Un’escalation della guerra Russia-Ucraina potrebbe mettere in pericolo la vita sulla Terra

               Leonardo Boff

Sempre più spesso si sente parlare di un’escalation della guerra tra Russia e Ucraina, provocata dallo stesso Putin che alla fine ha ammesso, l’eventuale uso di armi nucleari tattiche. Non distruggono molto, ma la radioattività emessa potrebbe rendere la regione inabitabile per molti anni. La ragione fondamentale è che la Russia non può perdere la guerra.

Questa situazione è peggiorata quando la NATO, sotto la pressione degli Stati Uniti, ha esteso la sua azione offensiva dall’Atlantico al Pacifico con l’adesione del Giappone, della Corea del Sud, dell’Australia e della Nuova Zelanda.

La NATO si è vergognosamente sottomessa alla volontà imperiale degli USA. Sembra che non abbia imparato nulla dalle due guerre del XX secolo in Europa che hanno fatto 100 milioni di vittime.

Si sa oggi che dietro la guerra che si sta svolgendo in Ucraina, c’è uno scontro tra USA e Russia/Cina al fine di chi detiene il dominio geopolitico del mondo. Finora ha prevalso un mondo unipolare con il predominio completo degli USA.

Il nostro maestro in geopolitica Luiz Alberto Moniz Bandeira (1935-2017) nel suo minuzioso libro ‘A desordem mundial:o espectro da total dominação (Civilização Brasileira, RJ 2016) ha evidenziato, chiaramente, i tre mantra fondamentali del Pentagono e della politica estera nord-americana:

  • one World-one Empire (USA);
  • full spectrum dominance: dominare l’intero spettro della realtà, sulla terra, nel mare e nell’aria con circa 800 basi militari distribuite in tutto il mondo;
  • destabilizzare tutti i governi dei paesi che resistono o si oppongono a questa strategia imperialista come è avvenuto in Honduras, in Bolivia e nel Brasile con il golpe contro Dilma Rousseff nel 2016 e poi con l’ingiusta detenzione di Lula.

Gli USA non rinunciano al loro proposito di essere l’unica potenza mondiale. Si dà il caso che l’impero nord-americano sia alla deriva, per quanto faccia ancora appello al suo eccezionalismo e al “destino manifesto”, secondo il quale gli USA sarebbero il nuovo popolo di Dio che porterà alle nazioni democrazia, libertà e diritti (sempre inteso all’interno del codice capitalista).

Nel frattempo, la Russia si è armata con potenti armi nucleari, con missili inattaccabili e sta disputando per essere parte della leadership nel processo di globalizzazione. Ha fatto irruzione la Cina con nuovi progetti come la ‘via della seta’ e come potenza economica che ha già superato quella nord-americana. In parallelo a ciò è emerso nel Sud Globale, un gruppo di paesi il cui acronimo è BRICS di cui il Brasile partecipa. In altre parole, non esiste più un mondo unipolare, ma multipolare.

Questo fatto esaspera l’arroganza dei suprematisti neocon che affermano che è necessario continuare la guerra in Ucraina per dissanguare ed eventualmente devastare la Russia e neutralizzare la Cina per affrontarla in una fase successiva. In questo modo torneremmo al mondo unipolare.

Ecco qui gli elementi che possono generare una terza guerra mondiale che sarà terminale. Papa Francesco, nella sua chiara intuizione, ha più volte detto che siamo già nella “terza guerra mondiale a pezzi”. Per questo afferma con tono quasi disperato (ma sempre personalmente speranzoso) che “siamo tutti sulla stessa barca; o ci salviamo tutti o non si salva nessuno” (Fratelli tutti n.32). È la ragione diventata irrazionale e impazzita. Il segretario generale delle Nazioni Unite, António Guterres, ha spesso ripetuto: “l’unica alternativa è la cooperazione di tutti o il suicidio collettivo”.

Perché l’occidente europeo ha optato per la volontà di potenza e non per la volontà di vivere di pacifisti come Albert Schweitzer, Leon Tolstoy, Mahatma Gandhi, Luther King Jr e Dom Helder Câmara? Perché l’Europa, che ha prodotto una grande cultura e tanti geni, santi e sante, ha scelto questa strada che potrebbe devastare l’intero pianeta fino a renderlo inabitabile? Ha lasciato irrompere, senza controllo, il più pericoloso degli archetipi – secondo C.G.Jung – quello del potere, capace di auto-distruggerci? Ecco un mistero della storia umana da decifrare.

