Rússia/EUA/Ucrânia:o que está em jogo:Jeffrey Sachs

 Publicamos esta entrevista de Jeffrey Sachs,famoso economista, especialista em desigualdade social a nível mundial e como poucos articula a economia com a ecologia. Ele criticamente esclarece a posições dos EUA e também da Rússia no contexto do conflito na Ucrânia. O que se esconde atrás dessa terrível tragédia que está destruindo todo um país como a Ucrânia? É importante conhecermos os dois lados para não sermos dependentes só das leituras feitas entre nós, quase sempre, da versão norte-americana e europeia. L.Boff

********************

Jefrey Sachs é diretor do Instituto da Terra da Universidade de Columbia, nomeado em 2021 pelo Papa Francisco para a Pontifícia Academia de Ciências Sociais, responde com esta entrevista à matéria de 23 de abril em que o Corriere se pergunta se os erros do Ocidente nas relações com a Rússia pós-soviética, que experimentou uma dramática crise econômica na década de 1990, contribuíram para pavimentar o caminho para o nacionalismo revanchista de Vladimir Putin. Sachs foi conselheiro econômico do Kremlin entre 1990 e 1993.

A entrevista é de Federico Fubini, publicada por Corriere della Sera, 01-05-2022 e no Brasil pela IHU de 03/05/2022. 

Eis a entrevista.

A imposição de sanções cada vez mais duras à Rússia é a linha correta?

Ao lado das sanções, precisamos de uma via diplomática. É possível negociar a paz com base na independência da Ucrânia e excluindo que faça adesão à OTAN. O grande erro dos estadunidenses é acreditar que a OTAN derrotará a Rússia: típica arrogância e miopia estadunidense. É difícil entender o que significa ‘derrotar a Rússia’, já que Vladimir Putin controla milhares de ogivas nucleares. Os políticos estadunidenses têm um desejo de morte? Conheço bem o meu país. Os líderes estão prontos para lutar até o último ucraniano. Seria muito melhor acertar a paz do que destruir a Ucrânia em nome da ‘derrota’ de Putin.

Mas Putin não quer paz. Ele mostrou que não está interessado em negociar e segue com uma guerra total contra a Ucrânia, sem fazer distinção entre militares e civis. Como você acredita que as negociações funcionam em tal situação?

Minha hipótese é que os Estados Unidos sejam mais relutantes do que a Rússia para uma paz negociada. A Rússia quer uma Ucrânia neutra e o acesso aos seus mercados e recursos. Alguns desses objetivos são inaceitáveis, mas ainda assim são claros em vista de uma negociação. Os Estados Unidos e a Ucrânia, por outro lado, nunca declararam seus termos para negociar. Os Estados Unidos querem uma Ucrânia no campo euro-estadunidense, em termos militares, políticos e econômicos. Aqui reside a principal razão para esta guerra. Os Estados Unidos nunca mostraram um sinal de compromisso, nem antes do início da guerra, nem depois.

Você pode fornecer elementos concretos do que está dizendo?

Quando Zelensky lançou a ideia de neutralidade, o governo dos EUA manteve um silêncio de tumba. Ora, eles estão convencendo os ucranianos de que podem realmente derrotar Putin. Mas, justamente, até a simples ideia de derrotar um país com tantas armas nucleares é uma loucura. Todos os dias eu vasculho a mídia para encontrar pelo menos um caso de um representante dos EUA que aprove o objetivo de negociar um acordo. Eu não vi uma única declaração sobre isso.

 Os EUA e a Europa devem discutir com Putin para alcançar a paz ou deveriam esperar o fim de seu regime, porque ele é um criminoso de guerra?

Discutir, certamente. Se querem julgar Putin por crimes de guerra, então devem acrescentar à lista de réus George W. Bush e Richard Cheney pelo Iraque, Barack Obama pela Síria e Líbia, Joe Biden por confiscar as reservas cambiais de Cabul, alimentando assim a fome no Afeganistão. E a lista não termina aí. Não pretendo exonerar Putin. Quero enfatizar que a paz deve ser feita, admitindo que estamos em meio a uma guerra por procuração entre duas potências expansionistas: Rússia e Estados Unidos. Não à toa, fora dos Estados Unidos e da Europa, poucos países estão alinhados com o Ocidente quanto a isso. Apenas os aliados dos Estados Unidos, como Japão e Coréia do Sul. Os outros veem a dinâmica das grandes potências em ação.

 A Rússia, porém, aqui é a agressora, e nem sofreu provocações. Não concorda?

 A Rússia começou esta guerra, é claro, mas em grande parte porque viu os Estados Unidos entrarem irreversivelmente na Ucrânia. Em 2021, quando Putin pedia aos Estados Unidos que negociassem o alargamento da OTAN para a Ucrânia, Biden dobrou a aposta diplomática e militar. Não só se recusou a discutir o alargamento da OTAN com Moscou, como garantiu que o compromisso da OTAN a este respeito fosse renovado na cúpula de 2021 e, em seguida, assinou dois acordos com a Ucrânia sobre o tema. Os Estados Unidos também continuaram os exercícios militares e o envio de armas em grande escala. Além disso, é interessante ver como os Estados Unidos e a Austrália estão se arrancando os cabelos por um pacto de segurança entre a China e as pequenas Ilhas Salomão, a 3.000 quilômetros da Austrália. Este acordo é visto como uma terrível ameaça à segurança pelo Ocidente. Como então a Rússia deve se sentir sobre o alargamento da OTAN à Ucrânia?

Então o que você sugere?

