.Jung – quello del potere, capace di auto-distruggerci? Ecco un mistero della storia umana da decifrare.

Perché è in questo Dio vivente e fonte di vita che riponiamo la nostra ultima speranza. Questo va oltre i limiti della scienza e della ragione strumentale-analitica. È l’atto di fede che rappresenta anche una virtualità presente nel processo cosmo-genico globale. L’alternativa a questa speranza è l’oscurità. Ma la luce ha più diritti dell’oscurità. In questa luce noi crediamo e speriamo.

(traduzione dal portoghese di Gianni Alioti)

Emergência Climática: o que precisa entrar na pauta da Educação.

Aleluia Heringer Lisboa Teixeira

Sentimos na pele os impactos do novo regime climático, com isso, ganha relevância a necessidade de se trabalhar a alfabetização/cultura ecológica, considerando as conexões, contexto e interdependências entre todos os seres, entidades e ecossistemas. Nossa utensilagem mental antropocêntrica, calcada na fragmentação e simplificação, fortemente ancorada nos nossos modos de produção, consumo e estilo de vida, demora a entender e pensar saídas. Para além desse contexto social, a escola de educação básica ao lidar com crianças, ocupa um lugar sensível de disputas de sentidos sobre parte dessas temáticas. O que é autorizado abordar, como, com quais palavras, quando e quem deve falar, são questões que tensionam o ensino dada as mais diversas compreensões das diversas famílias que compõem o universo escolar. Enquanto isso, vamos comprometendo a formação da atual e das próximas gerações que viverão de forma intensa as consequências da inércia e da falta de prontidão daqueles que as antecederam. Qual a margem de manobra temos para atuação? O propósito deste artigo é fazer a articulação entre: a denúncia, a partir daquilo que a Ciência e Ambientalistas há décadas vem alertando; e anunciar, ao propor oportunidades e alternativas de abordagem para o educador relacionando-as com a vida, escolhas diárias e com os currículos escolares.

I           SOBE O TOM!

A emergência climática em curso pela sua escala planetária é infinitamente maior em proporção e poder de destruição que qualquer outra experiência humana que conhecemos, a ponto de o químico Paul Crutzen (2002), dizer que nosso impacto pode ser identificado em escala geológica, daí a proposta do termo Antropoceno para designar que já entramos em outra era geológica. Essa é uma verdade estratigráfica, pois já é possível de se ver a pegada humana nas rochas. A Terra reage por meio dos eventos climáticos extremos. Gaia se contorce expulsando aquilo que a agride. Convivemos, diariamente, com recordes que nos dão uma noção da gravidade da situação e do comprometimento da capacidade do planeta em se recuperar.    

O mês de março de 2024 é o 10º mês consecutivo mais quente já registrado na história, segundo relatório publicado no dia 09 de abril do Observatório Europeu Copernicus (Copernicus, 2024). A temperatura média global é a mais alta já registrada, com os últimos 12 meses a situarem-se 1,58°C acima dos níveis pré-industriais. 

Gavin Schmidt, diretor do Instituto Goddard de Estudos Espaciais da NASA está à frente do projeto que monitora as mudanças de temperatura desde 1880. Em um artigo jornalístico publicado na Revista Nature (Schmidt, 2024), ele admitiu:

É humilhante, e um pouco preocupante admitir que nenhum ano confundiu mais as capacidades preditivas dos cientistas do clima do que 2023. (…) Se a anomalia não estabilizar até agosto – uma expectativa razoável baseada em eventos anteriores do El Niño – então o mundo estará em território desconhecido. Isto poderia implicar que o aquecimento do planeta já está a alterar fundamentalmente a forma como o sistema climático funciona, muito mais cedo do que os cientistas previam.

Um movimento liderado por cientistas dos EUA, Austrália e África do Sul, a partir de um Relatório Especial na revista BioScience (Ripple, 2020), logo foi assinado por 14.700 cientistas de 158 países, defendendo a “obrigação moral” de cientistas de “alertar claramente a humanidade sobre qualquer ameaça catastrófica” e apresentar suas pesquisas para demonstrar “que o planeta enfrenta inequivocadamente uma emergência climática”.  Quando a ciência usa a expressão inequívoca, falando para leigos, significa que o tema é incontestável, irrefutável. Todas as evidências advindas das mais diferentes áreas do conhecimento apontam para o mesmo lugar.

Parece que estamos anestesiados com tantas notícias que mais se parecem com as tribulações do Apocalipse. Cada vez mais um novo estímulo precisa ser dado para que saiamos do estado de torpor e inércia. Começamos ouvindo falar de mudanças climáticas, aquecimento global, crise, emergência, colapso e, agora, ebulição climática. Reparem, o tom vai aumentando, proporcionalmente, à nossa incapacidade como humanidade de ouvir e responder. Subir o tom é uma tentativa dos cientistas, das organizações, ativistas e agora das grandes mídias em comunicar, sem rodeios, o que está acontecendo. Trata-se de acordar, pela palavra, aqueles que dormem. 

A expressão “mudanças climáticas” perdeu força por ser considerada passiva, meiga demais para aquilo que estamos vivendo. Bate em nossos ouvidos que é papo de climatologista; é a natureza e “eu não tenho nada a ver com isso”, fora que, do lado de fora da minha janela, crianças brincam, as maritacas estão voando, os congressos estão focados na inteligência artificial e daqui a pouco vou para um aniversário e vida que segue. A mensagem é: continue fazendo o que você está fazendo.

Agora, se a sua casa estiver pegando fogo com sua mãe presa lá dentro, você não irá dizer que está havendo uma mudança da temperatura na sua sala. Você ligará para o Corpo de Bombeiros e esbaforido irá dizer que sua casa está em chamas. É disso que se trata. Emergência é a sirene do corpo de bombeiros ou do SAMU que toca de forma estridente, furando sinal, passando na frente. Emergência é prioridade máxima e pede ação.  

