No Ceará houve gravíssimos ataques a dezenas de cidades, além da capital Fortaleza,com prejuízos incalculáveis e pavor difundido na população, ataques estes praticados pelas facções criminosas a partir de dentro das prisões. O fato é de uma maldade espantosa, incontrolável apenas com as forças policiais do estado do Ceará. Foram convocadas as forças especiais nacionais e de vários estados para enfrentar esta calamidade, ainda em curso. No entanto, no afã de debelar esta verdadeira insurreição das facções criminosas, forças do estado e nacionais transferiram aprisionados de 70 instituições penais para outro lugar. Isso foi feito à custa do desrespeito dos direitos fundamentais humanos, deixando os familiares, as esposas, os filhos e outros desesperados por não saberem para onde foram levados nem em que endereço poderiam encontrá-los e visitá-los. Em razão disto, condenando peremptoriamente os ataques criminosos das facções, saimos em defesa dos direitos irrenunciáveis dos presidiários e de seus familiares. Um estado democrático de direito não pode usar meios que desrespeitam os direitos dos cidadãos, mesmo em situação prisional e em consideração das angústias e dos sofrimentos dos familiares. Muitas são as subscrições de pessoas de diferentes áreas, todas comprometidas com a dignidade humana, especialmente neste momento em que nossa democracia sob uma administração central discricionária e ameaçadora dos direitos dos trabalhadores, dos indígenas, dos quilombolas, dos negros e dos LGBTI são diretamente ameaçados. LBoff
SOLIDARIEDADE AOS PRESIDIÁRIOS E SEUS FAMILIARES NO CEARÁ
“O Espírito do Senhor está sobre mim.
Enviou-me para proclamar a libertação aos presos”
(Lc 4,18)
Com essa afirmação, Jesus explica a sua missão e interpela a todas as pessoas que querem segui-lo como discípulos e discípulas. Não podemos assistir passivamente ao que está acontecendo nas prisões brasileiras, como se isso nos fosse indiferente.
Qualquer pessoa que conhece a realidade sabe que o sistema prisional brasileiro está falido e desestruturado. Segundo dados oficiais, o Brasil tem a terceira maior população carcerária do mundo. Dos presos, mais da metade é constituída por jovens menores de 30 anos, em sua maioria pobres e negros e com baixo grau de instrução escolar. Quase a metade está em situação provisória, constituída de pessoas que ainda não foram julgadas ou nem sequer ouvidas e indiciadas.
Nesses dias, as autoridades penitenciárias do Ceará removeram abruptamente os presos de mais de 70 cadeias do interior do Estado e os levaram, sem que as famílias saibam exatamente para onde nem até quando irá durar essa transferência. Os que têm problema de saúde e tomam remédio controlado sequer puderam levar seus medicamentos. Ninguém sabe nada nem tem a quem apelar. Sem falar que os presídios do Estado já estavam superlotados antes dessas transferências. É uma situação que desrespeita os direitos humanos dos presos e de suas famílias que se sentem ainda mais divididas e abandonadas à própria sorte. E tudo isso com o silencio e cumplicidade da mídia e dos órgãos de justiça. Verdadeiro estado de exceção.
Diante disso, quem é cristão, além de lutar pacificamente pela justiça e pelo cumprimento dos direitos humanos, denuncia que toda essa estrutura social é iníqua e que essa política de segurança atenta contra os direitos humanos. Acreditamos na possibilidade de organizar a sociedade a partir de outras bases de convivência e de humanidade. Defendemos a Justiça restaurativa que, num trabalho educativo, possibilite a pessoa que errou reconstruir a própria vida, na medida do possível, reparar o mal que praticou e pedir perdão às vítimas dos seus atos. O Estado não pode ser refém do crime organizado, mas, em nome do combate ao crime organizado, não pode violar os direitos humanos dos presos e seus familiares sem se transformar num estado criminoso.
Por isso, dirigimo-nos às autoridades penitenciárias e ao próprio governo do Ceará, bem como às autoridades de Brasília pedindo que revejam sua postura autoritária e contrária às leis brasileiras e internacionais. Elas garantem aos presidiários o direito à assistência por advogados e a visita da família e dos que lhe são próximos, bem como o acompanhamento de organismos de direitos humanos e grupos religiosos. É isso que nessa conjuntura brasileira esperamos de um governo estadual, eleito em nome da Democracia e dos Direitos Humanos, bem como das autoridades de Brasília.
A paz e a segurança social nunca ocorrerão através de simples medidas repressivas. Como já afirmava o profeta Isaías: “A paz é fruto da justiça” (Is 32). Estamos convencidos de que quando aceitamos ser desumanos com as pessoas mais frágeis, os primeiros prejudicados somos nós mesmos. A dureza que usamos com os outros nos desumaniza e nos priva do melhor que existe dentro de nós mesmos.