Para salvar a Ucrânia, devemos acabar com a guerra e, para acabar com a guerra, precisamos de um compromisso no qual a Rússia se retira e a OTAN não se alarga. Não é difícil, mas os Estados Unidos nem sequer mencionam a ideia, porque são contra. Os Estados Unidos querem que a Ucrânia lute para proteger as prerrogativas da OTAN. Isso já é um desastre, mas, sem uma solução razoável e racional, riscos muito maiores nos aguardam.

O argumento do alargamento da OTAN pode não ser convincente, professor. Antes da guerra, a Ucrânia nem sequer tinha um Plano de Ação para a filiação (um “roteiro”) para a adesão. E o chanceler alemão Olaf Scholz declarou ao Kremlin, na frente de Putin, que a Ucrânia não teria entrado na OTAN “enquanto nós dois estivermos no cargo” (ou seja, pelo menos até 2036). Não parece motivo suficiente para invadir…

Dizer que a Ucrânia não vai entrar parece um expediente estadunidense. Na realidade, os Estados Unidos já estavam trabalhando arduamente para alcançar a interoperabilidade militar da Ucrânia com a OTAN, de modo que, em algum momento, o alargamento se tornaria substancialmente um fato consumado. Como o próprio ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergei Lavrov, disse recentemente, o Ministério da Defesa da Ucrânia já estava repleto de conselheiros da Aliança Atlântica. A ideia de que o alargamento não teria ocorrido é mais uma operação de relações públicas do que uma verdade. É o caminho escolhido pelos Estados Unidos, como mostra em toda política de hoje. O ponto fundamental é que os Estados Unidos se recusam a discutir a questão. Isso já é uma pista.

As sanções devem ser indefinidas ou devem estar vinculadas a resultados tangíveis: talvez prevendo que algumas sejam retiradas se a Rússia aceitar um cessar-fogo ou se retirar da Ucrânia?

As sanções deveriam ser revogadas como parte de um acordo de paz. A guerra na Ucrânia é terrível, cruel e ilegal, mas não é a primeira guerra do tipo. Os Estados Unidos também se envolveram em inúmeras aventuras irresponsáveis: Vietnã, Laos, Camboja, Afeganistão, Irã (golpe e ditadura de 1953), Chile, Iraque, Síria, Líbia, Iêmen. Isso apenas para citar alguns, porque haveria muitos mais. No entanto, os Estados Unidos não foram permanentemente banidos da comunidade das nações. A Rússia também não deveria ser. Em vez disso, os Estados Unidos falam em isolar a Rússia permanentemente. Novamente, é a típica arrogância estadunidense.

 O que você acha das sanções sobre o petróleo e o gás russo em discussão na Europa, para paralisar financeiramente a máquina militar de Putin?

 A União Europeia deveria agir de forma muito mais decisiva para favorecer um acordo de paz. Um embargo total ao petróleo e ao gás provavelmente lançaria a Europa numa recessão. Eu não recomendo. Não mudaria o resultado da guerra de forma decisiva e não teria muita influência em um acordo de paz, mas prejudicaria seriamente a Europa.

 Você está preocupado que a inflação possa alimentar o populismo no Ocidente, já que os eleitores culpam as sanções e não a guerra desencadeada por Putin?

Sim, a guerra e as sanções já estão criando dificuldades políticas em muitos países e um aumento acentuado da fome nos países mais pobres, especialmente na África, que dependem maciçamente de cereais importados. Biden também pagará um preço político pelo aumento do custo de vida nas eleições de novembro. Observe que esses choques do lado da oferta estão ocorrendo após um longo período de expansão monetária, portanto, há amplo espaço para a inflação. Espera-nos um período difícil no plano macroeconômico.

Até que ponto os fracassos das reformas durante a era Boris Yeltsin abriram caminho para a ditadura de Putin? Foi um fracasso semelhante ao descrito por John Maynard Keynes em 1919 para a Alemanha?

Fui conselheiro econômico de Mikhail Gorbachev em 1991 e de Yeltsin em 1992-3. Meu principal objetivo era ajudar a União Soviética, depois a Rússia como país independente depois de dezembro de 1991, a superar uma grave crise financeira, de modo a garantir a estabilidade social e melhorar as perspectivas de paz e reforma a longo prazo. Não esqueçamos que a economia soviética havia desmoronado e entrado em uma violenta espiral negativa no final dos anos 1980.Naqueles anos, muitas vezes me referia a “As Consequências Econômicas da Paz“, o grande livro de John Maynard Keynes de 1919. Aquele texto foi provavelmente o mais importante para minha carreira, porque destaca um ponto essencial: para pôr fim a uma crise financeira intensa e desestabilizadora em um país, o resto do mundo deve intervir antes que a situação saia do controle. Isso foi verdade após a Primeira Guerra Mundial: em vez de impor o pagamento de duras reparações ao povo alemão, a Europa e os Estados Unidos deveriam ter se empenhado a cooperar para a recuperação de toda a Europa, o que teria contribuído a prevenir a ascensão do nazismo.

 Você quer dizer que a forma como o Ocidente tratou da Rússia no início dos anos 1990 contribuiu para torná-la uma espécie de República de Weimar 2.0?

Quando propus uma assistência financeira internacional para a Polônia em 1989 – com um empréstimo de emergência, um fundo de estabilização da moeda e a redução da dívida – meus argumentos foram bem recebidos pela Casa Branca e pelos países europeus. Quando fiz as mesmas propostas para a União Soviética sob Gorbachev em 1991, e para a Rússia sob Yeltsin em 1992-3, a Casa Branca as rejeitou. O problema era geopolítico.