Essa mudança de tom aconteceu com alguns editoriais de jornais, como The Guardian (https://www.theguardian.com/environment/2019/may/17/why-the-guardian-is-changing-the-language-it-uses-about-the-environment) e  BBC, (https://www.carbonbrief.org/exclusive-bbc-issues-internal-guidance-on-how-to-report-climate-change/) que em 2019, alteraram o manual de redação e linha editorial, adotando palavras mais fortes, como forma de assumir e aceitar que estamos diante de um desafio de grandes proporções, que nos afeta em muitíssimos aspectos da vida cotidiana. Dicionários também estão se adequando. O britânico Collins elegeu a expressão “greve climática” e Oxford elegeu “emergência climática” como as palavras do ano de 2019. Essa última significa “uma situação na qual uma ação urgente é exigida para reduzir ou mitigar as mudanças climáticas e evitar um dano potencialmente irreversível ao meio ambiente”.

Vendo toda essa movimentação, precisamos nos perguntar quais as mudanças o campo da educação está efetuando. O que mudou na abordagem, nos currículos, nas formações, nas estruturas físicas das escolas, nos planejamentos dos professores? O que nós, educadores, reles mortais, podemos fazer? Em que estágio estamos?

II         Dos gestos solitários às grandes mudanças coletivas.

Essa história de “gigantes Golias”, felizmente, tem muitos “Davis”. São muitos, contudo, farei menção a um exemplo que mais se aproxima da realidade escolar.

Não foram as mudanças nas palavras, que fizeram acordar os líderes mundiais, mas uma única e pequena estudante. Sem cargo, sem poder, sem dinheiro. Aos 8 anos, na escola (olha a importância da escola), ela ouviu falar do que estava acontecendo no planeta e isso a impactou demais. Sofreu profundamente e se angustiou com tudo isso, mas em 2018, com 15 anos de idade, resolveu fazer greve escolar pelo clima. Sozinha, sentada no chão com o seu cartaz – School Strike for Climate -, nas sextas-feiras, “matava aula” na porta do Parlamento sueco. Alguém fotografou, postou e essa imagem viralizou. Essa menina se chamava Greta Thunberg. Seu ato individual, persistente e teimoso chamou a atenção e mais e mais pessoas foram se unindo ao movimento – Fridays for future (sextas-feiras pelo futuro). Um ano depois, em setembro de 2019, uma greve global pelo clima, ocorreu em 150 países com mais de 5 mil protestos.

Uma única pessoa, aqui um educador ou um estudante, por mais frágil que seja dentro de um sistema, é capaz de atuar e mobilizar os demais para irem além. Ninguém deveria pensar que o seu gesto individual não muda nada. Muda sim. É uma pessoa a mais ajudando a criar as condições para que uma nova consciência ecológica e de mentalidade vá se constituindo. Por outro lado, mesmo que uma lei, um governo ou sistema educacional venham a propor algo, sem que haja o engajamento dos indivíduos, muito pouco iremos avançar. De uma forma ou de outra, o indivíduo tem responsabilidades à medida que toma consciência da situação. Uma escola, uma rede de ensino, um ministro, um secretário da educação ou um diretor de escolar, não podem mais se manterem alheios ao que está acontecendo. Estamos falando de décadas de conhecimento científico disponível. Pesa sobre cada um de nós, adultos, uma responsabilidade social e geracional, com quem está hoje e com quem virá.

Reconhecemos que os adultos que hoje estão atuando nas escolas, ou estão na condição de pais e mães, não foram alfabetizados ecologicamente, como então serão alfabetizadores? Podemos pensar que ninguém ensina aquilo que não acredita ou que não entende.  Precisamos de estratégias sensíveis que utilizem a arte, imagens, argumentos e informações que nos mobilizem e convençam de que aquilo é urgente, relevante, necessário e imprescindível. Estamos falando de um conteúdo que, para além de definir nosso futuro no planeta, nos interpela, pois, mexe com o nosso modo acomodado de viver, cultura, tradição e opera em camadas mais profundas da nossa existência.

Mas que desafios de grandes proporções a educação é chamada a ajudar a resolver? Qual a nossa contribuição? O que educadores precisam saber, estudar e aprofundar?

III        O que não podemos mais ignorar?

Dos dez maiores riscos para a humanidade, nos próximos dez anos, cinco são riscos ambientais, segundo o Relatório de Riscos Globais (2024) desenvolvido pelo Fórum Econômico Mundial de Davos (World Economic Fórum, 2024), que coleta percepções de quase 1.500 especialistas globais. Segundo o relatório, “os riscos ambientais continuam a dominar o cenário de riscos”. Dois terços dos entrevistados classificam o clima extremo como principal risco e com a maior probabilidade de apresentar uma crise material em escala global em 2024, além de ser o segundo risco mais grave no período de dois anos. Os riscos ambientais dominam os quatros principais riscos globais por gravidade em um período de dez anos.  

Quando falamos dos impactos dos eventos climáticos extremos é preciso marcar que eles afetarão diretamente os mais pobres e vulneráveis. A escola é atravessada fortemente pelos problemas sociais, políticos, econômicos e agora pelos ambientais. Tudo isso calibrado, para mais ou para menos, dependendo da região onde se mora, da cor da pele, da condição socioeconômica, gênero ou religião. É aqui que nasce expressões como racismo ambiental e injustiça climática, que também precisam ser incorporados pela educação. Estudo publicado pela WayCarbon, em parceria com a organização Redes da Maré (Waycarbon e Redes da Maré, 2023), afirma que:

São as populações pobres, pretas e que habitam as periferias urbanas as mais vulneráveis e as mais atingidas pelos extremos climáticos. E após a destruição, são as que mais têm dificuldades de serem reparadas pelo Estado.