Perché è in questo Dio vivente e fonte di vita che riponiamo la nostra ultima speranza. Questo va oltre i limiti della scienza e della ragione strumentale-analitica. È l’atto di fede che rappresenta anche una virtualità presente nel processo cosmo-genico globale. L’alternativa a questa speranza è l’oscurità. Ma la luce ha più diritti dell’oscurità. In questa luce noi crediamo e speriamo.

(traduzione dal portoghese di Gianni Alioti)

Publicidade

Se Deus existe como as coisas existem,então Deus não existe

                                    Leonardo Boff

“Deus não existe”, estimava o físico e  astrônomo Stephen Hawking  que morreu em março de 2018. Retrucarei com um filósofo e teólogo medieval, dos mais perspicazes, a ponto de se chamado de “doutor sutil”, o franciscano escocês Duns Scotus (1266-1308):”Se Deus existe como as coisas existem, então Deus não existe”.

Ambos, Hawking e Scotus, têm razão. O famoso físico e identificador dos “buracos negros” se move dentro da bolha da física, daquilo que pode ser medido, calculado e feito objeto de experimentação empírica. Buscar Deus dentro deste paradigma significa não poder encontrar Deus porque Deus não é uma coisa, com as características das coisas, por minúsculas que sejam (um topquark ou o bóson de Higgs) ou pelas maiores que se apresentem como o conglomerado de galáxias de tamanho incalculável. O máximo que a razão poderia dizer é que Deus é o “Ser que faz ser todas as coisas”, não sendo uma coisa.

Então, a partir da física, vale  afirmação de que “Deus, de fato, não existe”. Só que a física não é a única janela de acesso ao real.

Há outras realidades que, por não serem físicas, não deixam de ser realidades. Assim um minhoca jamais entenderá uma música de Vila Lobos, nem o coronavírus saberá apreciar um quadro de Tarcila.São realidades de natureza diferente.

Duns Scotus tem também razão porque, ao nos referirmos a Deus, sustenta ele, estamos pensando numa Última Realidade que transcende todos os limites da física, do espaço e do tempo ou de qualquer outra forma de conhecimento. É o Inominável e o Inefável, Aquele que não cabe em nenhuma linguagem, nem em nenhum dicionário.  Deus não é um fato da realidade palpável que pode ser captada e dita. Por sua natureza Ele está além dos fatos. Ele é Aquele face ao qual devemos,reverentemente, calar, expressando o Nobre Silêncio. Essa é a verdadeira posição do pensamento radical que se expressa pela filosofia e pela teologia, tão bem elaborado nos escritos de Duns Scotus Enfatizando: Ele é o Mistério que transcende qualquer realidade dada, mensurável ou captável pelo ser humano. Quem viu claro isso foi o filósofo vienense Ludwig Wittgenstein (1889-1951) em seu famoso Tractatus Logico-philosophicus (1921) ao dizer:”A ciência estuda como o mundo é; o místico se admira que o mundo é. Seguramente existe o Inefável. Isso se mostra, é o  místico….Sobre aquilo que não podemos falar,devemos calar”(aforismo 6 .522).

Aqui ressoa a frase famosa de Gottfried  Leibniz (1646-1716): “por que existe o ser e não o nada”? A essa questão não cabe resposta: é o Mistério do ser, face ao nada. Face ao Mistério do ser, deve-se antes  calar do que falar, porque tudo o que dissermos fica aquém do Mistério que é Inefável e Inexprimível e já supõe que estamos no ser.

 Mas não estando no horizonte das coisas, Deus no entanto está no horizonte do sentido. Por isso assevera Wittgenstein: “Crer num Deus significa compreender a questão do sentido da vida. Crer num Deus significa perceber que ainda nem tudo está decidido com os fatos do mundo. Crer em Deus significa perceber que a vida tem um sentido”(Id.ibd).

Mas voltemos a Hawking: todos os grandes cientistas a começar por Newton que introduziu o matematismo na natureza, passando por Einstein e outros, chegando ao genial inglês, buscavam uma fórmula que desse conta de toda a realidade. O intento era uma “Teoria do Tudo” (TOE em inglês: Theory of Everything) ou também chamada de “Teoria da Grande Unificação”(TGU).