Os Estados Unidos viam a Polônia como uma aliada, enquanto erroneamente viam a União Soviética e a recém-independente Rússia como um inimigo. Foi um erro enorme. Quando se trata mal outro país ou é humilhado, cria-se uma realidade que se autorrealiza: aquele país se tornará realmente um inimigo. Obviamente, não há simples determinismo na história, e certamente não num período de trinta anos. O Tratado de Versalhes de 1919, com sua dureza, não causou sozinho a ascensão de Hitler em 1933. Hitler ou alguém como ele nunca teria chegado ao poder se não fosse pela Grande Depressão de 1929 e, mesmo então, sem os terríveis erros de cálculo de Hindenburg e von Papen em janeiro de 1933.

Da mesma forma, os erros financeiros dos Estados Unidos e da Europa em relação a Gorbachev e Yeltsin certamente não ditaram os eventos trinta anos depois. Até mesmo sugerir isso é absurdo. Mas a difícil situação financeira da União Soviética e da Rússia no início da década de 1990 deixou um sabor amargo. Contribuiu para a queda dos reformadores, para a propagação da corrupção e, finalmente, para a ascensão de Putin ao poder. Mas mesmo assim poderia ter se recuperado. No entanto, Putin poderia ter tido uma abordagem de colaboração com a Europa. Um grande problema foi criado pela arrogância dos Estados Unidos, que lançaram o alargamento da OTAN para o leste depois de prometer em 1990 que não o fariam.

Depois também pela ideia absolutamente perigosa e provocativa de George W. Bush de prometer que a OTAN se estenderia à Geórgia e à Ucrânia. Essa promessa, de 2008, deteriorou dramaticamente as relações EUA-Rússia. O apoio estadunidense à deposição do presidente pró-Rússia da Ucrânia Viktor Yanukovych em 2014 e o subsequente rearmamento em larga escala da Ucrânia pelos Estados Unidos também pioraram dramaticamente as relações entre a Rússia e os Estados Unidos.

 Você foi consultor do Kremlin em 1992-93, por meio de seu papel no Instituto de Desenvolvimento Internacional de Harvard. Durante a década de 1990, o “big bang” da liberalização do mercado prevaleceu sobre a construção das instituições e das estruturas da democracia. Foi um erro?

Essas reclamações são conversas acadêmicas, não têm nada a ver com o mundo real. Meu papel em 1990-1992 foi ajudar a Polônia, Estônia, Eslovênia e outros países a evitar uma catástrofe financeira. Esse também era meu objetivo para a União Soviética e a Rússia. Recomendei medidas que provaram ser um sucesso em muitos países: estabilização da moeda, suspensão dos vencimentos da dívida, diminuição do ônus da dívida a longo prazo, empréstimos de emergência, medidas de apoio social também de emergência.

Os Estados Unidos aceitaram esses argumentos para países como a Polônia, mas os rejeitaram em favor de Gorbachev e Yeltsin. A política e a geopolítica, não a boa política econômica, dominavam a Casa Branca. A construção de instituições e as reformas democráticas levariam anos, aliás, décadas. A Rússia nunca havia tido uma verdadeira democracia em um milênio de história. A sociedade civil havia sido destruída por Stalin. Mas, nesse meio tempo, havia uma forte crise financeira acontecendo. As pessoas precisavam comer, viver, sobreviver, ter abrigo sobre suas cabeças, ter assistência médica, enquanto as mudanças de longo prazo seriam introduzidas gradualmente. É por isso que recomendei por muitos anos um apoio financeiro em grande escala à Rússia. E é por isso que continuei citando a lição de Keynes.

 Mas, em retrospectiva, a abordagem da reforma deveria ter sido menos focada na “terapia de choque”?

Mais uma vez, meu papel era lidar com a crise financeira. Eu sabia bem – da Polônia, Tchecoslováquia e outros lugares – que muitas reformas levariam muito tempo. Meu objetivo era prevenir a hiperinflação e um colapso financeiro. Eu nunca falei a favor de uma privatização rápida, por exemplo. Eu sabia que aquelas políticas requerem anos, até décadas para serem concluídas.

É verdade que a Polônia e outros países da Europa Central e Oriental tiveram muito mais sucesso ao aplicar as mesmas receitas que a Rússia. Mas a Polônia recebeu ajuda dos Estados Unidos para estabilização da moeda, depois um fortalecimento institucional e a contribuição da legislação da UE, você não acha?

Claro, esse é o ponto. A capacidade de fazer reformas depende do contexto internacional. Tudo teria sido muito mais difícil na Rússia do que na Europa Centro-Oriental por inúmeras razões de história, política, geografia econômica, custos de transporte, existência da sociedade civil, geopolítica. A dissolução da União Soviética, como a da Iugoslávia, também complicou dramaticamente a situação, acrescentando instabilidade e recessão. No entanto, por todas essas razões, o Ocidente deveria ter estado muito mais pronto para ajudar a Rússia financeiramente, em vez de declarar ‘vitória’ e ignorar a dureza das condições na Rússia.

O problema foi a “terapia de choque” em si ou a recusa da Alemanha em perdoar a dívida externa da Rússia e dos Estados Unidos em fornecer ajuda como para a Polônia? A “terapia de choque” com pouco apoio financeiro externo foi o mix errado?

