O freio de mão puxado que trava a economia brasileira: L. Dobwor

Ladilau Dowbor é professor titular do departamento de pós-graduação em economia e adminitração da PUC – São Paulo. Dutorou-se em Lausanne na Suiça e em Varsóvia na Polônia. É um conselheiro apreciado em muitas instituições nacionais e internacionais como a ONU. É autor de uns 40 livros e inumeráveis artigos. Dos livros ressalto “A formação do capialismo brasileiro”, Brasiliense 2010 e “Democracia econômica”Vozes 2008. Publico este artigo, por ser orientador em questões econômicas que tem a ver também com o cotidiano de nossas vidas. Não deixem de consultar seu artigo mais longo mas muito esclarecedor: Lboff

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Não se assuste por favor com alguns números, pois não são complicados. Trata-se mais ou menos das mesmas contas que fazemos em casa, só que alguns zeros a mais. Mas a lógica é a mesma, não há muito mistério.

O PIB do Brasil é, arredondando, de 5 trilhões de reais. O que significa que para aumentarmos o PIB em 1%, precisamos aumentá-lo em 50 bilhões. Como somos 200 milhões de brasileiros, isto significa que produzimos algo como 25 mil reais por ano por pessoa, cerca de 2.100 reais por mês. Ou seja, com o que produzimos hoje podemos viver com cerca de 8.400 reais por mês por família de 4 pessoas. Em outros termos, o que produzimos hoje dá para todos vivermos de maneira digna e confortável.

Por quê então tanta gente pobre? Naturalmente porque há uma imensa concentração de renda (o que ganhamos a cada ano), e de patrimônio (casa, carro, aplicações financeiras e outras formas de acumulação de riqueza). Basicamente, o 1% das famílias mais ricas detém dois terços da riqueza acumulada no país. E os 10% mais ricos recebem anualmente quase a metade da renda, que transformam em mais patrimônio. Este mecanismo gerador de desigualdade constitui o principal desafio que temos pela frente.

A partir de 2003, gerou-se uma política econômica inovadora, no sentido de um mecanismo bem comprovado na economia: ao se redistribuir a renda, aumentando os salários, os empregos formais, a cobertura da previdência, o acesso à eletricidade e generalizando o bolsa família para as faixas mais pobres, aumentou-se o consumo do andar de baixo da sociedade, o que por sua vez estimulou os produtores de bens e serviços, resultando numa dinâmica de desenvolvimento da economia e de geração de empregos. Quase 40 milhões de pessoas saíram da miséria. Melhor para a sociedade, melhor para a economia.

Mas o processo gerou os seus aproveitadores. Milhões de pessoas passaram a comprar, por exemplo, a sua primeira geladeira, a televisão e outros bens e serviços. Como passaram a ter mais renda, mas a partir de um patamar muito baixo, são pessoas que iriam comprar a prazo, buscando a prestação que “cabe no bolso”. Aproveitando a ocasião e o pouco conhecimento do mecanismo de juros por parte da população, grandes intermediários financeiros passaram a enxugar esta nova capacidade de compra, travando o processo.

Vejam o exemplo prático de uma casa que tem total dedicação a você: ao aplicar uma taxa de juros de 100%, apropriam-se de metade do valor da compra, sem ter produzido nada. Um produto que seria vendido a 600 reais a vista exige um desembolso efetivo, somando as prestações, de 1200 reais. Sem ter produzido nada, além de esperar o cliente e entregar o produto. A família compra pouco no total do ano, mas se endivida muito.

Estão facilitando? Sem dúvida, pois a família não teria como pagar a vista. Mas precisa cobrar 100%, ganhando muito mais inclusive de quem produziu o produto, o empresário produtor? Nada como comparar as coisas. A rede MediaMarkt que se estende por toda Europa, com produtos semelhantes ao exemplo brasileiro, cobra cerca de 13% ao ano numa compra a prazo. Ou seja, um produto de 600 euros, por exemplo, é vendido a prazo, em 18 meses, por um valor total de 699,38 euros, com 18 prestações de 38,85 euros. Arredondando, 700 euros, e não 1200. E estão ganhando bem. Os ganhos com juros dos crediários no Brasil estão gerando bilionários, mas absorvem a capacidade de compra da população, e travam a economia, pois nem a família pode comprar muito, nem o produtor pode investir mais.

