Qual é o lugar do fator religioso no mundo?

 

         Por mais que a sociedade se mundanize e, de certa forma, se mostre materialista, não podemos negar que vigora uma volta vigorosa do fator religioso, místico e esotérico nos tempos atuais. Temos a impressão de que existe um cansaço pelo excesso de racionalização e de funcionalização de nossas sociedades complexas. A volta do religioso apenas revela que no ser humano há uma busca por algo maior. Há um lado invisível no visível que gostaríamos de surpreender. Quem sabe não se encontre lá um sentido secreto que sacia nossa busca incansável por algo que não sabemos identificar.  Nesse horizonte não confessional quiça faça sentido se falar do fator religioso ou do espiritual. Ele sofreu todo tipo de ataques mas conseguiu sobreviver. A primeira modernidade o via como algo pré-moderno, um saber fantástico que deve dar lugar ao saber positivo e crítico (Comte). Em seguida foi lido como uma enfermidade: ópio, alienação e falsa consciência de quem ainda não se encontrou ou  caso se encontrou voltou a se perder (Marx). Depois, foi interpretado como a ilusão da mente neurótica que busca pacificar o desejo de proteção e tornar o mundo contraditório suportável (Freud). Mais adiante, foi interpretado como uma realidade que pelo processo de racionalização e de desencanto do mundo tende a desaparecer(Weber). Por fim, alguns o tinham como algo sem sentido, pois seus discursos não têm objeto verificável nem falsificável (Popper e Carnap).

 

       Estimo que o grande equívoco destas várias interpretações reside de no fato de colocarem o fator religioso num lugar equivocado: dentro da razão. As razões começam com a razão. A razão em si mesma não é um fato de razão. É uma incógnita. Ja rezava a sabedoria dos Upanishad:”aquilo pelo qual todo pensamento pensa, não pode ser pensado”.Talvez nesse “não pensado” se encontra o berço do fator religioso, vale dizer, daquelas instâncias exorcizadas pela racionalidade moderna: a fantasia, o imaginário, aquele fundo de desejo do qual irrompem todos os sonhos e as utopias que povoam nossa mente, entusiasmam os corações, incendeiam o estopim das grandes transformações da história. Seu lugar reside naquilo que o filósofo Ernst Bloch chamava de princípio esperança   .

 

         É próprio destas instâncias – do utópico, da fantisia e do imaginário – não se adequarem ao dado racional concreto. Antes, contestam o dado pois suspeitam que o dado é sempre feito; tanto o dado quanto o feito não são todo o real. O real é ainda maior. Pertence ao real também o potencial, o que ainda não é mas que pode vir a ser. Por isso, a utopia não se antagoniza com a realidade; revela a dimensão potencial e ideal desta realidade. Já dizia o sábio E. Durkheim na conclusão de sua famosa obra As formas elementares da vida religiosa: ”a sociedade ideal não está fora da sociedade real; é parte dela”. E concluía:”somente o ser humano tem a faculdade de conceber o ideal e de acrescentá-lo ao real”. Eu diria, de detectá-lo dentro do dado real, fazendo com que este real no qual está o ideal, seja sempre maior que o dado à nossa mão.

 

         É no interior desta experiência do potencial, do utópico que irrompe o fator religioso. Por isso dizia Rubem Alves, quem melhor no Brasil estudou o “enigma da religião”(título de seu livro):”A intenção da religião não é explicar o mundo. Ela nasce, justamente, do protesto contra este mundo que pode ser descrito e explicado pela ciência. A descrição científica, ao se manter rigorosamente nos limites da realidade instaurada, sacraliza a ordem estabelecida das coisas. A religião, ao contrário, é a voz de uma consciência que não pode encontrar descanso no mundo assim como ele é e que tem como seu projeto transcendê-lo”.

 

        Por esta razão, o fator religioso é a organização mais  ancestral e sistemática da dimensão utópica, inerente ao ser humano. Como bem dizia Bloch:”onde há religião, ai há esperança” de que nem tudo está perdido. Esta esperança é um amor por aquilo que ainda não é, “a convicção de realidades que não se veem” como diz a Epístola aos Hebreus(11,1) mas que são o fundamento do que se espera.