A chamada ‘terapia de choque’ significava acabar com os controles sobre os preços no início de 1992, como a Polônia havia feito em 1990. A razão era que, com o colapso da economia controlada centralmente, com uma maciça instabilidade financeira e controles sobre os preços, todas as transações aconteciam basicamente no mercado negro. Nem mesmo os gêneros alimentares chegavam às cidades. A desregulamentação dos preços deveria ter sido combinada com apoio financeiro em larga escala dos Estados Unidos e Europa e medidas de política social, como na Polônia. E isso é precisamente o que eu aconselhei, todos os dias. Mas os Estados Unidos e a Europa não ouviram. Foi um fracasso vergonhoso e terrível dos governos ocidentais. Se a estabilização tivesse sido ativamente apoiada pelo Ocidente, teria lançado as bases para os estágios subsequentes de reforma, que por sua vez levariam a outras reformas ao longo de anos e décadas.

Andrei Shleifer, então no Instituto de Desenvolvimento Internacional de Harvard com você, estava encarregado de aconselhar a Rússia sobre o big bang das privatizações. Que relação você tinha com ele?

Meu papel para Gorbachev e Yeltsin era o de consultor macrofinanceiro. Eu dava conselhos sobre como estabilizar uma economia instável. Não era consultor sobre as privatizações. Shleifer, sim. No que me diz respeito, não defendi a privatização com o modelo de vouchers do início da década de 1990 (que criou os primeiros oligarcas, ndr) e não dei conselhos sobre os abusos como ‘empréstimos por ações’ (um esquema concebido em 1995 que permitiu que os oligarcas financiassem a reeleição de Yeltsin em troca de grandes ações em empresas de propriedade estatal a preços reduzidos).

Aconselhei Gorbachev em 1991 e depois Yeltsin em 1992 e 1993 em questões financeiras. Após o primeiro ano de tentativas de ajudar a Rússia, eu renunciei, dizendo que não podia ajudar porque os EUA não concordavam com o que eu estava recomendando. Minha permanência teria sido de apenas um ano, o 1992. Em seguida, foi nomeado um novo ministro das Finanças, Boris Fyodorov. Uma pessoa maravilhosa que morreu jovem. Ele me pediu para continuar como conselheiro para ajudá-lo. Aceitei, relutantemente, e fiquei mais um ano, apenas para renunciar no final de 1993. Foi um período curto e frustrante, porque fiquei profundamente frustrado com a negligência e incompetência tanto da Casa Branca de Bush pai em 1991-1992, como da Casa Branca de Clinton em 1993.Quando soube que Shleifer estava fazendo investimentos pessoais na Rússia, despedi-o do Instituto de Desenvolvimento Internacional de Harvard. Naturalmente, eu não tinha nada a ver com suas atividades de investimento ou seus conselhos sobre as privatizações russas. Tampouco recebi um único copeque pelo meu trabalho, nem um único dólar. Minhas consultorias para os governos, desde o início há 37 anos na Bolívia, nunca previram uma compensação além do meu salário acadêmico. Não aconselho os governos para obter ganhos pessoais

Leonardo Boff: «El problema es el capitalismo» pero los líderes evitan decirlo

Entrevista al teólogo de la Liberación. ¿Bolsonaro? «Seguirá adelante con la deforestación mintiendo a Brasil y al mundo, de esto no hay duda». Cómo el sistema actual condena a muerte al «gran pobre» que es el planeta devastado.

Claudia Fanti

EDICIÓN DEL 04.11.2021-Il Manifesto

El grito de la indígena brasilera Txai Suruí, hija de uno de los líderes más respetados de su país, Almir Suruí, ha resonado en la apertura de la COP 26: «Mi padre me ha enseñado que debemos escuchar a las estrellas, la luna, los animales, los árboles. Hoy el clima está cambiando, los animales están desapareciendo, los ríos mueren, nuestras plantas no florecen como antes. La Tierra nos está diciendo que no tenemos más tiempo».

¿Pero es demasiado tarde para cambiar?  Se lo hemos preguntado a Leonardo Boff, uno de los padres de la Teología de la Liberación, la de los pobres y del «gran pobre» que es nuestro planeta devastado y herido,  cuyo doble – y conjunto – grito ha ocupado el centro de toda su reflexión. 

Bolsonaro está entre los firmantes del acuerdo sobre la deforestación alcanzado en la Cop 26. ¿El triunfo de la hipocresía?

Nada mínimamente creíble puede venir del gobierno Bolsonaro: con él las mentiras han pasado a ser política de estado. Solo ha dicho la verdad en un punto: «Mi gobierno ha venido para destruir todo y volver a empezar de cero». Es una pena que este reinicio sea en nombre del oscurantismo y del negacionismo científico, ya sea sobre la Covid o sobre la Amazonia. Su opción económica va exactamente en dirección opuesta a la de la preservación ecológica: Bolsonaro ha favorecido la extracción de madera, la minería dentro de las zonas indígenas y la destrucción de la selva para dar paso al monocultivo de soja y a la ganadería. Sólo de enero a septiembre, la Amazonia perdió 8.939 km² de bosque, un 39% más que en el mismo periodo de 2020 y el peor índice de los últimos 10 años. Su adhesión al plan de reducción de las emisiones de metano en un 30% para 2030 es pura retórica. De hecho, no hay duda de que continuará el camino de la deforestación, y seguirá mintiendo a Brasil y al mundo.

¿La Amazonia podrá sobrevivir a otros 10 años de deforestación?