Aqui, vimos os juros dos crediários. Se acrescentarmos o cartão de crédito (238% ao ano contra cerca de 16% ao ano nos EUA), o cheque especial na faixa de 160%, o crédito para pessoa física, o crédito para pessoa jurídica e outros números semelhantes, no conjunto temos uma imensa sangria da economia através dos juros, que a maioria das pessoas não entende. Inclusive, para confundir, apresenta-se o juro mensal porque as pessoas não sabem calcular o juro efetivo anual.

O resultado prático é que todo o esforço de se dinamizar a economia brasileira pela base, pelo consumo de massa, restabelecendo um mínimo de justiça econômica e social, está sendo travado pela captação, por intermediários que não produzem nada, mas enriquecem de maneira impressionante. Basta considerar que o crédito representa quase 60% do PIB no Brasil, para se ter ideia da dimensão do entrave.

E assim temos um PIB travado, mas uma taxa de emprego muito alta. Porque os brasileiros estão trabalhando muito, mas o resultado é drenado por intermediários financeiros que em vez de fomentar investimentos, aplicam na dívida pública, sendo remunerados pela taxa Selic, ou em paraísos fiscais no exterior, e neste caso não só não estão fomentando a economia, como se colocam ao abrigo dos impostos que deveriam pagar, como é o caso por exemplo do Itaú e do Bradesco com as suas contas em Luxemburgo.

Resumindo, trata-se aqui de um dos principais mecanismos econômicos, e que explica grande parte da redução da dinâmica econômica. Na versão da mídia, trata-se de um excesso de gastos do governo. Na versão real, trata-se da praga da financeirização da economia que está travando não só o Brasil como grande parte da economia mundial.

O texto anexo tem 10 páginas, não mata ninguém, não faz contas mais complicadas do que os que toda dona de casa faz para equilibrar o orçamento familiar. Como se trata do nosso dinheiro, das nossas contas públicas, e como temos de assegurar que o país funcione, da mesma forma com que tomamos conta do dinheiro da nossa família, é importante que você entenda o mecanismo. E passe a pressionar para que economia volte a funcionar de maneira equilibrada. Tem de ser bem remunerado quem contribui para a economia do país, e não quem vive cobrando pedágio sobre o trabalho dos outros.

A versão mais detalhada e técnica se encontra no seguinte blog:

http://dowbor.org/2014/12/ladislau-dowbor-o-sistema-financeiro-atual-trava-o-desenvolvimento-economico-do-pais-setembro-2014-11p.html/

Visitem também a rica “biblioteca científica virtual”, cujo link é http://dowbor.org

e-mail do autor: ldowbor@gmail.com

 

18 comentários sobre “O freio de mão puxado que trava a economia brasileira: L. Dobwor

  1. ME ES IMPOSIBLE ENTENDER COMO UN PAÍS CON SOL TODO EL AÑO, COMO BRASIL, INTENTA DESESPERADAMENTE DE COPIAR EL SISTEMA ECONÓMICO DE PAÍSES CON INVIERNOS IMPIADOSOS
    SI PUDIERA HABLAR CON DIOS LE PEDIRÍA QUE ME REENCARNASE EN UN BAHIANO, PERO CONSCIENTE QUE POR ESE SOLO HECHO SOY “MULTIMILLONARIO”
    YA QUE DE LO CONTRARIO ME CONVENCERÍAN DE QUE SOY POBRE Y ME LLEVARÍAN A SAO PAULO PARA EXPLOTARME
    EL SISTEMA PRODUCTIVO IMPUESTO (A SANGRE Y FUEGO) POR OCCIDENTE ES POR DEFINICIÓN ESENCIALMENTE INJUSTO
    EL “ESTADO DE BIENESTAR” ES APENAS UNA FICCIÓN “PER LE GALERI” QUE SOLO, Y TAN SOLO, FUNCIONA CON FRONTERAS MEDIANTE…
    CREER QUE CON ESE CAPITALISMO ( O SU “ETAPA SUPERIOR”, EL SOCIALISMO…) SE PUEDE LLEGAR A LA JUSTICIA SOCIAL, ES DESCONOCER LA ESENCIA MISMA DE LA LEY UNIVERSAL DE LA ENTROPÍA ¿O NO?