De igual modo, o Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) e parceiros (WMO, 2021), intitulado – Estado do Clima na África 2020, indicam que até 2023, as estimativas revelam que, pelo menos 118 milhões de pessoas extremamente pobres no continente estarão expostas à seca, inundações e calor extremo, o que impedirá o progresso em direção ao fim da pobreza. A injustiça climática se dá nesse caso pelo fato de a África produzir uma fração muito pequena das emissões globais de gases de efeito estufa.

Essa teia repleta de caroços e poucos laços repercutem fortemente nos sistemas de ensino. O sujeito da aprendizagem e da educação de que tanto falamos são meninas e meninos que já chegam até nós marcados por essas duras realidades. Mesmo sendo alguém com origem socioeconômica favorecida e com alto poder de compra, não é desejável que, por essas condições, sejam indiferentes ao que está acontecendo. 

Por fim, a complexidade se agrava quando esses eventos são pareados com outros riscos apontados que são: informações incorretas, polarização social e política. Esse dado é o anúncio de possíveis turbulências e que a temática não terá uma entrada tranquila na escola. É necessário embasamento científico, entendimento da faixa etária a que se destina o conteúdo, boas sequencias didáticas e uma apurada pesquisa do material didático a ser ofertado. Trata-se de um conhecimento multidisciplinar e transversal que não se restringe às Ciências da Natureza. Esse será um esforço extra para muito dos educadores, principalmente, para aqueles que se mantiveram alheios até o momento. 

IV        Conexões presentes e ausentes

A cultura e educação ecológicas têm temas que são mais explorados pelas escolas. De certa forma, estão inscritos na Encíclica Laudato Si (Francisco, 2015):

É muito nobre assumir o dever de cuidar da criação com pequenas ações diárias, e é maravilhoso que a educação seja capaz de motivá-las até dar forma a um estilo de vida. A educação na responsabilidade ambiental pode incentivar vários comportamentos que têm incidência direta e importante no cuidado do meio ambiente, tais como evitar o uso de plástico e papel, reduzir o consumo de água, diferenciar o lixo, cozinhar apenas aquilo que razoavelmente se poderá comer, tratar com desvelo os outros seres vivos, servir-se dos transportes públicos ou partilhar o mesmo veículo com várias pessoas, plantar árvores, apagar as luzes desnecessárias. (p.168, vrs.211)

Não podemos mais ignorar a forte interdependência entre todos esses fatores e variáveis, contudo, o que chega para os estudantes, muitas vezes também não tem contexto e ele não relaciona com a própria vida. Importante as advertências de Edgar Morin (2002, p.29):

Hoje, a nossa necessidade histórica é de encontrar um método que detecte e não que oculte as ligações, as articulações, as solidariedades, as implicações, as imbricações, as interdependências, as complexidades.

Sendo assim e com nossa visão mais alargada, traremos dois temas ausentes na pauta da educação. A Ecologia Integral requer um compromisso com a dimensão sagrada da vida, da natureza e do ser humano. Está implícito a vida em suas diferentes formas, ambientes e territórios e da preservação da biodiversidade. Há, contudo, uma dificuldade em encontrar a menção de outras vidas para além dos seres humanos, seja em nossos documentos, currículos ou nas discussões sobre sustentabilidade. O animal aparece sempre como recurso natural renovável. Será que somos os únicos habitantes e interessados na preservação do planeta e com direitos de existir?

Falamos de biodiversidade e precisamos falar mesmo já que a ciência afirma que estamos na 6ª extinção em massa, a ameaça ambiental mais séria à civilização, por já estar em andamento e por ser irreversível.  Michael Benton, paleontólogo que estudou a extinção no fim do Permiano, citado no livro – A sexta extinção, de KOLBERT (2015), utiliza uma metáfora para explicar o que é uma extinção em massa. Diz ele: “Durante uma extinção em massa, vários galhos da árvore são cortados, como se ela estivesse sendo atacada por homens brandindo machados” (s/p).   

Segundo os pesquisadores as espécies são elos nos ecossistemas e, à medida que caem, muito provavelmente levarão junto as outras espécies com as quais interagem. Já temos vários alertas de cientistas sobre a extrema urgência de ações globais maciças para salvar os sistemas cruciais de suporte à vida da humanidade.

Se por um lado extinguimos, do outro lado somos bizarros e criamos uma superpopulação artificial de animais para consumo humano. A população brasileira é de 220,2 milhões de pessoas (dados do dia 24 de abril de 2024) e o Rebanho bovino brasileiro é de 234,4 milhões de animais (IBGE, 2023). Podemos dizer que temos a relação um para um no tocante a um boi para um habitante do Brasil. De qualquer forma, isso só é possível graças à voracidade com que avançamos para cima dos corpos dos animais, para atender as nossas demandas e caprichos ilimitados. Para esses, temos autorização legal, dada por nós mesmos, para avançamos sobre seus corpos, territórios, ambientes, e, anestesia ética, para separamos os filhotes de suas mães, inseminar anualmente as fêmeas, sufocar ou macerar pintinhos machos que não “prestam” para a indústria do ovo, confinar e reduzir sua locomoção e assim, aumentar a sua produtividade e população. Persistimos, considerando as outras espécies, como coisas passíveis da nossa exploração e domínio. Caminhamos para um planeta que existirá somente nós e os animais que iremos comer. Se é que é sustentável um planeta assim.  

Esse contexto nos leva a outras perguntas ignoradas: qual a relação dos sistemas alimentares e a emergência climática? O que seria o tema da nutrição do ponto de vista dos direitos humanos? A produção de alimentos tem relação direta com a degradação ambiental e a perda da biodiversidade, pois essas comprometem a resiliência dos sistemas alimentares.