 

     Quem viu com lucidez esta singularidade do fator religioso foi o filósofo e matemático Ludwig Wittgenstein que disse: no ser humano não existe apenas a atitude racional e científica que sempre indaga como são as coisas e para tudo procura uma resposta. Existe também a capacidade de extasiar-se: “extasiar-se não pode ser expresso por uma pergunta; por isso não existe também nenhuma resposta”. Existe o místico: “o místico não reside no como mundo é, mas no fato de que o mundo exista”. A limitação da razão e do espírito científico reside no fato de que eles não têm nada sobre o que calar.

 

         O religioso e o místico  sempre terminam no nobre silêncio, pois não existe em nenhum dicionário a palavra que o possa definir.

 

         Até aqui falamos do fator religioso em sua natureza sadia. Mas ele pode ficar doente. Daí nasce a doença do fundamentalismo, do dogmatismo e da exclusividade da verdade. Mas toda doença remete à saúde. O fator religioso deve ser analisado a partir de sua saúde e não de sua doença. Então o fator religioso sadio nos torna mais sensíveis e humanos. Sua volta sadia é urgente hoje, pois ele nos ajuda a amar o invisível e tornar real aquilo que ainda não é mas pode ser.

 

Leonardo Bof escreveu Experimentar Deus: a transpareência de todas as coisas,Vozes 2011.

 

46 comentários sobre “Qual é o lugar do fator religioso no mundo?

    • Belo texto. Por uma questão de mal uso da expressão “religião” ou “religioso”, que acabou, pelo mal testemunho dos que a praticam, se tornando certas vezes até uma expressão pejorativa, eu prefiro denominar essa busca pelo transcendente simplesmente de fé. E creio que a fé encontra lugar no coração do homem justamente pelo fato dessa incapacidade citada por você, de que a ciência se limita a tentar explicar “como as coisas funcionam”. Entretanto, creio que a fé (o místico) extrapola a ideia de que a temos simplesmente por entendermos que existimos, mas vai muito mais na direção do questionamento interno e natural do ser humano do “porque existimos?”.

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  1. ESPETACULAR. QUEM NÃO ACREDITA NO ESPÍRITO, NA SUA MANISFESTAÇÃO E EVOLUÇÃO, QUE CONSIGA TOCAR E CONTROLAR SEUS PENSAMENTOS E EMOÇÕES, QUEM SABE ASSIM PODERÁ DESCOBRIR-SE.

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  2. Não existe contradição entre a verdadeira espiritualidade e a razão. A oposição, que leva ao conflito, surge quando estas dimensões se arrogam o poder de ditar ou desvelar a verdade absoluta. Caro Leonardo, você não acha que falta um pouco de verdadeiro “misticismo”, a muitas manifestações religiosas de nossa atualidade? Em tempo, muito bom o painel de ideias e conceitos que você, com simplicidade, construiu nesta mensagem. PAX!

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    • Alfredo
      A crise das religiões e caminhos espirituais reside no fato de que não cultivam a espiritualidade, a mística. Estas são a fonte donde elas se alimentam. Fechando a fonte predominam o ritualsismo,o dogmatismo e o poder sobre o carisma.
      lboff

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      • É assim. O Espírito dá vida, mas a letra, mata. Há muito trabalho a ser feito.

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  3. Ótimo texto! Apenas uma ressalva em relação à afirmativa de que Popper tinha a religião como algo “sem sentido”. Segundo o filósofo vienense, um sistema empírico-científico caracteriza-se pela possibilidade de falir com recurso à experiência. Esse critério (falseabilidade) serve para demarcar científico e não-científico. Diferentemente dos positivistas lógicos, NÃO É CRITÉRIO DE SIGNIFICÂNCIA, distinguindo o com sentido do sem sentido. Os neopositivistas usaram deste “artifício” para desvalorizar as teorias metafísicas e religiosas como conhecimento. Para estes, as proposições metafísicas, como “Deus é bom”, “Deus existe”, são meras combinações de palavras inexpressivas, pois seus termos não podem ser verificados pela experiência empírica . O critério positivista é a verificabilidade. O filósofo vienense evidencia uma assimetria entre confirmação (verificação pela experiência empírica) e desmentido (falseamento empírico) de uma hipótese universal: bilhões de confirmações não tornam certa uma teoria, enquanto uma negativa a destrói. Diante disso, o cientista busca teorias cada vez mais verossímeis, criando hipóteses e tentando falsear toda teoria. Se uma teoria é falseada, procuramos outra melhor. Karl Popper defende que é possível distinguir ciência de não-ciência, pela possibilidade de refutação por enunciados empíricos aceitos. No entanto, evidencia Popper, na obra “A Sociedade Aberta e seus Inimigos”, que isso não significa de modo algum que sentenças metafísicas não tenham seu valor, APENAS NÃO SÃO CIÊNCIA. As teorias metafísicas são PERFEITAMENTE SENSATAS E HUMANAMENTE RELEVANTES. A teoria atomista de Demócrito, por exemplo, apesar de inicialmente não ter fundamento empírico, por estar aberta à crítica desenvolveu-se e tornou-se científica (Cf POPPER, K. R. A sociedade aberta e seus inimigos. (2. tomo). São Paulo: EDUSP, 1987).