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  2. O grande obstáculo ao progresso é a prevalência do interesse pessoal, em detrimento do interesse coletivo que, atendido distribui tudo equanimemente. Mad o que se quer é LUCRAR MUITo, INVESTIR O MENOS POSSIVEL, PAGANDO O MENOR SALÁRIO POSSÍVEL.

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  3. Não li o texto todo, mas a parte que eu li deu para reparar que querem blindar o Governo, (responsável pelo índice dos juros), isentando-o de cortar gastos, já que a culpa é dos grandes intermediários financeiros. Até parece que o Governo não pratica gastos excessivos, deve ser por isso que o Governo cedeu aumento aos parlamentares…

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  4. Sabe, Leonardo, sou só uma professora de música que nunca se conformou com muito do que via e ouvia e resolveu estudar mais, porque achou que devia haver outros modos de resolver certos impasses “pedagógicos”. Daí, muitos anos depois, aprendeu muito e muito mais deverá aprender para se entender e às pessoas que não são ruins ou ignorantes, mas não optaram por descobrir o que está por trás das coisas que se naturalizam, mesmo injustas. Excelente sua produção e também a seleção e divulgação de textos como este, de Ladislaw Dowbor. Sinto que preciso conseguir falar e me fazer entender e vou continuar nesse objetivo. O humano é professor desde sempre. O senhor, um grande professor!

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  5. Deixemos de ser ignorantes…vamos deixar o futebol,novelas…é melhor cair do 3º andar do que das nuvens…bora Brasil…vamos viver uma vida com sabedoria…

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  6. É em razão disso que costumo dizer: vocês, bancários, não passam de almofadinhas inseguros a serviço dos grandes agiotas, insensíveis e gananciosos.

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  7. E lamentável que em nosso país poucos se proponham a ler e muitos a emitirem “opiniões” sem conhecimento de causa. O artigo, de maneira clara, põe o “dedo na chaga” da economia mundial, que nada mais é do que sua financeirização com profunda repercussão, hoje, na economia da maioria dos países, independente de seu nível de estabilidade. Parabéns pela maneira como o assunto foi abordado.

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  8. A taxa de juros é um produto de mercado, e como todo produto é regulado pela universal lei da demanda e oferta.
    Ninguem paga R$100,00 por uma duzia de bananas, simplesmente porque existem produtos substitutos por preço bem menor.
    Se tem gente que paga 120% de juros é porque existe muita demanda por empréstimo e pouco dinheiro no mercado. Na Europa a taxa de juros é 13% porque o livre mercado só permite a cobrança dessa taxa, não é porque as instituições de credito são mais boazinhas do que aqui existentes.
    É simples assim, as instituições são empresas comerciais e visam lucro e não vão fazer caridade com um produto altamente escasso.
    Não cabe xingar as instituições de credito e sim o governo que deveria intervir oferecendo credito para população de baixa renda para comprar produtos de bens duráveis. Ao contrario esse governo, dito popular, enfia dinheiro em obras faraônicas através do BNDES em “estádios do Corinthians”, porto em Cuba, compra de refinarias no exterior e vai ai por diante.
    Não vamos tapar o sol com a peneira!

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    • Concordo. O país tem essa taxa de juros pq o GOVERNO FEDERAL paga juros próximos SEM RISCO aparentemente….
      O extra cota que cobram aí sim é ganância pura e especulação capitalista.
      Não existem tontos nesta equação. .. o ser humano (com excesoes) é acumulador por ativismo dos tempos de penúria.
      Nada pode ser rwsumido de forma simplista. O argumento é belo e incompleto, portanto refutavel

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