Há dois livros clássicos que resumem os caminhos e des-caminhos desta magna questão: John B.Barrow, Teorias de Tudo: a busca da explicação final (Zahar 1994) e o de Abdus Salam, Werner Heisenberg,Paul Dirac, A unificação das forças fundamentais:o grande desafio da física contemporânea (Zahar 1994). Todos acabaram reconhecendo o fracasso desse intento. Na expressão de John Barrow:”Toda a vida cotidiana, o que move os seres humanos em sua busca de felicidade e em sua tragédia, não cabem da concepção física do “Tudo”.

O último a reassumir esta questão foi exatamente Stephen Hawking em seu famoso  livro Uma breve história do tempo (Ediouro 2005). Tentou de todas as formas. Ao final, reconheceu a impossibilidade afirmando:” Se realmente descobrirmos uma teoria completa, seus princípios gerais deverão ser, no devido tempo, ser compreensíveis por todos, e não apenas por uns poucos cientistas. Então, todos nós, filósofos, cientistas e simples pessoas comuns, seremos capazes de participar da discussão de porquê é que nós e o Universo existimos. Se encontrássemos uma resposta para essa pergunta, seria o triunfo último da razão humana porque então conheceríamos a mente de Deus”(Uma breve história do tempo, p. 145). Refere-se a Deus e a sua mente abscôndita. Esse Deus-Mistério se encontra na raiz de todas as existências, sustentando-as e fazendo-as continuamente subsistir, mas sempre se subtraindo à vista humana. Por isso as Escrituras judeu-cristãs afirmam:”Deus mora numa luz inacessível que nenhum ser humano viu nem pode ver”(1Tim 6,16; Sal 104,2; Ex 33,20; Jo,1,18;  1Jo 4,12).

Então cabe, realmente, concluir: se Deus existe como as coisas existem, então Ele não existe”. Para além das coisas, Ele existe, com uma natureza diversa das coisas, como Aquele que tirou tudo do nada e continuamente subjaz a tudo o que existe e poderá existir.

Leonardo Boff é filósofo, teólogo e escreveu: Experimentar Deus hoje:a transparência de todas as coisas, Vozes 2012;Tempo de transcendência, Vozes 2009.

Forme di vivere il cristianesimo oggi

Leonardo Boff

I grandi analisti della storia ci hanno confermato che da un secolo viviamo in una nuova fase dello spirito della nostra cultura. È la fase della secolarizzazione. Ciò significa che l’asse strutturante della società moderna non risiede più nel mondo religioso, ma nell’autonomia delle realtà terrene, nel mondo secolare. Da qui si parla di secolarizzazione. Questo non significa negare Dio, solo che Egli non rappresenta più il fattore di coesione sociale. Al suo posto subentra la ragione, i diritti umani, il processo di sviluppo scientifico che si traduce in un’operazione tecnica produttrice di beni materiali, il contratto sociale.

Non è questa la sede per discutere gli avatar di questo processo. Vale la pena sottolineare le trasformazioni che ha portato in campo religioso, precisamente, attraverso il cristianesimo romano-cattolico.

C’era un’enorme discrepanza tra i valori della modernità secolarizzata (democrazia, diritti umani, libertà di coscienza, dialogo tra le chiese e le religioni ecc.) e il cattolicesimo tradizionale. Questo scollamento è stato superato dal Concilio Vaticano II (1962-1965), in cui la Chiesa gerarchica ha cercato di mettersi al passo, sotto il nome di aggiornamento, sintonizzando il cammino della Chiesa al progresso del mondo moderno.

Lo sfondo di tutti i testi conciliari era il mondo sviluppato moderno. In America Latina, nelle varie conferenze episcopali, si è cercato di assumere le vedute del Vaticano II nel contesto del mondo sottosviluppato, cosa praticamente assente nei testi conciliari. Ne è nata quindi una lettura liberatrice, in quanto il sottosviluppo è stato inteso come sviluppo della povertà e della miseria, pertanto dell’oppressione che esige liberazione. Ecco le radici della Teologia della Liberazione, che si fonda sulla pratica delle Chiese, impegnate a superare la povertà e la miseria, a partire dai valori della pratica di Gesù e dei profeti.

Il processo di secolarizzazione ha messo in luce quatro modi di vivere il messaggio cristiano nel continente latino-americano e brasiliano.