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    • Fabio ,
      quando era estudante em Munique Popper deu uma palestra-debate com teólogos e dizia exatamente isso. As afirmações da teologia podem ser falsas e verdadeiras. Não dá para decidir porque lhe falta o objeto de verificação. Ao que os teólogos respondiam: Se Deus fosse um objeto seria uma idolatria, algo ao lago de outros. Quando a teologia fala de Deus fala de uma dimensão do humano captada por outro órgão que vai além da razão empirica e cientifica, o que Jung e de certa forma Freud chamaarima de “experiência oceânica” da vida.
      lboff

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    • Caro Fabio,
      belo texto, estou estudando os tomos I e II de “A Sociedade Aberta e seus Inimigos” de Popper, tive muita sorte em conseguir os volumes no final do ano em papel. Considero a filosofia de Popper um divisor de águas para aqueles que desejam refinar o pensamento em muitos assuntos complexos, principalmente compreender a diferenças de análise no raciocínio Dedutivo/Indutivo e sua aplicabilidade. Abs.

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    • Prezado Fabio,
      caso você (e outros interessados) não tenham em papel os dois volumes de Popper, segue o download direto em PDF abaixo:

      Popper – A sociedade aberta e seus inimigos – Volume 1:http://www.multiupload.nl/4J4TZ65C30
      Popper – A sociedade aberta e seus inimigos – Volume 2:http://www.multiupload.nl/7CE09KZ76K

      Isso garante a oportunidade de acesso a esse estudo, pois os livros em papel são raros. Abs.

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      • Eu não consegui baixar os livros. Será que você poderia envia-los por email? Obrigado!

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      • Olá Kátia

        Os links estão vivos ainda, mas os servidores colocam muito Ads para atrapalhar os downloads, tente pelos seguintes links diretos, espere 6 segundos antes de clicar em baixar, caso abra uma janela estranha, feche e verá a tela de download na janela anterior:

        Livro1: http://uppit.com/uh26bwplafpb
        Livro2: http://uppit.com/dzocf4f6mm4s

        Para evitar os Ads, instale em seu navegador Google Chrome ou Firefox, o bloqueador de ADS: ADBlock Plus! No Gloogle Chrome acesse Aplicativos em seguida Loja e digite adblock plus, clique no desejado e instale! No firefox clique em Ferramentas, Complementos, Adicionar, digite: adblock plus e clique em instalar. Reinicie os navegadores assim que concluir, agora poderá clicar nos downloads e não aparecerá mais as janelas estranhas.

        Tente agora! Abs.

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  4. Amigo Prof. Boff: não há como racionalizar a fé, que dentro de si tem o ingrediente religioso. Quando falo em “religioso” gostaria na verdade de dizer “a espiritualidade”, que própria da condição humana de buscar respostas que a razão não oferece. Abraços, Prof, Ronaldo Uller.