 Antônio Nobre, gran especialista en la Amazonia, afirma que al ritmo actual de destrucción, y con una tasa de deforestación cercana ya al 20%, en 10 años podría alcanzarse el punto de no retorno, con el inicio de un proceso de transformación de la selva en una sabana apenas interrumpida por algunos bosques. El bosque es exuberante pero con un suelo pobre en humus: no es el suelo el que alimenta a los árboles, sino al contrario. El suelo es sólo el soporte físico de una complicada red de raíces. Las plantas se entrelazan a través de las raíces y se apoyan mutuamente en la base, formando un inmenso equilibrio rítmico. Todo el bosque se mueve y danza. Por esta razón, cuando una planta es derribada, arrastra a muchas otras con ella.


¿Todavía estamos a tiempo de intervenir?

Los líderes mundiales han evitado cuidadosamente tocar el verdadero problema: el capitalismo. Si no cambiamos nuestro modelo de producción y consumo, no detendremos el calentamiento global, y llegaremos  a 2030 con un aumento de la temperatura de más de un grado y medio. Las consecuencias son bien conocidas: muchas especies no podrán adaptarse y se extinguirán, habrá grandes catástrofes medioambientales y millones de refugiados climáticos, huyendo de las tierras que ya no se pueden cultivar, cruzarán desesperadamente las fronteras de los Estados, desencadenando conflictos políticos. Y con el calentamiento vendrán otros virus más peligrosos, con la posible desaparición de millones de seres humanos. Incluso ahora, los científicos del clima dicen que ya no hay tiempo. Con el dióxido de carbono ya acumulado en la atmósfera, que permanecerá allí durante 100-120 años, más el metano, que es 80 veces más dañino que el CO2, los eventos extremos serán inevitables. Y la ciencia y la tecnología podrán mitigar los efectos catastróficos, pero no evitarlos.

¿Usted siempre ha afirmado que sin un cambio real en nuestra relación con la naturaleza no tendremos ninguna posibilidad. ¿Está la humanidad preparada para este paso?

El sistema capitalista no ofrece las condiciones para hacer cambios estructurales, es decir para desarrollar otro paradigma de producción más amigable con la naturaleza y capaz de superar la desigualdad social. Su lógica interna es siempre asegurar primero el beneficio, sacrificando la naturaleza y las vidas humanas. De este sistema no podemos esperar nada. Las experiencias que vienen de abajo son las que nos ofrecen la esperanza de una alternativa: desde el buen vivir de los pueblos indígenas hasta el ecosocialismo de base y el biorregionalismo, que pretende satisfacer las necesidades materiales respetando las posibilidades y los límites de cada ecosistema local, creando al mismo tiempo las condiciones para la generación de bienes espirituales, como el sentido de la justicia, la solidaridad, la compasión, el amor y el cuidado de todo lo que vive.

Fuente: Il Manifesto del 4.11.202

Leonardo Boff: «Il problema è il capitalismo» ma i leader evitano di dirlo

Intervista al teologo della Liberazione. Bolsonaro? «Andrà avanti con la deforestazione mentendo al Brasile e al mondo, non ci sono dubbi». Come il sistema attuale condanna a morte il «grande povero» che è il pianeta devastato

 Claudia Fanti

EDIZIONE DEL04.11.2021-Il Manifesto

Il grido dell’indigena brasiliana Txai Suruí, figlia di uno dei leader più rispettati del suo paese, Almir Suruí, è risuonato proprio in apertura della Cop 26: «Mio padre mi ha insegnato che dobbiamo ascoltare le stelle, la luna, gli animali, gli alberi. Oggi, il clima sta cambiando, gli animali stanno scomparendo, i fiumi muoiono, le nostre piante non fioriscono più come prima. La Terra ci sta dicendo che non abbiamo più tempo».

Ma è già troppo tardi per cambiare strada? Lo abbiamo chiesto a Leonardo Boff, tra i padri fondatori della Teologia della Liberazione, quella dei poveri e del «grande povero» che è il nostro pianeta devastato e ferito, il cui duplice – e congiunto – grido ha occupato il centro della sua intera riflessione.

Tra i firmatari dell’accordo sulla deforestazione raggiunto alla Cop 26 c’è anche Bolsonaro. Il trionfo dell’ipocrisia?

Nulla di minimamente credibile può venire dal governo Bolsonaro: con lui la menzogna è diventata politica di stato. Solo su un punto ha detto la verità: «Il mio governo è venuto per distruggere tutto e per ricominciare da capo». Peccato che questo reinizio sia nel segno dell’oscurantismo e del negazionismo scientifico, che si tratti di Covid o di Amazzonia. La sua opzione economica va in direzione esattamente opposta a quella per la preservazione ecologica: Bolsonaro ha favorito l’estrazione di legname, l’attività mineraria all’interno delle aree indigene, la distruzione della foresta per far spazio alla monocoltura della soia e all’allevamento. Solo da gennaio a settembre, l’Amazzonia ha perso 8.939 km² di foresta, il 39% in più rispetto allo stesso periodo del 2020 e l’indice peggiore degli ultimi 10 anni. La sua adesione al piano di ridurre le emissioni di metano del 30% entro il 2030 è pura retorica. In realtà, non ci sono dubbi sul fatto che proseguirà sulla strada della deforestazione continuando a mentire al Brasile e al mondo.

L’Amazzonia potrà sopravvivere ad altri 10 anni di deforestazione?