Il primo è  in cristianesimo offiziale e tradizionale. Per i paesi che sono stati colonizati per gli europei,come America Latina e Africa ma anche Asia hanno in cristianesimo implantato nella versione europea e è dominante perfino oggi: è costruito  su dottine, dogmi, sacramenti, riti, feste liturgiche, santi e sante. Si presenta come um cristianesino piramidale, clerici di una parte e laici (uomini e donne) del altra parte. Quello dominano la parola e de lecisioni e praticamente lasciano fuori i laici e le donne sono fate invisibile. L’esprezione più definitoria di questa forma à la frequenza alla messa. In Brasile ci sono 70% di cattolici mas solo 5% frequentano le messe.

C’è un modo che chiameremmo cristianesimo culturale, che dalla colonizzazione ha permeato la società. Le persone respirano il cristianesimo nei suoi valori umanistici di rispetto dei diritti umani, di cura dei poveri, anche sotto forma di assistenzialismo e paternalismo, l’accettazione della democrazia e la pacifica convivenza con altre chiese o cammini spirituali. Dell’oltre 70% dei cattolici, solo il 5% va a messa. Non negano il valore della Chiesa, ma non è un riferimento esistenziale. Sia perché non ha sostanzialmente rinnovato la sua struttura clericale e gerarchica, il suo linguaggio dottrinale e i suoi simboli ereditati dal passato.

C’è un altro tipo di cristianesimo di compromesso. Si tratta di persone che, legate alla Chiesa gerarchica, assumono la loro fede nelle loro espressioni sociali e politiche. Il riferimento maggiore non è la Chiesa istituzionale, ma la categoria del Gesù storico, del Regno di Dio. Il Regno non è uno spazio fisico né assomiglia ai regni di questo mondo. È una metafora per una rivoluzione assoluta che implica nuove relazioni individuali – conversione sociale, relazioni di fraternità ed ecologiche – custodia e cura del Giardino dell’Eden, cioè della Terra vivente e, infine, un nuovo rapporto religioso – una totale apertura a Dio, conosciuto come Abba-papà caro, pieno di amore e di misericordia. Questi cristiani hanno creato i loro movimenti come la JUC, la JEC, il Movimento Fede e Politica, l’Economia di Francesco e Chiara e altri.

C’è un altro modo di vivere il cristianesimo, senza farvi riferimento consapevolmente, in modo secolarizzato. Queste sono persone che possono qualificarsi come agnostiche o come atee o semplicemente non auto-definite. Ma seguono un cammino etico di centralità all’amore, di fedeltà alla verità, di rispetto per tutte le persone senza discriminazione, di preoccupazione per e con i poveri e di cura per il Creato e altri valori umanistici.

Ora, questi valori sono i contenuti della predicazione del Gesù storico. Come si legge nei quattro vangeli, Egli fu sempre dalla parte della vita e di coloro che avevano meno vita, guarendoli, simpatizzando con loro, difendendo le donne, contro la tradizione estremamente patriarcale dell’epoca, e invitando a un’apertura illimitata verso tutti, arrivando ad affermare anche che «chi viene a me non lo manderò via» (Gv 6,37). Nel Vangelo di San Matteo (25, 41-46), che possiamo denominare il vangelo degli atei umanisti, si dice che chiunque «si è preso cura di un affamato o di un assetato, di un pellegrino o di un infermo o di un carcerato… lo hai fatto a me” (v.45).

Pertanto, per vivere il cristianesimo è necessario vivere l’amore, avere compassione e sentire il dolore dell’altro. Chi non vive questi valori, per quanto pio possa essere, è lontano da Cristo e le sue preghiere non giungono a Dio.

San Giovanni nelle sue epistole sottolinea: “Dio è amore e chi rimane nell’amore rimane in Dio e Dio in lui” (1 Jn 4,16). In un altro passo dice: «Chi fa il bene è di Dio» (3Gv 1,11).

Qui si avvera quanto disse il grande teologo tedesco che ha partecipato a un fallito attentato a Hitler, Dietrich Bonhöffer: “vivere come se Dio non esistesse”(etsi Deus non daretur).

(traduzione dal portoghese di Gianni Alioti)

Formas de vivir el cristianismo hoy

Leonardo Boff*

Los grandes analistas de la historia nos confirmaron que vivimos desde hace un siglo una fase nueva del espíritu de nuestra cultura. Es la fase de la secularización. Con esto se quiere significar que el eje estructurador de la sociedad moderna ya no reside en el mundo religioso, sino en la autonomía de las realidades terrestres, en el mundo secular. De ahí que se hable de secularización.