Toda nossa solidariedade aos presidiários e seus familiares, bem como à pastoral carcerária, aos organismos de Direitos Humanos e aos grupos e pessoas que estão empenhados da defesa de seus direitos.
Subscrevem:
Francisco Aquino Júnior – Padre, teólogo, professor da Faculdade Católica de Fortaleza e da Universidade Católica de Pernambuco (Limoeiro do Norte – CE)
Afonso Murad – Irmão marista, teólogo, professor da FAJE: Faculdade Jesuita de Filosofia e Teologia (Belo Horizonte – MG)
Benedito Ferraro – Padre, teólogo, assessor da Pastoral Operária de Campinas e da articulação continental das Cebs (Campinas – SP)
Frei Betto – Frade dominicano e escritor, assessor de movimentos pastorais e sociais (São Paulo – SP)
Aurelina Cruz Carias – Educadora e coordenadora do Museu Vivo do São Bento (Rio de Janeiro – RJ)
Celso Pinto Carias – Teólogo, assessor nacional das CEBs (Rio de Janeiro – RJ)
Cesar Kuzma – Teólogo, professor de teologia da PUC-Rio (Rio de Janeiro – RJ)
Chico Alencar – Deputado federal, professor de historia da UFRJ e escritor (Rio de Janeiro – RJ)
Edson Fernando de Almeida – Pastor emérito da Igreja Cristã de Ipanema, professor da UFJF (Juiz de Fora – MG)
Edward Guimarães – Professor e secretário executivo do Observatório da Evangelização – PUC Minas (Belo Horizonte – MG)
Ivo Lesbaupin – Sociólogo, professor aposentado da UFRJ, coordenador do Iser Assessoria (Rio de Janeiro – RJ)
Maria Tereza Bustamante Teixeira – Médica sanitarista (Juiz de Fora – MG)
Faustino Teixeira – Professor no Programa de Pos-Graduação em Ciência da Religião da UFJF (Juiz de Fora – MG)
José Oscar Beozzo – Padre, teólogo, coordenador geral do CESEEP: Centro Ecumênico de Serviços à Evangelização e Educação Popular (São Paulo – SP)
Marcia Miranda – Centro de Defesa dos Direitos Humanos (Petrópolis – RJ)
Leonardo Boff – Teólogo, escritor, membro da Iniciativa Internacional da Carta da Terra (Petrópolis – RJ)
Lúcia Ribeiro – Socióloga, membro do Iser Assessoria (Rio de Janeiro – RJ)
Luiz Alberto G. de Souza – Sociólogo e escritor (Rio de Janeiro – RJ)
Manfredo Araújo de Oliveira – Padre, filósofo, professor da UFC (Fortaleza – CE)
Maria Clara Bingemer – Teóloga, professora de Teologia da PUC-Rio (Rio de Janeiro – RJ)
Einardo Bingemer – Advogado, administrador de empresas, coordenador de três projetos de terceiro setor (Rio de Janeiro – RJ)
Maria Helena Arrochellas – Centro Alceu Amoroso Lima (Petrópolis – RJ)
Magali do Nascimento Cunha – Igreja metodista, jornalista (Rio de Janeiro – RJ)
Claudio Ribeiro – Pastor evangélico metodista (Rio de Janeiro – RJ)
Marcelo Barros – Monge beneditino, assessor das Cebs e de movimentos sociais (Recife – PE)
Maria Tereza Sartório – Educadora popular, secretária do Movimento Nacional Fé e Política (Juiz de Fora – MG)
Pedro Ribeiro de Oliveira – Sociólogo, professor universitário aposentado, membro da coordenação do Movimento Nacional Fé e politica (Juiz de Fora – MG)
Rosemary Fernandes da Costa – Teóloga, professora da PUC-Rio (Rio de Janeiro – RJ)
Rosileny Schwantes – Psicóloga e professora de psicologia clinica da Uninove/SP (São Paulo – SP)
Sinivaldo S. Tavares – Teólogo, professor da FAJE (Belo Horizonte – MG)
Tereza Cavalcanti – Teóloga, professora de teologia da PUC-Rio, assessora das Cebs e cursos bíblicos (Rio de Janeiro – RJ)
Teófilo Cavalcanti – Economista (Rio de Janeiro – RJ)
Mathilde Cecchin – Militante de movimentos populares (Porto Alegre – RS)
Olinto Pegoraro – Filosofo e escritor (Rio de Janeiro – RJ)
Violaine de Santana – Tradutora (Genebra – Suíça)
Júlio de Santana – Teólogo metodista (Genebra – Suíça)
Luiz Carlos Susin – Teólogo, professor de teologia da PUC – Rio Grande do Sul, secretário geral do Fórum Mundial Teologia e Libertação (Porto Alegre – RS)
“Sepermanecerdes na minha palavra, sereis meus verdadeiros discípulos; conhecereis a verdade e a verdade vos livrará” (João 8,31 – 33).
