A dor dos que perdem tudo sem terem nada

Os frades franciscanos do Convento São Francisco no Largo São Francisco, no coração de São Paulo, sempre têm dado assistência aos moradores pobres dos muitos edifícios velhos e abandonados que existem ao seu redor. Tem acompahado o drama das famílias que vivem em condições precaríssimas. Aqui vai a solidariedade do Superior geral (Provincial) da Província da Imaculada Conceição que vai do Espírito Santo até Santa Catarina com centenas de membros. Suas palavras de solidariedade e convocação à assistência das vítimas leva este expressivo  título:“A dor dos que perdem tudo sem ter nada”. Vai aqui também a minha solidariedade. LB0ff

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“O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia: o que vos é dito aos ouvidos, proclamai-o sobre os telhados” (Mt 10,27)

Na madrugada deste dia 01 de maio de 2018, de antemão marcado pelos piores índices dos últimos tempos em termos de trabalho e emprego, pelo crescimento galopante dos números relativos à miséria em nosso país e por ameaças nunca antes vistas à democracia e aos direitos dos trabalhadores, os moradores do centro de São Paulo ouviam, sobre seus telhados, o girar frenético das hélices dos helicópteros a anunciar grande tragédia que recaía sobre um grupo daqueles que não possuem um telhado. Era o incêndio de um prédio abandonado de 26 andares, no Largo Paissandú – de propriedade do Governo Federal e ocupado por 150 famílias – que vinha abaixo por inteiro depois de iniciado um incêndio poucas horas antes.

Ainda não se sabe com exatidão o número de mortos e feridos. Todos os que ali estavam eram pobres, sem teto, anônimos, sujeitos ao abandono e à indiferença do poder público e à terrível exploração daqueles que se locupletam a partir da miséria alheia em todos os níveis. Criança, jovens, idosos, mães, trabalhadores informais e subempregados experimentando mais uma vez a dura dor de perderem tudo mesmo sem terem nada.
Em nome dos franciscanos de nossa Província, comprometo-me, em primeiro lugar, a incluir em minhas orações as vítimas desta terrível tragédia, assim como aqueles que tiveram de deixar suas casas.

Oro também por todos que se mobilizaram no socorro dos atingidos. Manifesto ainda meu apoio incondicional a todos os Movimentos Sociais que lutam com firmeza e honestidade pela garantia do direito a moradia digna e segura para todos. Faço um apelo aos confrades e trabalhadores de nosso Serviço Franciscano de Solidariedade (Sefras) que mantenham-se em comunhão com todos os envolvidos nesta causa e se coloquem a serviço para auxiliar no socorro das necessidades mais imediatas e mantenham-se firmes no apoio a esta luta por moradia.

Desejo também colocar-me em solidariedade com a Comunidade da Igreja Evangélica de Confissão Luterana de São Paulo, que teve seu templo histórico praticamente destruído neste incêndio. Abraço a todos na pessoa do Pastor Carlos Ludwig e peço a nossas paróquias franciscanas de São Paulo que se articulem em ações de ajuda concreta àquela comunidade.

Encerro esta mensagem conclamando todos à esperança para, juntos, prosseguirmos na luta pela construção de um mundo mais conforme aos sonhos de Deus, com “nenhuma família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos” (cf. Papa Francisco, Encontro Mundial de Movimentos Populares, Bolívia, 2014). Que das cinzas e dos escombros possa nascer uma nova consciência de solidariedade, fraternidade e paz.

Com estima fraterna,
Frei Fidêncio Vanboemmel, ofm
Ministro Provincial

5 comentários sobre “A dor dos que perdem tudo sem terem nada

  1. situação lamentável… mas quem vive em prédios é obrigado a ter seguro residencial e coisas do tipo, eles estavam à margem da lei?

    e o fato de muitos nem serem os invasores originais, e sim inquilinos que pagavam alugueis para morarem em propriedades invadidas?

    foi uma gigantesca tragédia, mas, infelizmente, é o mais puro espelhamento da situação do Brasil construída ao longo de tantos anos.

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  2. Essa tragédi trás consigo no lastro de toda dor que provoca, a face oculta da maior metrópole do país. Mostra seus pobres, seus marginalizados, mostra como vivem como subsistem na Cidade sem coração, na Cidade do capital insano por fim após face da capital da solidão da América Latina.

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