Esto no significa negar a Dios, solo que Él ya no representa más el factor de cohesión social. En su lugar entra la razón, los derechos humanos, el proceso de desarrollo científico que se traduce en una operación técnica productora de bienes materiales, y el contrato social.

No cabe aquí discutir los avatares y trasformaciones de ese proceso. Cabe recordar las que ha traído para el campo religioso, especialmente para el cristianismo de versión católica romana. 

Había un desajuste enorme entre los valores de la modernidad secularizada (democracia, derechos humanos, libertad  de conciencia, diálogo entre las iglesias y religiones etc) y el catolicismo tradicional. Este desfase fue superado por el Concilio Vaticano II (1962-1965) en el cual la Iglesia  jerárquica  trató de acompasar su paso, conocido con el nombre de aggiornamento, poner al día el caminar de la Iglesia con el caminar del mundo moderno. 

El transfondo de todos los textos conciliares era el mundo moderno desarrollado. En América Latina, en las distintas conferencias episcopales, se procuró asumir las visiones del Vaticano II en el contexto del mundo subdesarrollado, cosa prácticamene ausente de los textos conciliares. De ahí nació una lectura liberadora, pues se entendía el subdesarrollo como desarrollo de la pobreza y de la miseria, por lo tanto, de la opresión que exige liberación.

Aquí se encuentran las raíces de la Teología de la Liberación que tiene como base la práctica de las Iglesias empeñadas en la superación de la pobreza y de la miseria, a partir de los valores de la práctica de Jesús y de los profetas.

El proceso de secularización puso de manifiesto algunas formas de vivir el mensaje cristiano en el continente latinoamericano y brasilero.

La primera es el  cristianismo y oficial y tradicional, traído en el contexto de la colonización que significó un transplante del cristianismo europeo, vigente hasta hoy en día: con su doctrina, sus dogmas, sus sacramentos, ritos, santos y santas y fiestas. La referencia principal es la misa y la adhesión sin restricciones a las enseñanzas oficiales del magisterio. De más del 70% de católicos, sólo el 5% asiste a misa.

Hay otra forma que llamaríamos cristianismo cultural, que desde la colonización ha impregnado la sociedad. El pueblo respira cristianismo en sus valores humanísticos de respeto a los derechos humanos, de cuidado de los pobres, en forma de asistencialismo y paternalismo, de aceptación de la democracia y de convivencia pacífica con otras iglesias o caminos espirituales. No niegan el valor de la Iglesia, pero no es una referencia existencial, bien porque no ha renovado sustancialmente su estructura clerical-jerárquica, su lenguaje doctrinal o sus símbolos heredados del pasado.

Existe otro tipo de cristianismo, el cristianismo de compromiso. Se trata de personas que, vinculadas a la Iglesia jerárquica, asumen su fe en sus expresiones sociales y políticas. Su referencia principal no es la Iglesia institucional, sino la categoría del Jesús histórico, del Reino de Dios. El Reino no es un espacio físico ni se parece a los reyes de este mundo. Es una metáfora para una revolución absoluta que implica nuevas relaciones individuales -conversión-, sociales – relaciones de fraternidad-, ecológicas -guardar y cuidar el Jardín del Edén, es decir, la Tierra viva- y, por último, una nueva relación religiosa -una apertura total a Dios, visto como Abba-papá querido, lleno de amor y misericordia. Estos cristianos crearon sus movimientos como la JUC, la JEC, el Movimiento Fe y Política, la Economía de Francisco y Clara y otros. El Reino se realiza en todos los lugares donde se viven los valores presentes en la tradición de Jesús. El Espíritu Santo llega antes que el misionero.

Hay otra forma de vivir el cristianismo, sin referirse conscientemente a él, un cristianismo secularizado. Son personas que pueden calificarse de agnósticas o ateas, o que simplemente no se definen. Pero siguen un camino ético centrado en el amor, de fidelidad a la verdad, de respeto a todas las personas sin discriminación, de preocupación por los empobrecidos, de cuidado de lo Creado y otros valores humanistas.

Pues bien, estos valores son el contenido de la predicación del Jesús histórico. Como leemos en los cuatro evangelios, siempre estuvo de parte de la vida y de los que tienen menos vida, curándolos, compadeciéndose de ellos, defendiendo a las mujeres, en contra de la tradición extremadamente patriarcal de la época, y llamando a una apertura sin restricciones a todos, hasta el punto de afirmar que “al que venga a mí no le diré que se vaya” (Jn 6,37).