Estudo inédito publicado pelo Observatório do Clima (2023), calcula em 1,8 bilhão de toneladas a emissão bruta de gases-estufa por sistemas alimentares; isso representa 74% das emissões de gases de efeito emitidos pelo Brasil. Somente a cadeia da carne emite 1,4 bilhão, mais que o Japão. Em que momento nos perguntamos que cadeia produtiva é essa? Produz o quê? Como são seus processos? Alimenta a quem?

Levantamento feito pelo Observa Infância da Fiocruz (2023) que utilizou dados do Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN), demonstram que o Brasil está acima da média global e da América Latina, no tocante ao sobrepeso e obesidade, em crianças menores de 5 anos e adolescentes de 10 a 18 anos. A má alimentação também se apresenta na forma de sobrepeso, sendo um problema da pobreza (compro o que o dinheiro dá e quase sempre o disponível é de má qualidade nutricional) e do nível educacional. A pouca quantidade de nutrientes ou “fome oculta” ou “fome silenciosa”, afeta mundialmente cerca de 2 bilhões de pessoas.

A transição não é somente energética, ela é também alimentar. O que nós ensinamos sobre nutrição e alimentação em nossas escolas? Que modelos reproduzimos? Concordamos que não se deve direcionar as escolhas daquilo que as pessoas irão comer. A responsabilidade da escola é o ensino de qual nutrientes necessitamos para uma nutrição que traga saúde, disposição e vitalidade e quais são as fontes de cada um deles, seja de origem animal ou vegetal.

V         Considerações Finais

Vivenciaremos, hoje, e não no futuro, mudanças rápidas nos sistemas de produção e consumo, na forma como lidamos com o solo, geramos energia, nos movemos, produzimos, moramos e, principalmente, como nos alimentamos. A crise climática, com tudo que ela carrega, traz para a cena novos conhecimentos que precisarão ser mobilizados, além de um novo jeito de viver, e isso já nos próximos seis anos. Projetos Pedagógicos que coloquem a vida em primeiro lugar, além de preparar nossos estudantes para esse mundo é uma questão ética e de honestidade intelectual.

Como esses assuntos podem entrar na pauta da escola? As temáticas são duras e áridas. Precisamos diferenciar o que é conhecimento que o professor precisa ter para dar boas aulas e aquilo que precisa chegar, com as devidas adequações, até a criança de 3 anos ao adolescente de 17. Não podemos receber e jogar sobre elas toda a carga de informação sobre a destruição do planeta sem que haja um filtro e adequação. Isso é difícil e sério. Imagine uma criança de 8 anos tendo uma aula sobre o degelo do Ártico, a elevação do nível dos oceanos ou sobre outros eventos climáticos extremos. Podemos gerar nelas a síndrome da angústia ambiental, expressão que tomo emprestado do livro Educação Ambiental de Genebaldo Freire Dias. Enquanto concluo essa reflexão, o Brasil assiste atônito a tragédia no Rio Grande do Sul. Não é mais possível esconder essa realidade das crianças. Elas assistem. Elas são vítimas. Ao se depararem diariamente com notícias de agressão aos animais, as florestas e rios, instala-se em seus pensamentos a sensação de indignação e impotência, que ainda não sabem nomear e nem endereçar. Afundam no conteúdo da catástrofe.

Ainda podemos dar essa notícia preparando-as corretamente, com embasamentos científicos sistematizados de modo a contemplar a maturidade e desenvolvimento. Digo aos educadores que revejam suas metodologias.Crianças precisam de encantamento ao observarem e estudarem os ciclos da natureza, suas estações, a diversidade de plantas e de animais, como vivem, quanto tempo vivem, como cuidam dos seus filhotes, o que cura, o que alimenta ou o que é veneno. Ao apresentar como deveria ser, elas passam a ter referências e memórias afetivas que serão acessadas, quando necessário for, estranhar e questionar aquilo que é contrário à promoção da vida. A proposta é despertar nas crianças, jovens e adultos atitudes mentais e amorosas para que elas possam criar comunidades sustentáveis.

Email:  aleluia@redelius.com.br

Referências

COPERNICUS. Montlhy Climate Bulletin. March 2024 – 10th consecutive record warm month globally. 2024. <https://climate.copernicus.eu/march-2024-10th-consecutive-record-warm-month-globally>.  Acesso em: 04/05/2024.

CRUTZEN, P. Geology of mankind. Nature 415, 23. 2002. <https://doi.org/10.1038/415023a>

FIOCRUZ. Obesidade em crianças e jovens cresce no Brasil na pandemia. 2023.

https://portal.fiocruz.br/noticia/obesidade-em-criancas-e-jovens-cresce-no-brasil-na-pandemia. Acesso em: 09/05/2024

FRANCISCO, Papa. Laudato Si: Carta Encíclica sobre o cuidado da casa comum. Brasília: CNBB. 2015.

IBGE. Rebanhos e valor dos principais produtos origem animal foram recordes em 2022. 2023. <https://agenciadenoticias.ibge.gov.br/agencia-noticias/2012-agencia-de-noticias/noticias/37937-rebanhos-e-valor-dos-principais-produto-de-origem-animal-foram-recordes-em-2022>. Acesso em 07/05/2024

KOLBERT, Elizabeth (2015). A sexta extinção em massa: uma história não natural. Editora Intrínseca Ltda. Edição Digital, 2015.

MORIN, Edgar. O Método 1- A natureza da natureza. Porto Alegre: Sulina, 2002.

OBSERVATÓRIO DO CLIMA. Produção do Clima responde por 74% das emissões do Brasil. 2023. https://www.oc.eco.br/producao-de-comida-responde-por-74-das-emissoes-do-brasil/. Acesso 09/05/2024.

PARLAMENTO EUROPEU. Parlamento europeu declarou emergência climática. 2019. <https://www.europarl.europa.eu/news/pt/press-room/20191121IPR67110/parlamento-europeu-declara-emergencia-climatica&gt;. Acesso 01/05/2024.