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  5. Sensacional.
    Muito cedo imaginei que fosse o potencial criativo, frustrado pela natureza dura e fria da realidade, o fator mais forte para levar um indíviduo a se associar à uma criação coletiva transcendental e dogmática – muito mais do que seu instintinto investigativo. Muito pouco do que usamos na construção do nosso caráter vêm exclusivamente do que detectamos e analisamos sobre o mundo.
    Considero “o fator religioso” em uma pessoa como sua tentativa de usar seu potencial criativo para idealizar um código moral perfeito, extremamente particular em geral, que vai servir como meta no dia-a-dia da construção de seu caráter. E o único momento em que algum senso investigativo costuma ser necessário nesse processo é ao se relativizar sua moral perfeita ao seu ambiente.
    Assim, quando eu sou a favor de aborto, uma senhora protestante é contra topless, quando um fundamentalista acredita numa teocracia ou quando existe algo como a cientologia, nós não estamos aplicando toda nossa capacidade analítica na tomada dessas decisões; simplesmente temos um mundo ideal projetado internamente, no qual aquelas são as regras. E o mundo real é o que há em evidência entre esses zilhões de mundinhos.
    Eu sou pessoalmente contra qualquer crença religiosa, ou metafísica, mas de forma alguma LUTO contra qualquer religião. Não há como vencer essa luta, porque pra mim, é como um querer lutar contra a criatividade do resto da humanidade. Não é saudável, muito menos produtivo. Sem nossa criatividade, todos estagnamos.

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  6. Acredito, sim, num futuro onde todo nosso potencial criativo possa ser explorado e focado em assuntos de real interesse coletivo moderno, ao invés de ser desperdiçado em cultos à entidades maléficas (por que todos temem à Deus? ele devia ser bom.) ou na fiscalização da vida alheia.

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    • Bruno, o temor descrito na Bíblia não se refere ao medo, ao perigo, mas sim o temor de tocar o intocável, de observar o inobservável, é o êxtase da não compreensão, quando nos vemos tão ínfimos ante ao eterno e imponderável, em alguma passagens se fala até em terror.
      Tentando comparar, e por isso mesmo falhando, mas me vêm a mente a sensação de se estar ao pé de uma montanha, ou em um lugar muito alto, não só pela altura, mas pelo até onde a vista alcança, talvez seja isso que dizem os astronautas quando veem a terra do espaço.

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  7. Excelente análise do Sentimento Religioso, tal qual ele é em sua essência primordial. Uma explanação clara, erudita e profunda de nosso grande Teólogo Leonardo Boff ! A realidade é bem maior do que dados concretos que são captados por nossos sentidos físicos e pela tecnologia humana hoje disponível .

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    • Excelente análise do Sentimento Religioso. A realidade é bem maior, e vai muito além, dos dados concretos captados por nossa sensorialidade natural e artificial. O Sentimento Religioso é inato no ser humano!

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  8. Não tenho tanto conhecimento de grandes pensadores quanto o filósofo, mas concordo quando este diz que existe o fator religioso doente e o fator religioso sadio. Mas acho que sempre devemos lembrar o mal que uma doença como esta gera, como guerras, elitização da humanidade(seres humanos sentindo-se Deuses ou representantes Destes) fazendo com que humano escravize humano. Por outro lado concordando mais uma vez; acho que deve-se propagar ou praticar a religiosidade que faz o homem sentir-se uno com seu semelhante. Temos exemplos práticos: Teologia da Libertação. Quanto a religiosidade como crença para justificar consequências não vejo a ciência tão longe da religião, pois grandes teorias científicas são baseadas em postulados, isto é crença.