En el evangelio de San Mateo (25,41-46), que podemos llamar el evangelio de los ateos humanistas, se dice que “quien haya atendido a un hambriento o a un sediento, a un peregrino o a un enfermo, o a alguien que está en la cárcel, a mí me lo habéis hecho” (v. 45).

Por eso, para vivir el cristianismo hay que vivir el amor, tener compasión y sentir el dolor del otro. Quien no vive estos valores, por muy piadoso que sea, está lejos de Cristo y sus oraciones no llegan a Dios.

San Juan subraya en sus epístolas: “Dios es amor y quien vive en el amor permanece en Dios y Dios en él” (1Jn 4,16). En otro lugar, afirma: “el que hace el bien es de Dios” (3Jn 1,11).

Aquí se realiza lo que decía el gran teólogo alemán Dietrich Bonhöffer, que participó en la resistencia al nazismo y en un atentado frustrado contra Hitler: “vivir como si Dios no existiera” (etsi Deus non daretur), pero vivir un modo de vida en amor y fidelidad a la vida, a semejanza del Justo y Santo de Nazaret.

Tal vez hoy la gran mayoría de nuestro país y del mundo entero vive ese tipo de vida que, en dialecto cristiano, llamaríamos un cristianismo anónimo y secularizado. Lo importante no es el nombre sino el tipo de vida que se vive, en el amor, la compasión y la apertura a todos.

Estimo que este fue el deseo originario de Jesús de Nazaret, muerto y resucitado, pues él vino ante todo para enseñarnos a vivir.  

*Leonardo Boff ha escrito El Cristianismo mínimo, Vozes 2011; Saudade de Dios: la fuerza de los pequeños, Vozes 2012; La amorosidad de Dios-Abba y Jesús de Nazaret, Vozes 2023.

Traducción de María José Gavito Milano

 Formas de se viver o cristianismo hoje

                                Leonardo Boff

Os grandes analistas da história nos confirmaram que já há um século vivemos uma fase nova do espírito de nossa cultura. É a fase da secularização. Com isso se quer significar que o eixo estruturador da sociedade moderna não reside mais no mundo religioso, mas na autonomia das realidades terrestres, no mundo secular. Daí falar-se em secularização. Isso não significa negar Deus, mas apenas que Ele não representa mais o fator de coesão social.Em seu lugar entra a razão, os direitos humanos, o processo de desenvolvimento científico que se traduz numa operação técnica, produtora de bens materiais e o contrato social.

Não cabe aqui discutir os avatares desse processo. Cabe assinalar as transformações que trouxe para o campo religioso, nomeadamente, pelo cristianismo de versão romano-católica.

Havia um descompasso enorme entre os valores da modernidade secularizada (democracia, direitos humanos,liberdade de consciência, diálogo entre as igrejas e religiões etc) e o catolicismo tradicional. Essa desconexão foi superada pelo Concílio Vaticano II (1962-1965) no  qual a Igreja hierárquica procurou acertar o passo que veio sob o nome de aggiornamento, pôr em dia o caminhar da Igreja com o caminhar do mundo moderno.

O transfundo de todos os textos conciliares era o mundo desenvolvido moderno. Na América Latina, nas várias conferências episcopais, se procurou assumir as visões do Vaticano II no contexto do mundo subdesenvolvido, coisa praticamente ausente nos textos conciliares. Daí nasceu uma leitura libertadora, pois se entendeu o subdesenvolvimento como desenvolvimento da pobreza e da miséria, portanto, da opressão que demanda libertação. Aqui se encontram as raízes da Teologia da Libertação que tem por base a prática das Igrejas, empenhadas na superação da pobreza e da miséria, a partir dos valores da prática de Jesus e dos profetas.

O processo de secularização trouxe à luz algumas formas de se viver a mensagem cristã no continente latino-americano e brasileiro.

A primeira é o cristianismo oficial e tradicional. É aquele trazido no contexto da colonização e significou um transplante do cristianismo europeu, vigente até os dias de hoje: com sua doutrina, seus dogmas,seus sacramentos, ritos, santos e santas e festas. A referência maior é a missa e a adesão irrestrita aos ensinamentos oficiais do magistério. Dos mais de 70% de católicos, são apenas 5% que frequentam as missa.