RIPPLE, William J., Christopher Wolf, Thomas M Newsome, Phoebe Barnard, William R Moomaw.  World Scientists’ Warning of a Climate Emergency. BioScience 70, 1, 8-12. 2020. <https://doi.org/10.1093/biosci/biz088>. Acesso: 07/04/2024

SCHMIDT, G. (2024). Climate models can’t explain 2023’s huge heat anomaly – we could be in uncharted territory. Nature, 627, 467. 2024. <https://www.nature.com/articles/d41586-024-00816-z&gt;. Acesso: 04/05/2024.

WAYCARBON, REDES DA MARÉ. Análise de Riscos e Vulnerabilidades Climáticas do Conjunto de Favelas da Maré. 2023 <https://www.redesdamare.org.br/media/downloads/arquivos/Analise_de_Risco_WayCarbon.pdf> . Acesso: 30/04/2024.

World Economic Forum. Global Risks Report 2024.

<https://www.weforum.org/publications/global-risks-report-2024/> Acesso 08/04/2024.

 

WMO. State of the Climate in Africa 2020. 2021. <https://library.wmo.int/idurl/4/57682&gt;. Acesso 07/05/2024.

 

 Llegó la factura: la tragedia climática en Río Grande del Sur-Brasil

Leonardo Boff*

Interrumpo mi reflexión sobre los vectores de la crisis sistémica actual y las eventuales salidas de la crisis, debido a la tragedia ambiental ocurrida en Río Grande del Sur. Las intensas lluvias y las catastróficas inundaciones, con las aguas invadiendo ciudades  enteras, destruyéndolas en parte, desplazando a centenares de familias, causando miles de desplazados o de desaparecidos y muertos, nos hacen pensar.

Ante todo nuestra profunda solidaridad con las poblaciones alcanzadas por esta calamidad de proporciones bíblicas. Les expresamos nuestra com-pasión, pues como enseñaba Santo Tomás en la Suma Teológica “la compasión en sí es la virtud mayor. Pues hace parte de la compasión derramarse sobre los otros – y lo que es aún más– ayudar en la flaqueza y el dolor de los otros”. Todo el país se movilizó. El pueblo brasilero mostró lo mejor de sí, su capacidad de solidaridad y disposición de ayuda, a pesar de los malvados que explotan la desgracia para fines particulares y mediante mentiras y calumnias.

Sería erróneo pensar que solo se trata de una catástrofe natural, dado que cada cierto tiempo ocurren fenómenos semejantes. Esta vez la naturaleza de la tragedia tiene otro origen. Tiene que ver con la nueva fase en la que ha entrado el planeta Tierra: el establecimiento de una nueva etapa, caracterizada por el aumento del calentamiento global. Todo esto es de origen antropogénico, es decir, producido por los seres humanos y más específicamente por el capitalismo anglo-sajón, devastador de los equilibrios naturales.

Hay negacionistas en todas las esferas, especialmente entre los CEOS de las grandes empresas y en aquellos que se sienten bien en una posición de privilegio, asentados sobre una situación de confort. Pero la avalancha de trastornos en los climas, la irrupción de eventos extremos, las oleadas de calor intenso y de sequías severas, los grandes incendios, los tornados y la inundaciones pavorosas constituyen fenómenos innegables. Está tocando la piel de los más resistentes. Ellos también han comenzado a pensar.

Considerando la historia del planeta, que existe ya desde hace más de 4 mil millones de años, constatamos que el calentamiento global participa de la evolución y del dinamismo del universo; este está siempre en movimiento y adaptándose a las circunvoluciones energéticas que vienen sucediendo a lo largo del proceso cosmogénico. Así el planeta Tierra conoció muchas fases, algunas de frío extremo, otras de extremo calor como hace 14 millones de años. En esta época de calor extremo todavía no existía el ser humano que solamente irrumpió en África hace 7-8 millones de años y el homo sapiens actual hace solo 200 mil años.

El propio ser humano pasó por varias etapas en su diálogo con la naturaleza: inicialmente predominaba una interacción pacífica con ella; luego pasó a una intervención activa en sus ritmos, desviando cursos de ríos para la irrigación, cortando territorios para carreteras; después pasó a una verdadera agresión a la naturaleza, precisamente a partir del proceso industrialista que se aprovechó de los recursos naturales para la riqueza de algunos a costa de la pobreza de las grandes mayorías; esta agresión ha conducido, mediante tecnologías eficientes, a una verdadera destrucción de la naturaleza, al devastar ecosistemas enteros por la deforestación, en función de la producción de commodities, por el mal uso del suelo impregnándolo de agrotóxicos, contaminando las aguas y los aires. Estamos en plena fase de destrucción de las bases naturales que sustentan nuestra vida. Digamos el nombre: es el modo de producción/devastación del sistema capitalista anglosajón hoy globalizado, con sus mantras: maximización del lucro a través de la superexplotación de los bienes y servicios naturales, en el marco de una feroz competición sin el más mínimo atisbo de colaboración.

Este proceso ha tenido un gran coste, que ni siquiera ha sido tenido en cuenta por los operadores de este sistema. Los daños naturales y sociales han sido considerados como efectos colaterales que no entraban en la contabilidad de las empresas. Al estado y no a ellos cabía enfrentar tales tasas de iniquidad.

La Tierra viva empezó a reaccionar enviando virus, bacterias, todo tipo de enfermedades, huracanes, fuertes tempestades y finalmente un aumento de su temperatura natural, que ha entrado en ebullición. Hemos iniciamos un camino sin vuelta. Son los gases de efecto invernadero: el CO2, el metano (28 veces más dañino que el CO2), el óxido nitroso y el azufre, entre otros. Sólo en 2023 fueron lanzados a la atmósfera 40,8 millones de toneladas de dióxido de carbono, según consta en el informe de la COP 28, realizada en el Cairo.