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Republicou isso em Blog de Joelson Macedo.
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Agradeço sua compaixão. Não nos lembramos de todos que sofrem. Eu não creio, mas que Deus lhe abençoe por existência tão necessária a nossa gente. Grata, sempre, por o Senhor existir.
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Leila,entre as dezenas que escreveram vc. talvez seja uma das poucas que entendeu a mensagem seja do evangelho seja a cívica. Os direitos são inalienáveis. Antes de ser bandido preso ele é uma pessoa humana. A pessoa humana tem direitos irrenunciáveis. Isso todos devem defender senão voltamos à barbárie. abraço lboff
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Você poderia mostrar essa solidariedade às vítimas dos presidiários, o filho que nunca mais verá o pai, à mãe que nunca mais verá o filho, a menina de 10 anos que foi estrupada, àquele profissional que perdeu o carro, ou mesmo aquele que ficou tetraplégico…. Ou então, você poderia ir nos presídios e dar essa palavra de solidariedade pessoalmente aos chefes das facções…
Um bom dia para vocês….
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Sem ilusão! Aquilo que sempre nos distinguiu como selvagens se amplificou. Dando marcha a ré nos nossos sonhos.
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Bom dia. As pessoas que tiveram seus bens saqueados e queimados também esperam por solidariedade.
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Me desculpe pelo meu ponto de vista, mais quando criança aprendi que os meus direitos iam somente até o direito do próximo e hoje com 42 anos, estudando li um artigo da constituição federal que diz que nenhum direito do individual será maior que o coletivo. Sem falar que tô indivíduo ter o dever de proteger os direitos coletivos…
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Concordo plenamente com vocês mas não tem um cristão se quer que se disponha a ajudar os presos e seus familiares
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Eu como população cearense também espero essa mesma solidariedade pois fiquei 8 dias sem poder trabalhar por conta desses injustiçados fazendo terrorismo.
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E o direito à vida, à paz, “ao sossego” de 8, 8 Milhões de Cearenses que pagam impostos e escolheram a vida honesta, mesmo, por vezes, injusta de trabalhar, ter seu sustento e ver seus filhos crescerem na lei natural da vida?Esse coletivo não pode sobrepor o direito de uma minoria que optou pela vida do crime? A sua família que sofre?Fale de seus filhos, pois suas esposas, possivelmente, estão perdurando o continuísmo desse cnpj do crime pois nem o cego se engana com a visagem…
Tenho certeza que um ambiente de paz poderá proporcionar a esses filhos e vítimas uma melhoria nas suas condições de futuro para deixarem essa influência sanguínea, se é que a ciência possa provar que se sobrevaleça sobre o ambiente.
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Tem horas que temos que fazer opção, o isolamento do preso da família é uma chance de detenter esses criminosos. Família é sentimento e acaba cedendo aos pedidos do preso, portanto, entre o cidadão com direito de ir e vir e sua vida, fico com esta opção até a pacificação.
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É incrível o desejo de que se tem de não pagar as dívidas. Quando algum de nós toma uma decisão ou decide trilhar por um caminho temos que aceitar as possíveis consequências. Está escrito, não dá pra fugir, colhemos aquilo que plantamos.
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[…] Fonte: Solidariedade aos presidiários e seus familiares no Ceará […]
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Linda sua iniciativa de consolo aos presidiários do Ceará. O tratamento ao preso brasileiro é na base da tortura: tiram-lhe todo o direito; agora, estão falando em não lhes permitir a visita íntima, não lhes deixam comunicar-se com seus familiares e amigos, o que é isto?Tortura pura. A Constituição proíbe tortura .Deixar o Lula numa cela solitária? Acho pobre o raciocínio de que tortura ocorreu apenas no período da ditadura.Tenho fé que Sergio Moro pensará, por sua formação- ouvir as partes. O que determinou foi endurecer com os psicopatas. Foi a primeira atitude de homem público em mexer no sistema carcerário nestes últimos anos, ninguém fazia nada. O que fizeram com a possibilidade da visita da Ministra Carmén Lúcia,que é muito sensível, quando se interessou em ver de perto a realidade carcerária? Amedrontaram-na. Ela iria reagir ao deparar-se com a realidade carcerária.Ademais penso que os dirigentes atuais do governo nos acenam com o cumprimento da Constituição o que é uma esperança que nos resta e, nos ampara e fundamenta a cobrança desses direitos.Um abraço, Isabel
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