Il grande specialista dell’Amazzonia Antônio Nobre afferma che, al ritmo attuale di distruzione, e con un tasso di deforestazione già vicino al 20%, in 10 anni si potrebbe raggiungere il punto di non ritorno, con l’avvio di un processo di trasformazione della foresta in una savana appena interrotta da alcuni boschi. La foresta è lussureggiante ma con un suolo povero di humus: non è il suolo che nutre gli alberi, ma il contrario. Il suolo è soltanto il supporto fisico di un complicata trama di radici. Le piante si intrecciano mediante le radici e si sostengono mutuamente alla base, costituendo un immenso bilanciamento equilibrato e ritmato. Tutta la foresta si muove e danza. Per questo motivo, quando una pianta viene abbattuta, ne trascina molte altre con sé.

Siamo ancora in tempo per intervenire?

I leader mondiali hanno accuratamente evitato di toccare quello che è il vero problema: il capitalismo. Se non cambiamo il modello di produzione e di consumo, non fermeremo mai il riscaldamento globale, arrivando al 2030 con un aumento della temperatura oltre il grado e mezzo. Le conseguenze sono note: molte specie non riusciranno ad adattarsi e si estingueranno, si registreranno grandi catastrofi ambientali e milioni di rifugiati climatici, in fuga da terre non più coltivabili, oltrepasseranno i confini degli stati, per disperazione, scatenando conflitti politici. E con il riscaldamento verranno anche altri virus più pericolosi, con la possibile scomparsa di milioni di esseri umani. Già ora i climatologi affermano che non c’è più tempo. Con l’anidride carbonica che si è già accumulata nell’atmosfera, e che vi resterà per 100-120 anni, più il metano che è 80 volte più nocivo della CO2, gli eventi estremi saranno inevitabili. E la scienza e la tecnologia potranno attenuare gli effetti catastrofici, ma non evitarli.

Ha sempre affermato che senza un vero cambiamento nella nostra relazione con la natura non avremo scampo. L’umanità è pronta per questo passo?

Il sistema capitalista non offre le condizioni per operare mutamenti strutturali, cioè per sviluppare un altro paradigma di produzione più amichevole nei confronti della natura e in grado di superare la disuguaglianza sociale. La sua logica interna è sempre quella di garantire in primo luogo il profitto, sacrificando la natura e le vite umane. Da questo sistema non possiamo aspettarci nulla. Sono le esperienze dal basso a offrire speranze di alternativa: dal buen vivir dei popoli indigeni all’ecosocialismo di base fino al bioregionalismo, il quale si propone di soddisfare le necessità materiali rispettando le possibilità e i limiti di ogni ecosistema locale, creando al tempo stesso le condizioni per la realizzazione dei beni spirituali, come il senso di giustizia, la solidarietà, la compassione, l’amore e la cura per tutto ciò che vive.

Fonte:  Il Manifesto de 4.11.2021

La nueva teología del Ecoceno

Entrevista a Leonardo Boff

27 Enero de 2020

Esta entrevista foi dada em janeiro de 2020 e publicada na Italia. Ela, ao parecer, possui ainda atualidade. Por isso publico a versão espanhola.

A situação se agravou enormemente com a intrusão do Covid-19 especialmente com o negacionismo do atual presidente de extrema direita autoritária e até boçal. Mas sobre isso já escrevemos bastante.

De un Brasil en crisis, esclavizado, “campo de batalla en la guerra fría entre Estados Unidos y China”, de un continente explotado “para satisfacer a las superpotencias”, humillado, pisoteado, llega un mensaje de esperanza. De renovación. Que toca los temas del ambiente “rumbo a un nuevo Ecoceno” y de la igualdad social. Que habla del papel de la mujer, del nuevo rostro de la Iglesia, la del Papa Francisco. Un mensaje libre, “como el Espíritu Santo”.

El reportaje es de Annachiara Sacchi, publicado en el cuaderno La Lettura del Corriere della Sera del 26-01-2020.

Leonardo Boff, exponente destacado de la teología de la liberación, incómodo cuando era sacerdote y también después (dejó de ser fraile franciscano en 1992; en 1985 había sido advertido por la Congregación para la Doctrina de la Fe), activista de los derechos humanos y de la ecología, profesor universitario, está confiado: “En toda gran crisis hay la posibilidad de un cambio, pueden nacer nuevas fuerzas. Y Brasil es mayor que esa crisis”.

Esta es la entrevista.

¿Profesor Boff, está usted optimista o no?

En realidad, estoy preocupado. La situación en Brasil es trágica: el ultraliberalismo de Jair Bolsonaro, la extrema derecha política que hace apología de la violencia y de los regímenes dictatoriales, que exalta a los torturadores como héroes nacionales… Nunca vivimos nada semejante.

¿Cuál  es la explicación?

Detrás de eso, está el proyecto de recolonizar América Latina y obligarla a ser solamente exportadora de commodities (carne, alimentos, minerales…). Y, en esa estrategia perversa,  Brasiles central.

¿Por qué?

Porque es un país riquísimo, una reserva de bienes naturales que faltan en el mundo. Como dijo varias veces el premio Nobel Joseph Stiglitz, en los próximos años toda la economíadependerá de la ecología. Y Brasil tendrá un papel primordial en ese juego.

¿Es difícil vivir en Brasil hoy?

Mucho. El ministro de Economía, Paulo Guedes, es uno de los “Chicago Boys”, formados en la Universidad de Chicago, que trabajaron en el Chile de Pinochet. El ultraliberalismo de derecha está haciendo una política de los ricos para los ricos, está privatizando todo. Guedes está trayendo la política de Pinochet a Brasil. ¿Y sabes por qué nadie protesta, por qué la gente no sale a la calle como está pasando ahora en Chile? 