Veamos los niveles de crecimiento de ese gas: en 1950 las emisiones eran de 6 mil millones de toneladas; en 2000 ya eran 25 mil millones; en 2015 subieron a 35.600 millones; en 2022 fueron 37.500 millones y finalmente en 2023, como referimos, fueron 40.900 millones de toneladas anuales. Ese volumen de gases funciona como una estufa, impidiendo que los rayos del sol retornen al universo, creando una capa caliente que ocasiona el calentamiento de todo el planeta. Hay que añadir que el dióxido de carbono, CO2, permanece en la atmósfera cerca de 100 a 110 años.

¿Cómo puede la Tierra digerir semejante contaminación? El acuerdo de París en la COP de 2015 establecía cotas de reducción de esos gases con la creación de energías alternativas (eólica, solar, de las mareas). Nada sustancial se ha hecho. Ahora ha llegado la factura a ser pagada por toda la humanidad: un calentamiento irreversible que volverá inhabitables algunas regiones del planeta en África, en Asia y también entre nosotros.

Lo que estamos presenciando en Río Grande del Sur es solo el comienzo de un proceso que, al mantenerse el tipo actual de civilización dilapidadora de la naturaleza, tiende a empeorar. Los propios climatólogos alertan: la ciencia y la técnica han despertado demasiado tarde ante este cambio climático. Ahora no podrán evitarlo, solo advertir la llegada de eventos extremos y mitigar sus efectos dañinos.

Tierra y Humanidad deberán adaptarse a este cambio climático. Los mayores y los niños así como muchos organismos vivos tendrán dificultad para hacerlo, van a sufrir mucho y tal vez morir. La Madre Tierra de aquí en adelante conocerá transformaciones nunca antes habidas. Algunas podrán destruir las vidas de miles de personas. Si no lo cuidamos, el planeta entero podrá volverse hostil a la vida de la naturaleza y a nuestra vida. Al final, podríamos hasta desaparecer. Sería el precio de nuestra irresponsabilidad, inhumanidad y descuido de la naturaleza que nos da todo para vivir. No hemos conseguido pagar la factura.

*Leonardo Boff ha escrito Cómo cuidar de la Casa Común: cómo aplazar el fin del mundo, Vozes 2024; El doloroso parto de la Madre Tierra, Vozes 2021; La búsqueda de la justa medida: cómo equilibrar el planeta Tierra, Vozes 2021.

Traducción de MªJosé Gavito Milano

A conta chegou: a tragédia climática no Rio Grande do Sul

Leonardo Boff

Interrompo minha reflexão sobre os vetores da crise sistêmica atual e as eventuais saídas da crise, em razão da tragédia ambiental ocorrida no Rio Grande do Sul. As intensas chuvas e as catastróficas enchentes, com as águas invadindo cidades  inteiras, destruindo-as em parte, deslocando centenas de famílias, causando milhares de refugiados ou de desaparecidos e mortos, nos fazem pensar.

Antes de mais nada nossa profunda solidariedade às populações atingidas por esta calamidade de proporções bíblicas.Expressamos nossa com-paixão,pois como ensinava Santo Tomás na Suma Teológica “a compaixão em si é a virtude maior. Pois faz parte da compaixão derramar-se sobre os outros – e o que é mais ainda-  ajudar a fraqueza e a dor dos outros”. Todo o país se mobilizou. O povo brasileiro mostrou o melhor de si, sua capacidade de solidariedade e disposição de ajuda, a despeito dos perversos que exploram a desgraça para fins particulares e por mentiras e calúnias.

Seria errôneo pensar que se trata apenas de uma catástrofe natural, pois de tempos em tempos ocorrem fenômenos semelhantes. Desta vez a natureza da tragédia possui outra origem. Temos a ver com a nova fase em que entrou o planeta Terra:a instalação de um novo estágio, caracterizado pelo aumento do aquecimento global. Tudo isso de origem antropogênica, quer dizer, produzida pelos seres humanos mas mais especificamente pelo capitalismo anglo-saxão,devastador dos equilíbrios naturais.

Há negacionistas em todos as esferas, especialmente entre os CEOS das grandes empresas e naqueles que se sentem bem na situação de privilégio, assentados sobre uma situação de conforto. Mas a avalanche de transtornos nos climas, a irrupção de eventos extremos, as ondas de calor intenso e de secas severas, os grandes incêndios, os tornados e as enchentes apavorantes, constituem fenômenos inegáveis. Está tocando a pele dos mais resistentes. Começaram também eles a pensar.

Considerando a história do planeta que já existe há mais de 4 bilhões de anos, constatamos que  aquecimento global participa da evolução e do dinamismo do universo;  este está sempre em movimento e se adaptando às circunvoluções energéticas que ocorrem no decorrer do processo cosmogênico. Assim o planeta Terra conheceu muitas fases, algumas de extremo frio, outras de extremo calor como há 14 milhões de anos. Nesta época de calor extremos não existia ainda o ser humano que somente irrompeu na África há 7-8 milhões de anos e o homo sapiens atual há apenas 200 mil anos.

 O próprio ser humano percorreu várias etapas em seu diálogo com a natureza: inicialmente predominava uma interação pacífica com ela; depois passou a uma intervenção ativa nos seus ritmos, desviando cursos de rios para a irrigação, cortando territórios para estradas; passou para uma verdadeira agressão da natureza, precisamente a partir do processo industrialista que se aproveitou dos recursos naturais para a riqueza de alguns à custa da pobreza das grandes maiorias; esta agressão foi levada por tecnologias eficientes a uma verdadeira destruição da natureza, ao devastar inteiros ecossistemas, pelo desflorestamento em função da produção de commodities, pelo mau uso do solo impregnando-o de agrotóxicos, contaminando as águas e os ares.Estamos em plena fase de destruição das bases naturais que sustentam nossa vida. Digamos o nome: é o modo de produção/devastação do sistema capitalista anglo-saxão hoje globalizado, com seus mantras: maximização do lucro através da superexploração dos bens e serviços naturais, no quadro de severa competição sem qualquer laivo de colaboração.