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    • Prezado Ze Facilitador,
      hoje existe uma divisão clara entre o que está fora de nós – o mundo real –, e o que se encontra dentro de nós – o mundo interior das crenças, desejos, fé, etc. As pessoas menos esclarecidas tentam passar diretamente do mundo interior para o exterior através da ponte chamada “crença”, é exatamente aí que surge o que chamamos de irracionalidade. O nosso divisor de águas é o nosso cérebro, que filtra tudo o que ocorre fora e dentro de nós. Quanto maior for a nossa percepção do mundo exterior melhor será a nossa compreensão daquilo que pensamos, sentimos e acreditamos.
      A metafísica atua como um portal que transporta para o além, obscuro, oculto e todos os adjetivos devidamente aplicáveis para qualificar a tentativa de propor uma explicação para fenômenos não compreendidos ainda.
      As religiões estão traduzindo a própria metafísica no sentido de colocar significados para acontecimentos exteriores, como um equivalente ao mundo interior, seja reflexo deste, complemento ou até mesmo consequência.
      Se analisarmos os dois mil anos de história da humanidade, notamos que a religião é como se fosse um enorme placebo, tentando ludibriar as pessoas que se dizem espirituais, na tentativa de confortar a própria condição humana.
      O experimento humano coloca-nos de forma isolada como responsáveis diretos por todos os absurdos cometidos pelos humanos tais como: genocídios, guerras, atrocidades, extermínios, etc. Quanto a isso não faz a menor diferença se possuirmos um dito estado espiritual que servirá de mediador entre Bem e Mal.
      Para aqueles que se dizem esclarecidos, mas usam crenças e um posicionamento contrário á ciência afirmando não ser esta uma solução para traduzir o real, o mundo exterior; caem o tempo todo na contradição, pois vivemos em uma enorme bolha científica que está nos dando as ferramentas para decodificar a própria realidade.
      A ciência é totalmente imparcial, se nós construirmos armas de destruição em massa, não é culpa da ciência, a culpa é totalmente nossa.
      Aquilo que é incompreendido, oculto, ou que ainda não pode ser explicado, é sinônimo de falta de método ou tecnologia o suficiente para que deixe de ser oculto e passe para o aspecto do palpável e seja conscientemente compreendido.
      O Construto Deus é primitivo e suas derivadas zeram todos os resultados que pretendemos alcançar utilizando esse significante como base.
      É assim que vejo a problemática humana. Abs.

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  9. Prezado Leonardo,
    tenho lido e estudado bastante sobre a religião, sua origem, aquisição desse pensamento por pessoas de diversos níveis intelectuais, e o desfecho depois de muito refletir, coloco-me numa posição de cético. A origem do termo Deus remonta os primórdios da existência humana, principalmente o antropocentrismo humano. Em seus comentários foi citado o filósofo Wittgenstein – estou lendo o tratado lógico filosófico desse pensador. Fazendo um comparativo do aspecto linguístico com o filosófico, a construção ou semântica da comunicação coloca-nos diante de um sistema que extrai significados do próprio sistema, ocorrendo certa redundância. Estendendo esse pensamento para a religião, Deus não seria apenas um construto – assim como Wittgenstein sugere, para que possa existir uma explicação metafísica para o mundo, como alternativa à explicação científica?
    Outro ponto também seria uma alternativa psicológico/emocional como proposição ao uso da razão para extrair significados do existencial, ou do plano real como seus textos sugerem?
    Bem sabemos que a teoria da evolução é correta e a origem do ser humano é apenas uma consequência dos fatores hora pré-estabelecido no protoplaneta terra. Diante deste fato, Deus não seria apenas um placebo para que os crentes possam ter um conforto psicológico/emocional diante das adversidades da vida?
    Outra pergunta que não cala é: como o pensamento religioso pode sobreviver em um mundo que é cada vez mais tratado e expandido pela tecnologia, e pelo visto, todo o nosso contato com esse mundo (sua realidade imediata), são preenchidos com informações que transcendem todo a gama de possibilidade tais como: existência de vida em outros planetas, expansão do ser humano para viver fora do planeta terra, em marte ou nas viagens espaciais. Não seria uma arbitrariedade e senso comum, achar que a espiritualidade nua e cria vá determinar algo de concreto no futuro tecnológico do ser humano? Abs.

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    • A emergencia de Deus na consciencia humana é um fato da evolução. Não se pode pensar Deus fora deste processo,como algo inventado pela metafisica. Memso que fosse seria um produto propro universo. A opinião de não poucos cosmólogos (veja Brian Swimme e outros) é que a universo evolui a tal ponto de criar consciência e esta evoluiu até identificar aquele Energia soberana que tudo sustenta e alimenta todos os seres. Dizem por ai que é isso que Deus significa. Eu sou desta mesma opinião
      lboff

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      • Prezado Leonardo,
        concordo plenamente com a proposição de que o universo evoluiu ao ponto de gerar uma consciência – como a nossa, entretanto, afirmar que poderia existir uma protoconsciência, anterior ao universo (Deus), evidência necessária para que possamos chegar à veracidade da existência de Deus, é uma incógnita, pois não temos como saber?
        A teologia e metafísica, afirmam categoricamente que Deus existe, mas não há verificabilidade plausível nessa afirmação. Foi construída uma crença a partir do psicológico humano e não temos nem ao menos como verificar essas afirmações.
        Hoje as crenças são mantidas em razão de haver uma união dita espiritual que abrange toda a extensão do gênero humano, mas o progresso humano segue em outra direção, estamos vivenciando uma expansão não somente material, mas da própria consciência em relação aos assuntos universais, não vejo como sustentável as afirmação sem falseabilidade, da existência de uma protoconsciência universal!

