Os Sem Terrinha, obra prima do MST!

Roberto Malvezzi (Gogó)

Publicamos o presente texto de alguém que conhece o MST, Roberto Malvezzi, agora submetido a uma CPI da Câmara dos Deputados. Aqueles que apenas fazem não apenas críticas, mas verdadeiras acusações e condenações sem antes de ir in loco ver a realidade dos Assentamentos, suas escolas, a produção agroecológica e constatar as dezenas de toneladas de alimentos sadios doados aos necessitados durante a pandemia além de milhares e milhares de quentinhas, teriam uma visão diferente mais objetiva desses milhares de membros do MST. E se visitarem a Escola Florestan Fernandes, verdadeira universidade a qual acorre gente do Brasil inteiro e de outros países para fazerem sua formação mais qualificada e estudarem métodos de produção agroecológica e como funciona o sistema que mundialmente e no Brasil cria acumulação em poucas mãos e imensa pobreza e miséria pelo mundo afora, ficarão maravilhados pelas construções feitas pelos próprios membros do MST e pela grande disciplina que aí é vivida. Já foi dito por outros que é seguramente um dos movimentos sociais populares mais importantes do mundo, pois une estudo com trabalho, produção com arte, poesia e mística.

A CPI não é tanto sobre os ditos “crimes” do MST mas contra o MST, pois os poderosos especialmente alguns do agronegócio, temem a sua mensagem de outro Brasil com menos iniquidade social, mais participativo e democrático e as lutas que, de forma organizada e com meios pacíficos, procuram realizar. Cremos que esta CPI mostrará a verdadeira transformação que está ocorrendo no campo, com ocupação de terras baldias ou sem responsabilidade social, uma verdadeira reforma agrária popular para produzir alimentos sadios para eles mesmos e para o povo brasileiro. Damos testemunho desta realidade pelas tantas visitas que fiz a Assentamentos e confirmamos as afirmações de Roberto Malvezzi. LBoff

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Há décadas a Comissão Pastoral da Terra (CPT) acompanha o Movimento dos Sem Terra. Como pessoa da CPT por muitos anos, também acompanho a evolução do Movimento, ora mais próximo, ora mais distante, como agora. Quero dar meu testemunho sobre o Movimento.

Um dos aspectos mais belos foi passar do “ocupar, resistir, produzir” para o “ocupar, resistir, produzir e cuidar”. A ocupação se faz em propriedades improdutivas conforme reza a lei. Resistir para existir. Produzir para sobreviver e alimentar os outros. E agora cuidar, para estar à altura do século XXI, onde a lógica do raciocínio complexo exige que se produza (economia) mas de uma forma que o ambiente seja preservado (ecologia). Daí a preocupação com a agroecologia, a biodiversidade, o plantio de 100 milhões de árvores, o cuidado com a água, com os solos, a supressão dos venenos, os alimentos sadios, além da justiça social básica, assim por diante.

Se quero um alimento sadio aqui em Juazeiro da Bahia, preciso comprar produtos da agricultura familiar. Na quinta e na sexta-feira compramos na feira de orgânicos na orla nova da cidade, onde está a feira agroecológica e lá estão também as barracas do MST junto com outras bancas da agricultura familiar. Evitamos quase que totalmente os produtos da agricultura irrigada, altamente consumidora de venenos, além da água e dos solos.

O MST é uma cunha atravessada no modelo agrícola brasileiro, mas é por ele e tantos outros agricultores agroecológicos que ainda podemos ter um alimento qualitativamente diferenciado.

Porém, o trabalho que mais me encanta é com as crianças. Elas poderiam estar por aí engrossando a fila do crime organizado, no desespero de não ver uma saída para a vida numa sociedade cruel como a brasileira. Com toda certeza, muita gente de bem nesse país preferiria que elas estivessem com o crime, ficaria mais fácil de matá-las e justificar a eliminação desses bandidos pobres que são um peso para o país. Porém, ao contrário, as crianças são cuidadas, educadas e uma legião de filhos e filhas dos Sem Terra vão se tornando profissionais competentes em vários ramos do saber e das profissões, inclusive médicos e médicas, uma casta quase que impenetrável nesse país chamado Brasil.

Chamados de “poetas sociais” pelo Papa Francisco, o MST, e outros movimentos, fazem parte do melhor que esse país ainda tem.

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