Este processo teve um pesado custo, sequer tomado em conta pelos  operadores deste sistema. Os danos naturais e sociais  eram considerados como efeitos colaterais que não entravam na contabilidade das empresas. Ao estado e não a eles cabia enfrentar tais taxas de iniquidade.

A Terra viva começou a reagir enviando vírus, bactérias, todo tipo de doenças, tufões, tempestades rigorosas e por fim um aumento de sua temperatura natural. Ela entrou em ebulição. Iniciamos um caminho sem volta. São os gazes de efeito estufa:o CO2, o metano (28 vezes mais danoso que o CO2), o óxido nitroso e o enxofre entre outros.Só em 2023 foram lançados na atmosfera 40,8 milhões de toneladas de dióxido de carbono, com consta no relatório da COP 28, realizada no Cairo.

Vejamos os níveis de crescimento desse gás: em 1950 as emissões eram de  6 bilhões de toneladas; em 2000 já eram 25 bilhões;em 2015 subiu para 35,6 bilhões; em 2022 foram 37,5 bilhões e finalmente em 2023,como referimos, foram 40,9 bilhões de toneladas anuais.Esse volume de gazes funciona como uma estufa, impedindo que os raios do sol retornem para o universo, criando uma capa quente, ocasionando o aquecimento do inteiro planeta. Acresce dizer que o dióxido de carbono,CO2, permanece na atmosfera por cerca de 100 a 110 anos.

Como a Terra pode digerir semelhante poluição? O acordo de Paris na COP de 2015 estabelecia cotas de redução desses gazes com  a criação de energias alternativas (eólica, solar, das marés). Nada de substancial foi feito. Agora chegou a conta a ser paga por toda a humanidade: um aquecimento irreversível que tornará algumas regiões do planeta na África, na Ásia e também entre nós, inabitáveis.

O que estamos assistindo no Rio Grande do Sul é apenas o começo de um processo que, mantido o tipo atual de civilização dilapidadora da natureza, tende a piorar. Os próprios climatólogos alertam: a ciência e a técnica despertaram tarde demais para essa mudança climática. Agora não poderão evitá-la, apenas advertir da chegada de eventos extremos e de  mitigar seus efeitos danosos.

Terra e Humanidade deverão adaptar-se a essa mudança climática. Idosos e crianças e muitos organismos vivos terão dificuldade de adaptação e irão sofrer muito e até morrer. A Mãe Terra daqui por diante conhecerá transformações nunca dantes havidas. Algumas podem dizimar as vidas de milhares de pessoas. Se não cuidarmos, o planeta inteiro poderá ser hostil à vida da natureza e à nossa vida. No seu termo, poderemos até desaparecer. Seria o preço de nossa irresponsabilidade, desumanidade e descuido da natureza que  tudo nos dá para viver.Não conseguimos pagar a conta.

Leonardo Boff escreveu Como cuidar da Casa Comum: como protelar o fim do mundo, Vozes 2024; O doloroso parto da Mãe Terra, Vozes 2021; A busca da justa medida: como equilibrar o planeta Terra,  Vozes 2021.

Warum ist gesellschaftspolitisches Engagement heute so schwierig?

     Leonardo Boff

Wir erleben derzeit einen besorgniserregenden Rückzug der Basis und verschiedener sozialer Bewegungen, vor allem der politischen, aus dem Engagement für die Umgestaltung der Gesellschaft, sei es auf nationaler oder globaler Ebene. Es ist wichtig zu erkennen, dass es ein starkes Gefühl der Ohnmacht und auch der Melancholie gibt. Abgesehen davon erleben wir auch, dass die Universitätsjugend in den zentralen Ländern (USA und Europa) gegen die unverhältnismäßige, wahllose und volksmörderische Reaktion des Staates Israel gegen die Bevölkerung des Gazastreifens als Reaktion auf den Terrorakt der Hamas am 7. Oktober letzten Jahres rebelliert.

Das politische Establishment, das die Welt vom globalen Norden aus dominiert, reagiert mit ungewöhnlicher Gewalt gegen die Demonstranten. In Deutschland wird jede Demonstration für die Palästinenser im Gazastreifen offiziell verboten und dann beim kleinsten Anzeichen von Unterstützung für die palästinensische Sache und gegen den dort stattfindenden Völkermord unterdrückt. In den USA nimmt die polizeiliche Repression gewaltsame Züge an, die sich gegen Studenten und Universitätsprofessoren und sogar gegen einen Präsidentschaftskandidaten richten.

Bei uns in Brasilien und in Lateinamerika im Allgemeinen gibt es keine öffentlichen Demonstrationen, nicht einmal gegen den Völkermord, insbesondere an 14.000 kleinen Kindern, und den Tod von etwa 80.000 Bürgern unter schwerem israelischen Bombardement, bei dem in krimineller Weise künstliche Intelligenz (KI) eingesetzt wird, um bestimmte Menschen und ihre gesamten Familien in ihren eigenen Häusern zu ermorden.

Wir müssen versuchen zu verstehen, warum diese Trägheit entstanden ist. Ich werde einige Punkte erwähnen, die uns einen Einblick in die derzeitige Situation geben, sowohl angesichts der ernsten Lage in der Ukraine, die von der russischen Brutalität verwüstet wird, als auch angesichts des Massakers und des Völkermords im Gazastreifen.