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  10. Caríssimo Leonardo,

    Tenho uma coluna num jornal que circula na região de São Carlos – SP. Procuro sempre despertar a reflexão das pessoas para a necessidade de buscarmos a construção de um mundo com mais humanidade, vislumbrando, sempre, a possibilidade da conquista de um mundo melhor. Seus livros e epístolas frequentemente são citados, como não poderia ser diferente. Sempre, caro Leonardo trás alívio e reforço ao místico em nossa alma que não quer calar. Aprecio muito a filosofia Vaishnava, O Sri Isopanisad e tantos outros textos que acrescentam, num universo em desencanto. O Papa Francisco nos trás novo alento, “nova” fé e esperança, num suspiro bem mais próximo do aroma do Cristo e Senhor nosso. Você, Leonardo, desvela aquilo que parecia oculto mas ansioso em desvelar-se, em mostrar-se e dar-se ao encanto.
    Particularmente, nunca esquecerei a frase que me arrefece a alma: “Se tua consciência te condena, saiba que Ele é maior que a tua consciência!”
    Obrigado, Leonardo.
    Seu irmão em Jesus Cristo Libertador.

    Márcio Bertuga

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  11. A sociedade atual está sendo sufocada pelo excesso de materialismo, e por um modismo do politicamente incorreto, estamos alcançando o limite da exaustão moral, vejo também uma busca pela espiritualidade, mas também enxergo um crescente antagonismo à esta busca, talvez estejamos presenciando um momento que signifique um divisor de águas na sociedade.

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  12. Caro pastor, permita chamá-lo assim, não concordo com a ideia de um retorno do religioso. Nunca fomos seculares, como nunca fomos pós modernos. O mundo é religioso, se no ocidente tivemos um hiato iluminista que quis ser ateu e sem religião, mesmo esta tentativa fracassou. O capitalismo é religioso, assim como o socialismo e o comunismo. A ciência pretendeu substituir Deus na condução ao paraíso em uma utopia messiânica e escatológica. Enfim, como chamar o que está ocorrendo como “volta”? o ser humano cria religião, precisa dela para construir suas sociedades e manter suas fantasias. sem religião não há vida e não há morte. A mundanidade é religiosa como o é o misticismo…

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  13. Meu querido amigo Frei Leonardo Boff.Primeiro lugar peço-lhe permissão de tal intimidade, mas é assim que me sinto diante de seus textos: um querido e maravilhoso amigo que escreve pra outro amigo. Seus textos me permite viajar para o que denominou o filósofo Ernst Bloch chamava de princípio esperança: Sou invadido por esperanças, acreditar que pode ser diferente a nossa vida… Obrigado….Wilson Vilhena

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  14. Boa noite meu querido… Li o texto acima, interessante. Mas não consigo ver Deus senão como uma resposta humana para todas as perguntas sem respostas. Pra mim, Deus é uma crença. Ele existe para quem crer. Admiro quem acredita, mas eu não consigo. De qualquer forma o texto foi prazeroso, bem escrito. A fé que eu tenho é exatamente o sinônimo de esperança. É uma esperança confirmada, avalizada. Crer é nato do ser humano. A religião é que codifica, organiza e impõe essa crença. Por exemplo, eu acredito que a goiabeira no fundo do quintal me escuta, e eu falo com ela, e se ela me entende ou não, eu sou livre para crer ou não também. Esse deveria ser o fator religioso no mundo, que quando livre, poderia ira aonde quisesse. Mas não. Tem-se de criar ambientes, conceitos e um lugar para ancorá-lo. Abraços.