No.

¡Porque el gobierno anunció que reprimirá cualquier protesta con el ejército! Aquí todos tienen miedo, aunque el descontento crezca. Pero dentro de las paredes de casa. Asistimos a una triste forma de inercia popular.

En América Latina presidentes como Evo Morales y Lula cerraron su era. Ahora, nuevas fuerzas orientan la opinión pública. ¿El impulso reformista acabó?

Tuvimos gobiernos que hicieron mucho por los pobres. En Brasil, 36 millones de personas fueron incluidas en el welfare. Pero el año pasado, un millón de familias pasaron de la pobreza a la miseria. El gobierno está desmontando las políticas sociales de Lula. Estamos tratando con una élite reaccionaria y esclavista que nunca aceptó que un obrero –en el caso de Brasil, Lula, o un indígena en el caso de BoliviaEvo Morales– llegase a la presidencia del país. Esa élite ha hecho de todo con los medios más brutales. Pero a esta ola de violencia se le está oponiendo un movimiento de grupos progresistas, de afro-latino-americanos, de indígenas. Son los brotes de una realidad que veremos. Esa es la esperanza que nutrimos.

¿Ve usted algún nuevo líder político?

Lamentablemente no. Estamos en un momento de vacío, faltan figuras carismáticas, principalmente en Brasil. Tal vez también por culpa de Lula, gran carismático, pero que no supo formar una clase dirigente con nuevos carismas.

Su nuevo libro en italiano, “Soffia dove vuole” (Sopla donde quiere) habla del Espíritu Santo. ¿Por qué?

Los tiempos inquietantes que estamos viviendo exigen una reflexión seria sobre el Spiritus Creator.

Que quedó al margen de la teología

Eso no es cierto. Existen estudios grandiosos sobre el Espíritu, desde el de Yves Congar hasta el de Jürgen Moltmann, en diálogo con el nuevo paradigma cosmológico. Pero lo que podemos decir es esto: el Espíritu Santo ha estado casi siempre al margen de la jerarquía eclesiástica. Y con razón.

¿Cómo es eso?

La jerarquía está orientada hacia “áreas” como el poder, el orden, los dogmas, el derecho canónico, en una condición constante de autorreferencia. Son todos aspectos que sirven para mantener el statu quo y que tienen su razón de ser, no niego eso. Del mismo modo, sin embargo, ellos no pueden ser predominantes. El Espíritu es más carisma que poder, más movimiento que estabilidad, más innovación que permanencia. Él sigue una lógica diferente a la de la jerarquía de la Iglesia. Por eso, casi todos los predicadores del  Espíritu Santo fueron marginados o perseguidos. Los hechos confirman eso. Mi libro juzgado en 1985 por la Congregación para la Doctrina de la Fe (cuyo prefecto era Joseph Ratzinger), se titulaba Iglesia: carisma y poder. En Roma sin embargo lo leyeron como “Iglesia: carisma o poder”. Por esa confusión, me condenaron.

¿En vez de eso, que es lo que usted quería decir?

Yo quería crear un equilibrio entre carisma y poder. Pero ese equilibrio debe comenzar por el carisma. Si se comienza con el poder, se corre el riesgo de que este sofoque al carisma. En vez de eso, si se comienza con el carisma se impide que el poder sea ejercido de forma autoritaria, se le imponen límites, y se le obliga a ser poder-servicio y ponerse al servicio de la comunidad.  

¿Cuál es el papel del Espíritu Santo hoy?

Estamos en un momento histórico, el Antropoceno, en el que las bases que sustentan la vida y la Tierra han sido profundamente atacadas. O cambiamos o morimos. El Espíritu es Spiritus CreatorSpiritus Vivificans. Sólo el Espíritu puede restaurar el equilibrio destruido por la voracidad del hombre. Sólo con el Espíritu es posible superar el Antropoceno y llegar al Ecoceno, a una sociedad sostenible, vital, abierta a la convivencia de todos con todos donde lo ecológico ocupará la centralidad. De ahí, ecoceno.

¿Por qué, en su elaboración teológica, usted insiste en enfatizar el papel de la ciencia?

No es posible hacer una teología actualizada sin un diálogo profundo con la nueva visión del mundo proveniente de las ciencias de la vida, de la Tierra, del cosmos. Esa lectura tiene ya un siglo, pero no es hegemónica. Son pocos los teólogos que han aceptado este desafío.

¿Por qué?

Porque obliga a estudiar ciencias diferentes: la física cuántica, la nueva biología, la astrofísica, la teoría del caos y de la complejidad. Después de tal camino, digo esto por experiencia, es más fácil hacer teología, porque con esos datos, Dios aparece inmediatamente como la energía misteriosa y amorosa que sustenta todo y que lleva adelante todo el proceso cosmogénico. La categoría teológica del Espíritu Santo es más adecuada para esa nueva forma de teología.

¿La conciencia ecológica qué tiene que ver con el Espíritu Santo?

El principal objetivo de mi libro es afirmar que el diálogo con la ecología y con la nueva cosmología nos obliga a cambiar el paradigma. El paradigma de la filosofía y de la teología occidentales es de raíz griega, esencialista, basado en naturaleza, sustancia, esencia y otros términos semejantes que pertenecen al área de la permanencia, de la estabilidad. En vez de eso, cuando se habla de Espíritu, todo es dinamismo, innovación. Hay que cambiar la forma de pensar a Dios, la historia, la Iglesia. Dios es dinamismo de tres personas divinas en comunicación entre sí y con la creación. 