Há uma forma que chamaríamos de um cristianismo cultural, que desde a colonização impregnou a sociedade. As pessoas respiram o cristianismo cujo eixo central são os valores humanísticos de respeito aos direitos humanos,de cuidado dos pobres, mesmo sob a forma de assistencialismo e paternalismo, a aceitação da democracia e a convivência pacífica com outras igrejas ou caminhos espirituais. Não negam o valor da Igreja mas ela não é uma referência existencial. Seja porque não renovou substancialmente sua estrutura clerical-hierárquica, com parca participação dos leigos nas decisões pastorais: sua linguagem doutrinária e seus símbolos herdados do passado.

Há um outro tipo de cristianismo de compromisso. Trata-se de pessoas que, ligadas à Igreja hierárquica, assumem a sua fé em suas expressões sociais e políticas. A referência maior não é a Igreja institucional mas a categoria do Jesus histórico, do Reino de Deus. O Reino não é um espaço físico nem se assemelha aos reis deste mundo. É uma metáfora para uma revolução absoluta que implica novas relações individuais – a conversão -sociais- relação de fraternidade, ecológicas -guardar e cuidar do Jardim do Éden, vale dizer da Terra viva e por fim, uma nova relação religiosa – uma total abertura a Deus, tido como Abba-paizinho querido, cheio de amor e misericórdia. Estes cristãos criaram seus movimentos como a JUC, a JEC, o Movimento Fé e Política, a Economia de Francisco e Clara e outros.O Reino se realiza em todos lugares onde se vivem os valores presentes na tradição de Jesus. O Espírito Santo chega antes do missionário.

Há uma outra forma de se viver o Cristianismo, sem se referir conscientemente a ele, um cristianismo secularizado. Trata-se de pessoas que podem se qualificar como  agnósticas ou como ateias ou simplesmente sem se auto-definir. Mas seguem um caminho ético de centralidade ao amor, de fidelidade à verdade, de respeito a todas as pessoas sem discriminação, preocupação para com os empobrecidos e de cuidado com o Criado e outros valores humanísticos.

Ora, estes valores são os conteúdos da pregação do Jesus histórico. Como se lê nos quatro evangelhos, ele sempre esteve ao lado da vida e daqueles que menos vida têm, curando-os, compadecendo-se deles, tomando partido das mulheres, contra a tradição extremamente patriarcal da época, e convocando para uma abertura irrestrita a todos, chegando a afirmar que “quem vem a mim eu não mandarei embora”(Jo 6,37). No evangelho de São Mateus (25,41-46) que podemos denominar como o evangelho dos ateus se diz que quem “atendeu a um faminto ou sedento, peregrino ou enfermo ou na cadeia….foi a mim que o fizeste”(v.45).

Portando, para viver o cristianismo é preciso viver o amor, ter compaixão e sentir a dor outro. Quem não vive estes valores, por mais piedoso que seja, está longe do Cristo e suas preces não chegam a Deus.

São João em suas epístolas enfatiza:”Deus é amor e quem permanece no amor, permanece em Deus e Deus nele”(1Jo 4,16). Num outro lugar afirma: “quem pratica o bem é de Deus”(3Jo 1,11). Quem tem o amor tem tudo e seu caminho  aponta para a Deus em sua natureza íntima.

Aqui se realiza o que dizia,o grande teólogo alemão que participou da resistência ao nazismo e de um atentado frustrado a Hitler, Dietrich Bonhöffer,enforcado a 29 de abril de 1945: “viver como se Deus não existisse”( etsi Deus non daretur). Mas viver aquele modo de vida no amor e na fidelidade à vida, à semelhança do Justo e Santo de Nazaré.

Talvez hoje a grande maioria no nosso país e no mundo inteiro vive esse tipo de vida que, no dialeto cristão, chamaríamos de um cristianismo anônimo e secularizado. O importante não é o nome mas o tipo de vida que se vive, no amor, na compaixão e na abertura a todos.Estimo que esta foi a vontade originária de Jesus de Nazaré,morto e ressuscitado, pois ele veio antes de tudo a nos ensinar a viver.

Leonardo Boff escreveu O Cristianismo mínimo, Vozes 2011; Saudade de Deus: a força dos pequenos, Vozes 2012; A amorosidade de Deus-Abba e Jesus de Nazaré, Vozes 2023.