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  15. Excelente análise! Devemos sim combater o fundamentalismo, mas estarmos abertos ao universo religioso sadio

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  16. Ótimo texto! Boa síntese e bem articulado. Gosto do assunto apesar de meus parcos conhecimentos no campo da teologia. Acredito, entretanto, que os pensadores supracitados (Conte, Marx, Freud, Weber) não estavam equivocados por tentar explicar o fator religioso, mas sim, por acreditarem que a razão humana pudesse explicar todos os fenômenos que permeiam a natureza e do homem. E isto, apesar de perfeitamente compreensível – face ao surgimento e predomínio do pensamento moderno na época em que viveram- continua sendo bastante atual, ofuscando, de certa maneira, a percepção sobre a existência de limites da própria racionalidade.

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  17. Estimado ser humano Boff (ser humano me parece ser a maior de todas as distinções que alguém pode receber), gostaria de contribuir com o excelente debate, lembrando que no início do século XIX, Hegel, com a sua Fenomenologia do Espírito também já denunciava a carência em que o espirito humano havia se afundado. Assim creio que seja fundamental a hercúlia luta que empreendemos contra os ditames não técnicos ou científicos, pois estas são ferramentas (não estão sobre juízo de valor) mas o que devemos julgar muito bem é o tipo de utilização que fazemos, e que somos encorajados a fazer destas ferramentas, que se bem utilizadas podem salvar vidas, amenizar sofrimentos, e nos ajudar como seres humanos.

    Fraterno abraço!

    Artur Júnior dos Santos Lopes
    ser humano

    7 – [Wird die Erscheinung] Tomando a manifestação dessa exigência em seu contexto mais geral e no nível em que presentemente se encontra o espírito consciente-de-si, vemos que esse foi além da vida substancial que antes levava no elemento do pensamento; além dessa imediatez de sua fé, além da satisfação e segurança da certeza que a consciência possuía devido à sua reconciliação com a essência e a presença universal dela – interior e exterior. O espírito não só foi além – passando ao outro extremo da reflexão, carente-de-substância, de si sobre si mesmo – mas ultrapassou também isso. Não somente está perdida para ele sua vida essencial; está também consciente dessa perda e da finitude que é seu conteúdo. [Como o filho pródigo], rejeitando os restos da comida, confessando sua abjeção e maldizendo-a, o espírito agora exige da filosofia não tanto o saber do que ele é, quanto resgatar, por meio dela, aquela substancialidade e densidade do ser [que tinha perdido].
    Para atender a essa necessidade, não deve apenas descerrar o enclausuramento da substância, e elevá-la à consciência-de-si, ou reconduzir a consciência caótica à ordem pensada e à simplicidade do conceito; deve, sobretudo, misturar as distinções do pensamento, reprimir o conceito que diferencia, restaurar o sentimento da essência, garantir não tanto a perspicácia quanto a edificação. O belo, o sagrado, a religião, o amor são a isca requerida para despertar o prazer de mordiscar. Não é o conceito, mas o êxtase, não é a necessidade fria e metódica da Coisa que deve constituir a força que sustém e transmite a riqueza da substância, mas sim o entusiasmo abrasador.
    8 – [Diese Forderung] Corresponde a tal exigência o esforço tenso e impaciente, de um zelo quase em chamas, para retirar os homens do afundamento no sensível, no vulgar e no singular, e dirigir seu olhar para as estrelas; como se os homens, de todo esquecidos do divino, estivessem a ponto de contentar-se com pó e água, como os vermes. Outrora tinham um céu dotado de vastos tesouros de pensamentos e imagens. A significação de tudo que existe estava no fio de luz que o unia ao céu; então, em vez de permanecer neste [mundo] presente, o olhar deslizava além, rumo à essência divina: a uma presença no além – se assim se pode dizer.
    O olhar do espírito deveria, à força, ser dirigido ao terreno e ali mantido. Muito tempo se passou antes de se introduzir na obtusidade e perdição em que jazia o sentido deste mundo, a claridade que só o outro mundo possuía; para tomar o presente, como tal, digno do interesse e da atenção que levam o nome de experiência.
    Agora parece haver necessidade do contrário: o sentido está tão enraizado no que é terreno, que se faz mister uma força igual para erguê-lo dali. O espírito se mostra tão pobre que parece aspirar, para seu reconforto, ao mísero sentimento do divino em geral – como um viajante no deserto anseia por uma gota d’água. Pela insignificância daquilo com que o espírito se satisfaz, pode-se medir a grandeza do que perdeu.

    pp. 24ss

    HEGEL, GWF. Fenomenologia do Espírito. Vozes. 1807

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  18. Deus Existe? Alguns aqui questionam isso. Oras, você não pode ver e colocar a célula do sentimento Amor que recebe ou sente por alguém querido,em um microscópio, mas você percebe, sente, confia em tal sentimento. Na minha humilde opinão, assim também é com Deus. Não podemos vê-LO, mas se estivermos com nosso espiríto aberto a Ele, sentiremos sua força e seu significado, tanto na dor, como na alegria, independentemente de crença que seja seguida ou não, pois Deus é para todos, contudo a religião é um instrumento para nos aproximarmos ainda mais Dele.