¿Teología de la ecología, entonces?

Yo he tratado de hacer una teología con un nuevo horizonte de comprensión. El mismo que el Papa Francisco indica en la encíclica Laudato si’: todo es relación; nada existe fuera de la relación. Poéticamente Francisco escribe: “El sol y la luna, el cedro y la florecilla, el águila y el gorrión: el espectáculo de sus incontables diversidades y desigualdades significa que ninguna criatura se basta a sí misma. Ellas existen solo en dependencia unas de otras, para completarse mutuamente en el servicio de unas a otras”. La tesis de la ecología es precisamente esta: todo está conectado para formar la gran comunidad de vida, el todo de la naturaleza y del universo. Y este modo de pensar corresponde a la naturaleza del Espíritu Santo.

¿Le parece a usted que la Iglesia católica está lista para aceptar estas reflexiones suyas?

La situación es diferente en cada país, pero en todas partes faltan profetas. Con Wojtyla y Ratzinger asistimos al retorno de la gran disciplina, vimos una Iglesia cerrada en sí misma, preocupada con la ortodoxia, atenta a combatir enemigos como la modernidad, las nuevas libertades. Y, sobre todo distante del pueblo, con una teología erudita pero pobre en innovacióny una liturgia ajena a la sensibilidad moderna.

Mientras que ahora…. 

Con el Papa Francisco surge otro tipo de Iglesia, abierta como un hospital de campaña, donde la centralidad no es tanto la ortodoxia, sino la pastoral del encuentro, de la ternura, de la convivencia. Para el Papa Francisco las doctrinas son importantes, pero lo más importante es entender que Cristo vino para enseñarnos a vivir los bienes del reino como el amor incondicional, la misericordia, la solidaridad, la compasión por quien sufre, por los últimos en total apertura al Padre de bondad y misericordia.

¿Mensaje recibido?

No siempre. Muchos católicos tradicionalistas no se han dado cuenta de que estamos ante otro tipo de papa, menos doctor y más pastor en medio de su pueblo. Un papa que lleva menos los símbolos paganos de los emperadores romanos y más la sencillez de un párroco de aldea, sencillo humilde, amigo de todos. Un hombre que viene de lejos, por eso es libre. Si no fuese así, ¿por qué el nombre de Francisco? Sería una contradicción pensar en San Francisco de Asís en un palacio pontificio. Pero tenemos a Francisco de Roma que vive y come con todos los demás, no él solo. 

¿El aumento de las protestas públicas en la Iglesia contra el Papa Francisco le preocupa?

No me preocupa, porque no le preocupa. ¿Cómo sé esto? El papa duerme desde las 21h30 hasta las 5h30 como un tronco, bebe su mate y lleva adelante, franciscanamente, su misión, con una irradiación mundial en sentido religioso, ético y político. Nos conocemos desde 1972. Intercambié con él algunas cartas sobre temas de ecología y sobre el Sínodo para la Amazoniade octubre pasado.

¿A propósito, qué espera usted de la exhortación apostólica pos-sinodal de Francisco, que se espera en breve?

Algo bueno. Sobre todo sobre la defensa del rostro indígena de la Iglesia y sobre las mujeres. En mis cartas le pedí que hiciese un gesto profético sin pedir nada a nadie, como hizo Juan XXIII cuando convocó el Concilio Vaticano II.

¿Qué gesto?

Ordenar a las mujeres.

¿Y le respondió?

Me gradeció la carta. 

Usted dedica su libro a las mujeres

Yo digo que la primera Persona divina en entrar en este mundo, o en irrumpir en el proceso de la evolución, no fue el Hijo, como dice la Iglesia. Fue el Espíritu Santo. Esto está muy claro en el texto de Lucas: “El Espírito vendrá sobre ti… y te cubrirá con su sombra”. Hice una búsqueda de meses en patrología: no hay ningún rastro de la centralidad del Espíritu. Ni siquiera en los grandes teólogos. De acuerdo con una lectura predominantemente masculina, prevalece el Hijo. Pero el Hijo vino después de la aceptación (“fiat”) de María, por lo tanto después del Espíritu. Y digo más aún: el Espíritu asumió a María, la divinizó. En el proyecto del Altísimo, hombre y mujer son igualmente divinizados. Forman parte de Dios.

Hoy la teología de la liberación es ecoteología, teología feminista, teología afro. Los pobres siguen siendo muchos y oprimidos. ¿La teología de la liberación tiene todavía un largo camino por delante?

La existencia de los pobres, de los oprimidos me hace pensar siempre en Jesús, en San Francisco y en tantos otros que tuvieron misericordia de ellos. Mientras existan pobres, especialmente en la medida en que su número aumenta, más necesaria se hace una teología de liberación. Es la situación actual en todo el mundo.  

Le acusaron de ser pro-marxista.

Marx nunca fue padre ni padrino de la teología de la Liberación, como insinuaban los dictadores latinoamericanos. Pero hoy, más que nunca, la teología de la liberación es urgente. El ejército de los pobres ha aumentado terriblemente. Si la teología, sea la que sea, no toma en serio la situación actual difícilmente se librará de la crítica de cinismo y de irrelevancia histórica. Es preciso leer los signos de los tiempos. El Espíritu nos invita a tomar una posición del lado de las víctimas, de aquellos que el sistema imperante ha hecho invisibles.

El libro en español se titula El Espíritu Santo: fuego interior, dador de vida y padre de los pobres, PAVSA, Managua 2014; Trotta, Madrid 2014  

Traducción de Mª José Gavito Milano