In weiten Teilen der Gesellschaft, insbesondere im Globalen Süden, aber auch in Teilen des Globalen Nordens, herrscht ein starkes Gefühl der Ohnmacht. Erstens hat sich das kapitalistische System in seiner verschärftesten Ausprägung des Neoliberalismus der Wiener/Chicagoer Schule objektiv der ganzen Welt aufgezwungen. Diejenigen, die sich dagegen wehren, sind politischer und ideologischer Unterdrückung und schließlich Staatsstreichen ausgesetzt, wie im Fall der Amtsenthebung von Dilma Russeff. Ziel ist es, das durchzusetzen, was Carl Polanyi 1944 „Die große Transformation“ nannte: den Übergang von einer Marktgesellschaft zu einer reinen Marktgesellschaft. Mit anderen Worten, alles wird zur Ware: menschliches Leben, Organe, Saatgut, Wasser, Lebensmittel, alles wird auf den Markt gebracht und erhält seinen Preis. Dies wurde bereits 1847 von Marx in „Das Elend der Philosophie“ vorausgesagt.

Diese objektive Tatsache ruft eine subjektive Reaktion hervor: Man beginnt, die Welt ohne Hoffnung zu sehen, dass es keine brauchbare Alternative zu dieser globalisierten Ungeheuerlichkeit gibt. Dies wird durch TINA (There is no Alternative) ausgedrückt: „Es gibt keine Alternative“. Die Folge ist ein Gefühl der Ohnmacht und verdrängte Enttäuschung. Dies führt zu einer defätistischen Haltung, die besagt, dass es sich nicht lohnt, gegen das System anzugehen, weil es zu groß ist und wir zu klein sind. Sie sind gezwungen, Zugeständnisse zu machen, um in einer zutiefst ungleichen und ungerechten Welt zu überleben, was Melancholie erzeugt. Melancholie bricht aus, wenn es kein Licht am Ende des Tunnels gibt. Warum sollte man sich also für eine Alternative einsetzen, die keine Aussicht auf Erfolg hat? Diese Art von Welt ist hoffnungslos, denken nicht wenige. Wir müssen uns an sie anpassen, um so wenig wie möglich zu leiden.

Ein zweiter Punkt ist die perverse Strategie des herrschenden Systems: die Schaffung einer Kultur des Konsums. Es werden so viele begehrenswerte Objekte wie möglich angeboten, auch wenn mehr als 90 % davon völlig nutzlos und unnötig sind. Es geht darum, eine der mächtigsten Kräfte der menschlichen Psyche zu manipulieren: das Begehren, dessen Natur bereits von Aristoteles erkannt und von Freud als unbegrenzt bestätigt wurde. Namhafte Psychologen (z. B. Mary Gomes und Allen Kenner) haben bereits gesagt, dass „dies das größte psychologische Projekt ist, das die menschliche Spezies je hervorgebracht hat“: zu verhindern, dass die Bürger sich als Bürger verstehen und zu einfachen Konsumenten und konsumsüchtigen Verbrauchern werden.

Um sie zu verführen, werden Billionen von Dollar für die Werbung in den Massenmedien und mit allen möglichen Mitteln der Verführung ausgegeben. Dies entspricht dem Sechsfachen der jährlichen Investitionen, die erforderlich sind, um der gesamten Menschheit hochwertige Lebensmittel, Gesundheit, Wasser und Bildung zu garantieren. Eine größere Perversität kann man sich kaum vorstellen. Aber sie ist in der allgemeinen Lebensweise der Menschheit, die daraus hervorgegangen ist, vorherrschend.

Verinnerlichte Ohnmacht und Melancholie führen dazu, dass die Mehrheit der Menschen, und leider auch die jungen Menschen, nicht ermutigt werden, sich sozial und politisch in einer Bewegung oder einem Projekt zur Veränderung zu engagieren. Die Bildung in formalen Institutionen ist entscheidend für die Sozialisierung dieser Lesart der Realität. Vandana Shiva, eine große Wissenschaftlerin und feministische Ökologin aus Indien, nennt dies die „Monokultur der Köpfe“. Diese Monokultur erzeugt bei den Schülern das naive Bewusstsein, dass dies die gute und wünschenswerte Welt ist. Sie erkennen nicht, dass sie vom herrschenden System vereinnahmt und zu dessen Reproduzenten gemacht werden.

Gegen all dies setzte Paulo Freire sein erzieherisches und befreiendes Projekt, das mit der „Pädagogik der Unterdrückten“ und der „Erziehung als Praxis der Freiheit“ begann und mit der „Erziehung mit Liebe und Hoffnung“ endete. Er prägte den Ausdruck „hoffen“: sich nicht zurücklehnen und darauf warten, dass sich die Dinge von selbst ändern, sondern die Bedingungen dafür schaffen, dass die Hoffnung ihre transformativen Ziele erreichen kann.

Wie können wir uns von einem naiven, manipulierten Bewusstsein befreien? Der Prozess der Bewusstseinsbildung reicht nicht aus, denn kritisch zu verstehen, was geschieht, bedeutet nicht, zu ändern, was geschieht. Wir müssen zu einer alternativen Praxis übergehen und dem herrschenden System ein anderes, egalitäres, nicht konsumorientiertes Gesellschaftsparadigma entgegensetzen, das solidarisch ist mit einer Produktionsweise, die auf den Rhythmen der Natur basiert (Agrarökologie und Kreislaufwirtschaft), und einer anderen Art von ökologisch-sozialer Demokratie von unten nach oben, in der die Rechte der Natur und der Mutter Erde anerkannt werden, um das Ganze, die Menschheit und die Natur, im großen gemeinsamen Haus, der Mutter Erde, zu schaffen.

(Die Reflexion, die Suche nach Alternativen, wird im nächsten Artikel folgen)

Übersetzt von Bettina Goldhacker