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  19. Caro Frei Beto que belo texto.
    Sei que o Senhor veio discutir apenas o aspecto da religião na vida do homem nesta fala. Mas permita-me mostrar a minha fé, por favor, e não estou aqui querendo impor o meu lado. Só estou querendo dizer que a razão de hoje eu ter uma religião e ser firme é Ele, Jesus Cristo que disse que para que eu chegasse ao Pai ele era o caminho, como escrito em João 14: 6 – Disse-lhe Jesus, Eu sou o caminho, e a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai, senão por mim.
    Frei Beto , Este Jesus teve tanto amor por mim e pelo mundo, a ponto de se dar totalmente e, com isso nos deu vida e vida em abundancia, é por isso que hoje sou muito grata.
    Frei o seu texto me deu força para não me envergonhar desse Evangelho de Cristo, mas ser firme e forte, mesmo que às vezes seja um grande escândalo dizer isto, pois sei que para os que somente cultivam a razão isto é loucura.
    Um grande abraço e muito obrigada.
    Márcia Eler

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  20. Sensível, denunciante e transformante.
    Temo que em tempos de pós-modernidade o sentimento religioso (religar, reaproximar a Deus e ao próximo) seja confundido com o proselitismo denominacional. A fé sempre terá seu espaço no humano que diariamente somos e nos tornamos, pois a longanimidade é da natureza humana infelizmente abafada no último século pela racionalidade cega que gerou por exemplo duas guerras mundiais além de milhões de famintos em todo o mundo.
    Penso que fé e razão não se excluem, mas trata-se do cumprimento em nós mesmos da convivência necessária, de polos que as vezes se repelem e quase nunca se atraem.

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  21. Leonardo, não concordo com a ideia de que o Deus judaico-cristão possa ser bom e justo. Faço minhas as palavras do teórico russo Mikhail Bakunin, presente na obra “Deus e o Estado”:

    “O Deus dos judeus, déspota ciumento, egoísta e vaidoso, (…), não podia suportar o culto do Estado. Adorado, nunca exigiu dos judeus, tanto coletiva quanto individualmente, senão sacrifícios para ele mesmo, nunca para sua coletividade ou para a grandeza e para a glória do Estado.
    De resto, os mandamentos de Jeová, tais como nos são transmitidos no Decálogo, dirigem-se quase exclusivamente ao indivíduo: só fazem exceção aqueles dentre eles cuja execução ultrapassa as forças de um indivíduo e exigiria o concurso de todos: por exemplo, a ordem tão singularmente humana que prescreve aos judeus extirpar até o último, incluindo as mulheres e as crianças, todos os pagãos que encontrassem sobre a terra prometida, ordem verdadeiramente digna do Pai de santa Trindade Cristã, que se distingue, como se sabe, por seu amor exuberante por esta pobre espécie humana
    Todos os outros mandamentos dirigem-se unicamente ao indivíduo: não matarás (exceto nos casos muito frequentes que eu mesmo ordenarei, deveria ter acrescentado); não roubarás nem a propriedade nem a mulher do próximo (considerada, de uma certa forma, também como uma propriedade); honrarás pai e mãe. Mas sobretudo tu me adorarás, a mim, o Deus ciumento, egoísta, vaidoso e terrível e se não quiseres sofrer a minha cólera, cantarás em meu louvor e rastejarás eternamente diante de mim”.

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    • William
      Não vejo nenhuma autoridade em Bakunin para fazer semelhante critica que está marcada de falta de conhecimento serio dos textos e da historia do povo de Israel.
      lboff

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      • Acho, caro filósofo, que um pintassilgo não precisa ser autoridade para soltar seu gorjeio.

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